terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Endeavour




Enough on dying. Faltam cinco dias para o Endeavour nos confortavelmente depressionar e hipnotizar no seu canto "desejo mas tenho medo" de ser amado.


Chichorro

R Scrutton e o Parsifal



A morte não percebe nada de justiça e lá vai na sua cegueira ceifando a torto e a direito. válidos e inválidos, capazes e incapazes, superiores e inferiores, seres queridos ou indiferentes. Está-se nas tintas para o que os que ainda cá ficam pensam da sua recolha. Tantas vezes, unanimemente extemporânea.
Deixei passar uns dias após ela ter posto ponto final na existência deslumbrante de Roger, para ultrapassar o RIP da praxe. Pronto o Homem foi-se, mas o que nos deixou é substantivo. Morre-se mas a obra fica. Vá lá, vá lá!...
E agora resta-me aguardar pela sua visão do Parsifal, prometida para daqui a três meses. Suspiro por ela. Não para a comparar com a minha, mas para me dar pistas de enriquecimento da minha.


Chagall, song of songs

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Património desbaratado



O Estado mal gerido é um buraco negro. As provas multiplicam-se sem esforço.
Mas o que me tem estado(Estado!) atravessado é a desfaçatez com que se colocam serviços do Estado a funcionar em locais que bem podiam ser museus, tal a importância que o seu passado histórico acarreta.
Mas não, podemos dar-nos ao luxo de colocar a procuradoria geral da República no palácio Palmela e assim tapar dos olhos públicos um conjunto urbano de época que poderia ser visitado com interesse museológico. Apenas um de muitos outros exemplos, onde o Estado entrega a fruição diária de um edifício histórico a um serviço que poderia funcionar com maior eficácia num edifício moderno.
É contar e pasmar, com os edifícios do nossos rico património, entregues a serviços públicos, ou menos que isso...

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A poesia e a música




Por vezes umas quantas palavras empurram-me o pensamento para o desejo de as casar com música. Desta vez, estas vieram já acompanhadas e o resultado é superlativo.

Blue is not the colour of my voice
If I would sing in blue
 It would drain the oceans
Demolish the pale blue sky
Green is not the colour of my voice
It would deforestate the surface
 If I would be singing in green
Red is not the colour of my voice
If I would sing in red
It would be rage and bloodshed
Impossible to stop
So I sing what I sing best
Yes I sing what I sing best
Black
The blackest
Until it gets to the other side
And there's no more
No more darkness left
My voice doesn't sing to have a colour
But if I sing without a colour
I would diminish all the light
There's so much blackness in my repertoire
A lot of shadows in my arsenal
So I sing what I sing best
Yes I sing what I sing best
Black
I use up all the black
The blackest
Until it gets to the other side
And there's no more
No more darkness left"

Blixa Bargeld / Teho Teardo

Turner, Snow storm

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Amado, Manuel








Portugal pouco ama os seus, e nem na hora da despedida da vida se lembra daquele que foi o pintor da serenidade, dando.nos a percepção do invisível. Pouco amado o Amado que morreu. Ficamos sentados no seu jardim encantado.


segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Monty Python - 50 anos



Incontornável. É a palavra que me ocorre para referenciar o humor que este grupo nos trouxe há 50 anos. Que não parecem 50 anos, tal é a força de intemporabilidade que transmitem. E acima de tudo, a influência que exerceram e continuam a exercer nos nossos neurónios e nos daqueles que fazem do humor inteligente a sua forma de ver o mundo.


Keith Haring, Tree of Life

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

A Gulbenkian - 50 anos


Sou pouco dado a efemérides, ainda por cima quando elas se banalizam à tripa forra. Mas apercebi-me há dias que o complexo da Fundação Gulbenkian teve a sua inauguração em 1969. Na curva descendente do Estado Novo, o que lhe terá facilitado a vida, como farol de uma modernidade e de uma bandeira contra um regime hermético sob diversos pontos de vista.

Este último aspecto bastaria para uma certa nomenclatura balizar a data. Estranhamente ninguém fala destes 50 anos!

Vivencio a Gulbenkian há muitas décadas, tendo-me apercebido progressivamente da discreta magnificência do complexo. Posso dizer que me fui apaixonando por ele. Nunca conheci espaço mais umbilicado com a natureza, tecendo teias entre uma modernidade e um conservadorismo que não tem rival. Sinto-me tanto em casa como num espaço público, ou seja, existe uma dimensão doméstica que não nos esmaga, antes nos acolhe e conforta, e com esta se intersecta uma dimensão de fruição pública que não incomoda, antes, cativa. Desde a biblioteca ao auditório, desde os espaços museológicos aos jardins, tudo foi pensado de forma a não oprimir, antes, a acolher.

Todo o complexo faz parte, desde há cerca de três anos, da lista indicativa a património mundial da Unesco. Talvez alguém se lembre dos 50 anos para o reconhecimento. Mas pouco importa, quando esse reconhecimento está no coração de tantos.

Turner, naufrágio de cargueiro, Fundaão Gulbenkian 

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Tannhauser na colina verde


Um Tannhauser inteligente e desequilibrado, que me fez viajar entre o desespero de uma versão incompleta - tal como W disse pouco antes de morrer "Ainda devo ao mundo o meu Tannhauser"- e a sensibilidade quase colada à genialiduade da música. No saldo ficam as boas ideias de Kratzer, e a frustração de mais uma obra mal lida, malgré tout.

Bayreuth, 2019

Morrer em vida


Sonhar que se morre no sono. Pura cobardia, a de morrer sem sofrimento.
Mas será que a morte tem assim tanto significado? Claro que não, trata-se de apagar uma existência, a daquele que existiu e que não mais vai sentir o que quer que seja. Então porquê a cobardia? Porquê ser nobre morrer com sofrimento?
Expulsemos as religiões, verdadeiros demónios dentro de nós. Elas sim, o capote dos cobardes que não nos querem deixar morrer em vida, de viver a única forma digna de morrer. Ao sol.


Hopper, Woman in the sun , People in the sun

segunda-feira, 8 de julho de 2019

No peito dos desafinados também bate um coração



Percebe-se o exagero de Caetano "Melhor que o João só o silêncio e melhor que o silêncio só o João"
Fica a outra certeza do João Gilberto, a de que todos morremos, mas mais felizes porque ele nos deixou a sua musicalidade embrulhada em sensibilidade de desafinado e para desafinados.

Antony Gormley, escultura

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Afinal, o que somos nós individualmente?












 Conseguimos ter-nos de pé, na absoluta fragilidade do esqueleto abandonado pela carne. É isto que somos, mesmo quando pensamos de cócoras.

 
Antony Gromley, diversas estátuas

quarta-feira, 27 de março de 2019

Dos que morrem porque não escapam à lei da morte


Desde o seu nascimento, que sabemos que irão morrer. E morrem, ainda que a sua vida nos tivesse preenchido de alguma forma. Ainda que de tal inexorabilidade nos tivéssemos esquecido.

Têm sido tantos os que abandonaram o mundo dos vivos, tantos os que nos deixaram obras perpétuas, que seria injusto mencionar uns quantos e, por falta de espaço e de organização, olvidar outros.

Talvez um dia venha a escrever o que hoje me apeteceria se o tempo - velho inimigo - me não concede. Digo apenas isto; Scott B já se tinha unido a Jacques B. Esta semana ficaram no mesmo plano.

Almada Negreiros, arlequim, bailarina, cavalo

Nobel sem nobreza



Pois este ano o Nobel da literatura vai ser atribuído duas vezes, recuperando a patética não atribuição do ano passado (meu Deus, Jesus, Credo, os escândalos sexuais que Ninguém sabia que existiam!!!).

Ainda que eu menospreze o Prémio como sinónimo de qualidade garantida, não posso evitar a tentação de pedir um daqueles prémios para o Marias. Se atribuído, por ser um num ano de dois, certamente o outro premiado manteria os nobres holofotes sobre o cobiçado Nobel. E assim a injustiça dos justos se perpetuaria.



Afremov, desolação

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Retrocesso ou Avanço civilizacional?


Em França erradicam-se os termos Pai e Mãe, dos manuais escolares, substituindo-os por Parent 1 e Parent 2.
Brilhante retrocesso civilizacional que, de forma aparentemente simples, vai imprimir nas mentes em formação, um novo estereotipo dos seus progenitores.
Mas também um brilhante avanço civilizacional, pois resolve a equação de múltiplos Parents, já que sabemos que o ser humano tem recalcada uma certa tendência poligâmica, mas que o futuro, onde vale tudo, nos irá positivamente trazer. Já estou a imaginar os novos crimes de época: Parent 23 assassina Parent 3 por discordar da educação que este queria dar ao filho...
Que maravilha! Que admirável Mundo Novo, nunca sonhado por Huxley!

Posso não querer conhecer este novo mundo?


Keith Haring, A árvore da vida

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Regresso a um certo impressionismo






Algum Sorolla veio a Lisboa, algum impressionismo veio a Lisboa, num regresso à cidade luminosa de obras luminosas de um mestre da luz. Brevemente, será Londres a receber uma vasta retrospectiva de Sorolla. Londres bem precisa de luz.

J Sorolla, o magnífico regresso da pesca e a luminosidade de Valencia e Biarritz

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

memorabilia - que fazer com ela em vida?


Ao longo da vida acumula-se muita tralha. Grande parte inútil, porque nunca foi revisitada. Outra parte, a estimada por quem a guardou - livros, música, filmes - que fazer com ela? e quando?

Pilhas de livros e milhares de horas em música, que precisariam de uma outra vida para serem revisitados. As solicitações imediatistas ao alcance dos jovens de hoje são de tal forma enebriantes que aqueles activos nada significam. Já para não falar do valor emocional que esta ou aquela obra tiveram para o coleccionador arquivista.

Quem, hoje, olha para aquelas obras como material fundamental para compreender um mundo que se vai esvaziando de valores, de História?
Quem, hoje, os poderá acolher como monumentos vivos?
Quem, hoje, não encolhe os ombros ao coleccionismo, ao acumular de registos históricos?
Quem, hoje, não desdenha estas heranças, quais despojos de um maníaco?

É fácil não fazer nada e deixar o problema aos herdeiros, para quem não passa de lixo.
Mas também há a alternativa romântica: destruí-la em vida, como o último gesto de afeição. Mas, e quando? e por que ordem? de preferência, de registo?

The greatest person of the 20th century


À parte a polémica que estas nomeações sempre trazem, não deixa de ter sido uma personalidade marcante. Ligado à descodificação Enigma, foi sem dúvida o grande pioneiro da inteligência artificial. Castrado quimicamente na Inglaterra puritana e hipócrita, restou-lhe o suicídio. Depois a Rainha amnistiou-o do "crime" de ser homossexual e um Primeiro-ministro pediu desculpa à família.
Então, a referência impõe-se.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Gesamtkunstwerke, é pessoal e intransmissível







Tenho assistido a discussões sobre as múltiplas encenações das obras de Wagner. Como ponto de partida para legitimar toda e qualquer "versão", está a incentivação que o Mestre fez antes de morrer para que quem pegasse nas suas obras fosse criativo.
Mas, ser criativo dentro do conceito de obra de arte total.
E o que se tem verificado ultimamente é a usurpação, pelos pândegos da regietheatre, das obras, travestindo-as com a mediocridade das suas visões. Banalizando a genialidade com as suas provocações. Salvo algumas excepções, ou alguns momentos de inspiração, os resultados têm conseguido desequilibrar o balanço requerido para se assistir a uma "obra de arte total". Total e não parcial, com versões dominadas pela teatralização, ofuscando a música e o texto com os devaneios provocadores de quem quer conquistar notoriedade à custa da genialidade do criador. Ao ponto de se falar do Anel de Fulano, do Parsifal de Sicrano...
Chegados a este desvario, tomo para mim que a melhor produção (depois do minimalismo de Wieland Wagner) é a versão concerto com interpretação teatral dos solistas, a qual permite ao espectador ouvir a música e as palavras e a forma como são ditas, e assim imaginar o contexto da teatralização. Fazendo mentalmente a sua própria produção. Pessoal e intransmissível.



Turner, The parting of Hero and Leander


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Quanto valem os artistas vivos


Este quadro de Hockney foi vendido há dias por 90 milhões de dólares, estabelecendo o valor mais alto pago por uma obra de um artista vivo. Afinal os vivos ainda valem alguma coisa!
Numa perspectiva mais alargada, porque não equacionar as mais ou menos drásticas mudanças de paradigma nas situações até aqui aceites sem polémica... Vivemos numa sociedade capitalista com avanços e recuos no establishment sociológico. E começamos a ouvir - por dentro deste capitalismo - vozes que o colocam em causa. Desde os movimentos ecológicos até às novas formas de organizar os núcleos populacionais, sejam cidades grandes ou terriolas. Desde a indiferença eleitoral até aos recentes movimentos populistas. Desde os crescentes lucros das empresas, até então globalmente aceites, até à defesa de que esses lucros terão de reverter em boa parte para o benefício da sociedade. Vemos uma forma de estar no capitalismo totalmente diferente da que tem existido e sido amplamente aceite.
Aproxima-se uma nova ver de viver, uma transformação do capitalismo tal como o conhecemos até agora. O capitalismo vai ter de ter um banho de socialismo.



Hockney, pool with two figures

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O triunfo da bisbilhotice



No século passado, Guy Debord descreveu a praga que percorre estes tempos de comunicação fácil, chamando-lhe a sociedade do espectáculo.
A primazia do entretenimento fácil, como anestesia do pensamento e congelação da criatividade. A bisbilhotice como única alimentação da vida. A promoção das fake news como justificação para um mundo em que todos estamos bem informados. Um triste espectáculo!
Esta cultura da ocultação da engrenagem dos poderes através da construção de comunidades amorfas, tem sido um sucesso recorrente para qualquer das correntes do poder, que assim fica liberto para o seu livre exercício. E na altura de plebiscitar, reforça-se o espectáculo.
Isto, a propósito das mais actualizadas correntes falantes, as tecnológicas, digitais, e até virtuais (!). No rescaldo da web summit, a alegria tecnológica do espectáculo em palco, não é mais que a cobertura do espectáculo de bastidores, feio, porque revelador da verdadeira natureza humana. A sofreguidão na busca de investidores para uma maioria de projectos que são uma forma de vida dos novos chicos espertos. Com a benção dos espectadores.


Vieira da Silva, Tours d´Armes

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

turismo míope




Se Portugal esteve turisticamente na moda, porque não se aproveitou para renovar a oferta, que coloca o país no radar de um turismo poupadinho, de forma radical privilegiando o segmento que atrai o turismo de luxo? Miopismo político e empresarial.

Tal como os inúmeros violinos de Picasso, poderia Portugal ter ofertas para todos os segmentos. Faltaram violinistas com ambição e visão de futuro. Os erros pagam-se. Nomeadamente, quando um país é pobre de recursos alternativos.



Picasso, violon 1913 e 1915
 Bracque. La musicienne 1917

Sempre




A mente é um labirinto onde frequentemente nos perdemos, mas onde obrigatoriamente temos de nos encontrar sob pena de definharmos.
Vem esta constatação a propósito do bombardeamento de notícias que propagandeiam a alarvice, a obscenidade gratuita, o voyeurismo, e se assumem cada vez mais como estandartes de uma nova versão da indústria do entretenimento. As massas gostam, por isso produz-se mais e mais, nem interessa se o que se divulga é verdade, é uma verdade distorcida ou é uma mentira.
Mas somos humanos, caramba! Não podemos deixar que nos atolem a vontade na lama ébria. Atentos às suas mutações que nos pretendem enganar. Vigiemos a nossa mente, olhando de vez em quando para o passado, para ver se os valores que sempre defendemos ainda nos dizem alguma coisa.
Temos de nos erguer desta baixeza e repudiá-la. Enterrá-la no cemitério do esquecimento.

Gosto destas palavras, e aqui as posso aplicar, de Maya Angelou:

Just like moons and like suns,
With the certainty of tides,
Just like hopes springing high,
Still I'll rise.


Marc Chagall, Les portes du cimetière

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O Turismo redescoberto



O turismo parece ter sido redescoberto em Portugal. E a ele se tecem loas.
Exageradamente, no mínimo. O turismo não passa de uma nova forma de colonização, obrigando o autóctone a canalizar a sua potencial produtividade para a obtenção de receitas na exploração desse filão, desse novo El Dorado. Ou seja, o residente vai-se tornando progressivamente dependente do turismo.
Tal como aconteceu noutras formas de colonização, o turismo em massa mata a cultura, banalizando a sua  exterioridade e impedindo a percepção da sua interioridade.
Um mal nunca vem só!
Hoje, o turismo povoa as cabeças de governantes e governados, com ilusões de progresso económico, mas que o é apenas - e de forma não generalizada - financeiro. E redutor, na medida em que trava a criatividade que - ela sim - conduz à produção de riqueza sustentável, ao progresso económico e social.

Associei turismo ao nosso Minho, às gentes minhotas, e lembrei-me deste quadro maravilhoso.


Sónia Delauney, Mercado no Minho

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Ontem, o Azul na colina verde





Nem de propósito, o Azul de que falei há dias, voltou ontem a Bayreuth. Uma encenação de compromisso entre o conservadorismo e o progressismo, em que conservador é o que guarda valor numa tradição imutável, e o progressista é o que aplica uma nova leitura da obra, recusando o imobilismo.
O Azul dominou toda a versão, transportando-me para dentro dos quadros de van Gogh, de uma beleza triste, escura nas trevas de uma idade qualquer. Tudo se resolve no final: Lohengrin despe as vestes de um electricista que trouxe luz a uma sociedade obscura, sem rumo. E veste o traje da hipocrisia na noite de núpcias, retirando a Bíblia das mãos de Elsa, acorrentando-a com cabos eléctricos. O representante do Graal mais se assemelha a um Merlin. E no fim, a bruxa sobrevive, com Elsa, repudiando as exigências irrealistas enquanto o resto daquela sociedade decrépita morre. Fica a esperança. Nas mulheres.
Diz-me Azul Azul, haverá Azul mais bonito que o meu...


van Gogh, noite estrelada

segunda-feira, 23 de julho de 2018

O Azul, sempre


Não vou definir o que é o Azul. Regressei há pouco da experiência dos Wagner Days de Adam Fischer. Com o Tristão senti-me Azul, com o Holandês fiquei azul. Na semana passada foi o Parsifal como Audi o vê - fiquei azulinho - e como Petrenko o sente - fiquei Azul. E aqui, com uma só obra, coexiste o azul de alguma raiva e o Azul de algum êxtase.

Este tema azul, é só uma desculpa para vir aqui, de relance.



Zao Wou-Ki, 22.1.68

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A IA, na Banca ou na Pintura



Treme-se de medo porque a inteligência artificial (IA) só irá criar desemprego. Claro que serão necessárias políticas sociais adaptadas e actualizadas aos sucessivos novos modus vivendi que as novas tecnologias aportam ao nosso dia-a-dia.

Existem, todavia, funções que podem, com grande vantagem, ser operadas pela IA. Com o descrédito que a banca granjeou nos últimos anos, veio uma avalanche de controlos, de normativos de supervisão que arrastam exércitos de gente para os estudar e depois implementar. O custo de tempo e de pessoas para assegurar que os procedimentos são compliant pode e deve exigir que a IA se dedique à sua área, libertando meios para outras áreas mais difíceis de substituir por robots.

Passam agora 100 anos do nascimento de Santa-Rita Pintor. Pode-se desenvolver a IA por forma a continuar a sua obra?


Santa-Rita Pintor, Violino e Candelabro

quinta-feira, 15 de março de 2018

Inteligência Insuficiente

 


Mais que prestar tributo na morte do genial S.Hawking, também ele wagneriano, apetece falar sobre a inteligência. A sua limitação.

O Homem tem de reconhecer que a sua inteligência não abrange a compreensão ou a explicação da origem do mundo, dos mundos, do universo ou dos universos. Como explicar a origem da origem?

Atiramos a toalha ao chão, ora remetendo a origem para um deus (e quem ou o quê que criou deus?), ora aceitando a impotência da compreensão ainda que formulando teorias que nos conduzem na dissipação de dúvidas.

O Big Bang pressupõe uma existência de algo que explode. Qual a origem desse algo? Podemos sempre dizer que a origem é o nada absoluto. Mas temos de confessar que não se concebe um nada absoluto, porque a existência do nada significa já que o nada deixou de existir. É como dizer que antes do nada, nada havia, mas assim, continuamos a pressupôr uma existência qualquer. E não saímos desta espiral devoradora, qual buraco negro num universo cheio de traças. Raciocinamos impotentemente, até que adormecemos e sonhamos com as contas a pagar, com as realidades que compreendemos, para nos sentirmos inteligentes.

Voltando a Hawking: Remember to look at the stars and not down at your feet.


Pomar, D.Quixote

sexta-feira, 9 de março de 2018

Predadores



Entrou-se definitivamente na pós-democracia. Por todo o lado, as correntes populistas ganham força e chegam ao poder. Como ideias só têm a crítica sem ética, polvilhada de propostas espúrias aplicadas depois de moldar as leis. Veja-se a Polónia, onde o sistema judicial ficou nas mãos do poder político e já se faz estragos: é considerado crime falar ou ensinar em "colaboração de polacos com os nazis"; é crime falar em "campos de concentração polacos". Semeia-se uma nova forma de reescrever a história. Pode ser um exemplo caricato, mas é representativo do que estas cabeças produzem e significativo ideologicamente.

À nossa volta, os populismos avançam, ganham eleições, votados por populações com medo das mutações sociais. O papão da insegurança mundial, é propalado sem dó nem piedade, assustando os menos preparados culturalmente e exacerbando os nacionalismos.

Entre os populismos e os poderes absolutos, apenas uma pequena parte do mundo ainda respira democracia.

O que é que está a falhar na democracia? A educação, o aculturamento das populações. Sem uma forte aposta na educação não se conseguirá travar esta minoria sem ética.

Se se olhar para os primórdios da humanidade, conclui-se que o Homem é o maior predador que alguma vez existiu, e que continuará numa fúria incontida de fuga para a frente, que o levará a procurar outros planetas para se expandir.

Será a consequência do espectáculo triste hoje instalado.

Assiste-se hoje à tomada de poder por novos predadores, estes populistas, agitadores de espantalhos que têm acolhimento no resultado do nosso défice cultural. Por uma nova minoria de predadores que não encontra oposição na maioria titubeante dos restantes políticos.

Vamos assistir ao incêndio das nações.




Vieira da Silva, O incêndio