segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ser Pai




Ser Pai é assumir uma forma de vida que quem não é pai não tem. Há uma responsabilização intuitiva que não existe em mais nenhuma relação. Há um vínculo invisivel que os pais foram tecendo ao longo dos anos e que os filhos pressentem dando-lhes uma segurança tomada como uma certeza sempre presente. Mas há mais. Há uma força centrífuga que os pais têm de aprender a dominar, para não cercearem as múltiplas liberdades que os seus filhos desejam adquirir. Da mesma forma que devem aprender a não viver apenas em função dos filhos. E é esta aprendizagem permanente que tem como objectivo evitar os desequilíbrios. Ser pai é assumir esta forma de vida.

Ser Pai é também ser receptor das alegrias e tristezas dos filhos. Sofrer com os seus sofrimentos. Tantas vezes, é sofrer em antecipação, porque adivinhamos os problemas que, muitas vezes, não se verificam. Tantas vezes, é sofrer mais que ele próprios. Se é que o sofrimento se pode medir...

Ontem, era porque os filhos choravam e não nos sabiam dizer porquê. Hoje, é porque uma filha está num país muçulmano de difícil vivência a fazer voos de transporte de peregrinos para Medina. Amanhã, é porque uma filha está a sofrer no seu casamento. Em todos os momentos, um pai gostaria de ter o poder de transferir para si os sofrimentos dos seus filhos.

Ser pai é ser assim. Mais sofredor que rejubilante. Outros pais não serão assim. Mas também não viverão a felicidade de ter as filhas que eu tenho.




Suset Maakal, Father and daughter

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Andar atrás do mundo







Não deveria ser assim, mas a verdade é que andamos atrás do mundo. São poucos os que têm poder para fazer o mundo andar atrás deles. Por isso o mundo continua um sítio mal frequentado, catalizador de injustiça, angariador de prémios para os menos escrupulosos.

Cada vez há mais melancolia, mais depressivos, mais egoísmo, menos paixão, os olhos piscam para disfarçar a falta de brilho, o riso só aparece em resposta à maledicência, a ostentação é o contraponto da vida. É raro ser-se feliz. É impossível ser-se livre.
Tornámo-nos aprendizes de feiticeiro.
Esquecemo-nos das estações do ano e elas agora atropelam-se baralhando as suas fronteiras. De povo que adorava o Sol, passámos a povo que ignora o Sol. Esquecemo-nos de admirar o nascer do Sol. Esquecemo-nos de sonhar com o pôr-do-Sol. Tal como nos vamos esquecendo dos múltiplos pormenores que preenchiam a nossa vida. Vida que está cheia de televisão e de solicitações que empurraram para fora de nós aqueles pequenos nadas que eram tanto, mas que nela deixaram de caber.
Vivemos numa sociedade onde tudo é relativo, e é esta relatividade que esconde os males. É o tempo dos eufemismos.
Resta-nos a adaptação a estes tempos, tentando a sobrevivência possível. Tentando viver em vida.

Este pensamento veio a propósito da revisitação que fiz à obra de Roy Lichtenstein, que conheci há vinte anos no Guggenheim de NY. É BD. É retro. Lembro-me da sua presença icónica numa cena derradeira de Lipstick on your collar do incontornável Dennis Potter. É BD. É o faz de conta. E o faz de conta é a alternativa para suportar o mundo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Irreverência com classe


Noite de verão algarvio. Brisa regeneradora para cabeças demasiado quentes. Umas três mil pessoas, muitos sem saber ao que iam, poucos aficionados, os incontornáveis fotógrafos à espera do nosso mundialmente conhecido jet set, muito bronze a ostentar muito cobre para desmentir a crise.

Durante mais de duas horas Jamie Cullum provou que está em palco como peixe na água. Muitos dos que não o conheciam passaram a gostar. Fazia falta uma corrente musical de origem jazzística que tocasse nas pessoas que dizem não gostar de jazz. Não é puro, mas é genuíno. E penso que o filão que ele persegue é inesgotável, pois pode pegar em muitos standards e pop-ularizá-los. Com bom gosto, como bom pianista que é.

Go Jamie.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Colina Verde sem o Tristão



Programme 2010
Sunday 25. July Lohengrin
Tuesday 27. July Das Rheingold
Wednesday 28. July Die Walküre
Thursday 29. July Parsifal
Friday 30. July Siegfried
Sunday 01. August Götterdämmerung
Monday 02. August Die Meistersinger von Nürnberg
Tuesday 03. August Lohengrin
Thursday 05. August Die Meistersinger von Nürnberg
Friday 06. August Lohengrin
Saturday 07. August Parsifal
Sunday 08. August Das Rheingold
Monday 09. August Die Walküre
Tuesday 10. August Parsifal
Wednesday 11. August Siegfried
Thursday 12. August Die Meistersinger von Nürnberg
Friday 13. August Götterdämmerung
Saturday 14. August Parsifal
Sunday 15. August Die Meistersinger von Nürnberg
Tuesday 17. August Lohengrin
Wednesday 18. August Parsifal
Thursday 19. August Die Meistersinger von Nürnberg
Friday 20. August Das Rheingold
Saturday 21. August Die Walküre
Sunday 22. August Lohengrin
Monday 23. August Siegfried
Wednesday 25. August Götterdämmerung
Thursday 26. August Parsifal
Friday 27. August Lohengrin
Saturday 28. August Die Meistersinger von Nürnberg

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os bozzetti de Ricci











Regresso a Veneza. A eterna. San Giorgio Maggiore. Uma exposição singular. Sebastiano Ricci. Mestre do século XVII que nos deixou monumentais pinturas e frescos em igrejas e residencias. Pela Europa ocidental. Em Londres negaram-lhe a pintura da abóbada da catedral de S.Paulo. Mas fez dois tectos da Royal Academy e decorou a casa de Lord Burlington.

E com ele aprendeu Tiepolo, cujo génio ultrapassou o Mestre em fama.

Nesta exposição - só até dia 11 deste mês - fica, todavia, demonstrada a sua inultrapassável genialidade na execução dos esboços, das provas que serviriam para obter a aprovação do patrono que encomendara a obra - os bozzetti. Daí ser uma exposição singular.

Porventura é apenas por gostar de Veneza que gosto de Ricci. E esqueço que tentou, na sua juventude, envenenar a namorada engravidada. Tal como esqueço que me pedem todos os dias para pagar os erros dos políticos.




sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tapeçarias de Pastrana - imagens de glória


Pousar os olhos nas tapeçarias de Pastrana - creio que 11 metros de comprimento por quatro de largura, roubadas para Pastrana, centro de Espanha, quando da ocupação castelhana - é perguntar: como foi possível Portugal ter descido de tão alta glória.

A partir de amanhã - Museu Nacional de Arte Antiga - podemos insistir na pergunta, vergastando-nos ao mesmo tempo que nos arrepiamos perante as quatro míticas obras de lã e seda que D. Afonso V mandou fazer há mais de 500 anos para celebrar a conquista de Arzila e Tânger.
O começo da glória.
Sintomaticamente, a exposição (provisóriamente em Portugal!) tem o título de "A invenção da Glória, D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana".

Triste beleza!
É castigo obrigatório, tal como o PEC e suas futuras actualizações, por continuarmos a perpetuar um país que se recusa a produzir, mas que já quase nada tem para consumir.


Tapeçaria de Pastrana, excerto




quinta-feira, 20 de maio de 2010

A 3ª Guerra mundial


Os fundamentos da Economia afundaram-se. A confiança nas instituições está definitivamente perdida. A tradição já não é o que era, de facto. Olho-me ao espelho. Olhos nos olhos: não quero ser poeta da desgraça. Juro que não quero. Mas, esta inquietude não me dá descanso. A inquietude de ver o mundo a rebolar por um abismo em espiral.

Já não interessam as causas deste mal-estar-mal-viver. Agora só interessam as consequências. E são todas más. Pela primeira vez sinto a impotência dos dirigentes. E a dos dirigidos. Incapazes de sair da espiral.

A nova economia destruiu fronteiras, incendiou convicções, destruiu pilares de sabedoria. A nova economia baseia-se na especulação e alimenta a desconfiança. Longe vão os tempos em que a palavra era um activo de respeito. Ilustro com a pequena história do banqueiro que recebeu um cliente a quem não queria dar mais crédito, mas a quem também não poderia dizer apenas que não; então convidou o cliente para uma volta na baixa; de regresso ao banco, explicou-lhe que não podia emprestar mais dinheiro, mas depois de terem sido vistos juntos na baixa, qualquer outro banqueiro lho emprestaria. Hoje, esta história seria irrepetível.

Os pacotes de ataque às crises vieram para ficar, para conviver connosco, oscilando entre o 8 e o 80, e obrigando-nos a reajustar a nossa vida em conformidade. Entre a tensão social e o drama familiar, as sociedades vão conhecer uma nova idade média.

A angústia vai ser a nova pandemia.

A esperança de vida vai certamente diminuir, porque a angústia mata. Sou de uma geração que falhou na edificação da sociedade. Falhou e continua a deixar a geração seguinte falhar. Esta 3ª Guerra mundial tem a nossa assinatura. Não me orgulho de viver neste mundo.

Continuo a olhar para o espelho, olhos nos olhos, vejo desfilarem imagens lindas de vida. Por isso tem que haver sempre uma nota de esperança. Sem ela, nada teria valido a pena. Ando à procura dessa nota nos nossos filhos, que ainda vão a tempo de sair da espiral devastadora, e deixar a semente de um novo mundo para os seus filhos.



Salvador Dali, Premonição de Guerra Civil

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O vazio, pelas palavras de outra pessoa



Nós bebemos demais, gastamos sem critério.

Conduzimos depressa demais, ficamos acordados até muito mais tarde,
acordamos muito cansados, lemos muito pouco, vemos televisãodemais e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos os nossos bens, mas reduzimos os nossos valores.

Nós falamos demais, amamos muito raramente, odiamos frequentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver;
adicionamos anos à nossa vida, mas não a vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma;
dominamos o átomo, mas não o nosso preconceito;
escrevemos mais, mas aprendemos menos;

planeamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a apressar-nos mas não sabemos esperar.
Construímos mais computadores para armazenar mais informação,
produzir mais cópias do que nunca,
mas comunicamos cada vez menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta;
do homem grande e de carácter pequeno;
de lucros acentuados e de relações vazias.

Esta é a era dos dois empregos, de vários divórcios, casas chiques e de lares e corações despedaçados.

Esta é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e de muito, muito pouco na despensa.

Uma era que leva esta carta até si, e que lhe permite dividir esta reflexão ou, muito simplesmente, clicar na tecla 'delete'.

Lembre-se de passar algum tempo com as pessoas que ama, pois elas não vão estar aqui para sempre.
Lembre-se de dar um abraço carinhoso aos seus pais ou a um amigo, pois não lhe vai custar sequer um cêntimo.
Lembre-se de dizer 'amo-te' à sua companheira(o) e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, ame...ame muito...Um beijo e um abraço curam a dor, sempre que emanam bem lá de dentro, do fundo de si mesmo.

Por isso, valorize sua familia e as pessoas que estão ao seu lado, sempre!

George Carlin, 1937-2008, rip
Klimt, A Árvore da Vida




quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pascoálias




A Páscoa é Parsifal e nenhuma Páscoa me pode passar sem os sons sagrados. Assim tem sido, desde que me lembro. Em anos de luxo, consigo ouvi-lo na íntegra. Em Páscoas com outras preocupações, apenas excertos. Mas ouvi-o na íntegra no final do ano passado. Sublime, Redentor.

Algo mais me remeteu nesta Páscoa para Wagner: morreu o seu neto Wolfgang. Penso que com ele acabou de morrer uma sensação de ligação física ao Mestre. É normal os netos conhecerem os avós, e depois de Wieland restava apenas Wolfgang, para me fazer sentir uma certa existência de Wagner na Terra. Agora acabou. E não vai ser bom para Bayreuth. Oxalá me engane, mas penso que só o Estado alemão terá capacidade para não permitir que a colina verde se ensombre com as mesquinhices humanas dos herdeiros.

Antes da Páscoa, os Tindersticks estiveram na Catedral de Manchester. Nada mais apropriado. E tocaram Peanuts. E fecharam a igreja com My Oblivion. Aqui ficam as fotos.

domingo, 21 de março de 2010

A Primavera


A estação das estações. Tabém este ano a data do seu início me transporta para os mares de bonança. É uma data que encerra uma magia telúrica, como se a força de viver, anualmente renovada, se exprimisse orgasmicamente. Enfim, pelo menos assim a continuo a imaginar, depois de já a ter vivido. Cada um terá as suas listas (ando a ler A Vertigem das Lista, visualmente fabuloso, conceptualmente genial, uma obra de Primavera sem dúvida), e certamente a lista das datas será uma das mais comuns. Pois ponha-se esta data nessa lista e celebre-se. Para mim, ela é a bonança.

Mas esta semana aproxima-se tempestade. Ou talvez não.

Giuseppe Arcimboldo, A Primavera

terça-feira, 9 de março de 2010

Mulhercídio


Ontem foi dia de reavivar uma série de disparates, a propósito da mulher. De ano para ano a tónica cresce sobre o imperativo da igualdade com o homem.

Farto-me de dizer que Malthus foi o primeiro a pôr o dedo na ferida: o crescimento populacional - quase em exponencial - é a fonte de todos os desequilíbrios. Temos provas dia a dia, e só não as vê quem quer ser cego.

O controlo de natalidade na China - um filho por casal e de preferência homem -, começou por ser criticado e hoje é abençoado. Subrepticiamente idênticos controlos foram sendo estabelecidos nas regiões densamente sobrepovoadas. Mas aquilo de que ninguém fala é da destruição do sexo feminino. China, Índia, claro. Mas aumentemos a lupa para ver mais de perto: também sociedades ricas, cristãs, muçulmanas, estão a fazer uma razia no género feminino. Milhões de casais (sim, milhões) planeiam hoje a sua vida familiar. Querem ter apenas um filho, e querem um homem. Para sofrer menos descriminação, porque tradicionalmente um homem tem sempre a primazia, porque quando formos velhos, um filho homem terá mais meios para poder tomar conta de nós, porque um homem não engravida e assim corre menor risco de desgraçar a sua vida, etc. Por tudo isto, milhões de casais que querem apenas um filho (mas não só), preferem que seja um homem. Se for mulher, aborta-se.

Entra também aqui a teoria do 8 e do 80: o que começou por ser um controlo de natalidade, vem a desembocar em sociedades com mais homens que mulheres, e todos sabemos que homens solteiros a mais são o combustível para aumentos sensíveis dos índices de criminalidade. A organização CASS estima que a China em 2020 (é já amanhã) terá mais 30 a 40 milhões de jovens homens com idades abaixo dos 19 anos do que jovens mulheres, por isso sem perspectivas de casamento (pois, há sempre a possibilidade homossexual). Tantos quanto a totalidade da população jovem masculina nos EUA. Oscila-se de problema social em problema social.

Como alterar este desequilíbrio considerado por muito boa gente, uma fatalidade? Educando. Acabando com os estigmas do passado sobre a secundarização da mulher na sociedade, abolindo leis primitivas que impedem uma mulher de herdar, códigos civis que dão ao homem a prioridade social. Promovendo o emprego em todas as categorias de emprego, começando por aquelas que melhor interagem na sociedade (serviços públicos, hospitais, forças de segurança, e por aí fora).

Para um dia, conseguirmos estabelecer o equilíbrio, e devolver à natureza a sua gestão.

Foto de Cartier-Bresson

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Make love



Este vinho, bebido há dias, à lareira, entranhou-se-me. And you know why?
Começou por me provocar. Com o seu cheiro. O nariz transmitiu-me sensações de volúpia e tive de proibir a boca de o beber. Aquela sensação tinha de durar. Mais e mais. Queria bebê-lo, mas não já. Na ânsia de o cheirar com maior intensidade, mergulhei o nariz no copo. Foi então que este se inclinou, e o vinho se roçou nos meus lábios. Veludo. O vinho tinha a forma de uns lábios suaves, sábios na arte de amar. Gradualmente, o cheiro e o sabor tomaram a forma do desejo. Estranho, como um vinho se entranha e provoca a urgência de se consumir o desejo. Levantei os olhos para a chama que dançava na lareira, movimentos de um erotismo profano. Algures, fechei os olhos, e estive contigo, chama.

Luxo é




"Possuo a majestosa idade de 72 anos e permito-me dizer: se algum trabalho aparecer, aparece, se não aparecer não aparece, está tudo bem na mesma...
"...Tenho uma vida boa: componho música, pinto, actuo, tenho família e amigos. Por isso, se um filme resulta, tudo bem, se não resulta, tudo bem na mesma... Se se estrear nos cinemas, tudo bem, se não se estrear, tudo bem na mesma. Não fico muito tempo a pensar nisso...
"... Adoro representar... Há muitos filmes em que estou interessado e em relação aos quais digo - se forem para a frente telefonem-me - Mas já não fico com um nó no estômago. Se acontecer, acontece...
"... Não deixes que nada te aborreça, é a minha atitude...
"... É assim que preservamos a nossa sanidade, penso eu..."

Anthony Hopkins, 2010, ao The New York Times


Também penso assim. Mas é um luxo poder pensar assim, e, acima de tudo, actuar em conformidade. Vindo de um Grande actor, poder-se-ia desconfiar. Mas, por ele ser mesmo Grande, penso que acredita no que diz.


Paintings entitled "Abas," left, and "Midas" by actor Sir Anthony Hopkins are displayed in a new collection of his artwork at the Gallery 27, in London.
On top, Farm under a red sky

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Tindersticks nas Caldas


Let me start to say that a band that does 5 gigs in a row in Portugal either is rehearsing or must like this piece of land. After last night´s debut the conclusion is so obvious: you guys from other countries MUST demand a minimum of 5 gigs in each of your countries!

The band - all seven musicians - was extremely happy on stage (as well as out of stage. I happen to be dining with my wife at the same restaurant as them and what I saw was Harmony Around their Table. Hope you have enjoyed the wine, one of my favourites!).

Now, the first gig. Fantastic. From there I bet it will grow to a more perfect gig, but who cares about perfection? I don´t. For those who keep mumbling about how good tindersticks were with Dickon I have to say this: this is phase 2. Phase 1 is gone. Keep your records and your memories just like I do. Phase 1 is already part of the Classics. Keep it in the shrine you only visit when you need. Self-pity is out of the stage. Of course the band will keep visiting - like they did yesterday - those songs from their first works. And you know what? Songs that could make me cry now make me smile. I guess I´m getting older along with them, and I look back with a different wisdom, a different state of mind. I believe that´s what they do. Those songs from the past are now played stripped from saddness and anguish. Just showing their soul. When they played Dying slowly or Runnin´wild, that´s what I felt. The soul is there to be absorbed but the body is no longer there to suffer. Stuart´s voice and interpretation underlines this. He´s happy. Cheers! I hope someone understands this...The three new members of the band are enjoying their time and they offer some background vocals that work very, very well. Cheers! Neil walks their happiness in stage and makes his guitar smile and laugh. Cheers! Dave holds all the pieces with is concentrated personality. He likes perfection and smiles when perfection fades. That´s the spirit. Cheers! Andy is an intelectual musician. His smiling face enjoys enormously the effects of the band´s performance on the audience. He looks at us as if asking us to smile and cheer together with them. Cheers!

While driving the 100 miles back home, I felt I missed some good wine during the gig. Tindersticks performances require a good wine these days.

Thank you for a fantastic evening. See you soon.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

30 anos


A vida é uma corrida. Por alguma razão, corrida em espanhol é para tourada. A vida pode ser, então, uma tourada. Uma luta e um diálogo. Feitos dia a dia, ao longo dos anos. Fazes 30 anos e continuas bébé. Só que não o sabes, pois eu é que te vejo assim. Mas também te vejo adulta e linda. Sem favor.
Lembro-me quando tu chegaste. Tudo mudou. Gradualmente, claro. O ritmo de vida deu uma cambalhota. A minha maturidade teve de crescer mais depressa para te transmitir o melhor possível, as bases da tua sustentação. Começaste a tomar forma e a tomar conta do meu caminho. Tentei sempre percorrê-lo contigo, por ti também. Fui demasiado exigente com a tua evolução? Nem imaginas o que é sofrer quando eu te castigava e fazia chorar. Ou qundo te via triste, tantas vezes sem saber como te tirar a tristeza de cima. Em pequenita, eram as doenças, as maleitas físicas, o medo que te pudesses partir. Depois vieram as dores de crescimento. Gostaria de ter tido mais tempo para as aliviar. Tantas vezes afogadas nos problemas da vida, que eu vivia para que tu não desses por eles. E nos últimos anos, vieram as dores de amadurecimento. Mais complicadas, porque o nosso pensamento as complica. E não penses que acabaram. Todas elas são dores diferentes, mas a angústia está presente em qualquer uma. Mais persistente nas últimas, eu sei. Mas nunca te esqueças: os touros enfrentam-se sempre de frente.
Hoje, vejo o filme dos últimos 30 anos, ora a cores ora a preto e branco. Sei que gostarias de um dia o ver como eu o vejo. É muito bonito. É a vida. Uma corrida. Uma tourada. Alegria e sofrimento. Um dia, daqui a mais uns trinta e tal anos, terás também oportunidade de ver um filme semelhante, com alguém adulto, mas que será sempre o teu bébé. E não me importava nada de aparecer nalguns episódios.
Para já, um Vintage. Com a tua idade. Vou ver como ele cresceu. À tua saúde.
Francis Bacon, Bullfight

sábado, 23 de janeiro de 2010

Avec le temps, va, tout s´en va




Tenho vindo a ver e ouvir Leo Ferré nos registos que consegui enontrar (thank you ebay Satan). Emocionado! Por muitos motivos. Principalmente porque, em jovem, a atracção pelo libertarismo foi muito grande. Lia Appolinaire, Rimbaud, Verlaine mas só os percebi totalmente quando Leo lhes lavou as palavras com a sua música e declamação. Desejei então ser Leo. Mais, avec le temps...tout va bien. Ser-se libertário é uma prisão mental pior que a física. Ni Dieu ni Maître, é uma enorme solidão neste mundo. La solitude. Avec le temps... on´aime plus.

Fico a ouvir. e a ver, aquele corpo, ora novo, ora velho, cantar La chanson d´Automne. Olho para trás e vejo um tempo que morreu. Um tempo bonito. On n'est pas sérieux quand on a 17 ans. Mais si tu pensais à vingt ans. Qu'on peut vivre de l'air du temps, Ton point de vue n'est plus le même.
Preciso ouvir Reggiani. Je voudrais pas crever... Preciso de o ouvir cantar sentimentos menos dolorosos. Para restabelecer o equilíbrio. Plus belle q´une ondine tu caches ta poitrine...
Assim está melhor.
Ne chantez pas la mort.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lhasa de Sela


Strange to see the sun don't shine today,

But I ain't in a mood for sunshine anyway




Partiu aos 37 anos. Alguém que viveu em vida. Não é justo. O cancro de mama venceu-a em 21 meses. Para quê? Ficam-me os arrepios que a sua voz me transmite ao entoar versos como estes:


El desierto


He venido al desierto pa irme de tu amor

Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa gritar

Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar

He venido al desierto pa irme de tu amor

Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa gritar

Que tú nunca mereciste

He venido yo corriendo olvidándome de ti

Dame un beso pajarillo no te asustes colibrí

He venido encendida al desierto pa quemar

Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

He venido al desierto pa irme de tu amor

Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa gritar

Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar

He venido yo corriendo olvidándome de ti

Dame un beso pajarillo y no te asustes colibrí

He venido encendida al desierto pa quemar

Porque el alma prende fuego.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

tindersticks


Pois o corpo foi-se, ficou a alma.
Mesmo assim, Staples continua a produzir boa música. Esta é a capa do disco que sairá no fim de janeiro. Acho-a linda. Só conheço ainda uma canção do disco. E não lhe faz justiça. Temos pena.
Os sticks sem Dickon perderam o corpo que pegava na alma criadora e a embelezava irresistivelmente. Ambos os mentores continuam a fazer música e boa, um fá-la sem corpo e outro sem alma. O mundo perdeu a genialidade da melhor banda de sempre.

Coincidências


E coincidências? existem mesmo? ou têm significado porque nada acontece por acaso? Há dias ouvi uma história de coincidências. Simples: dois amigos que pouco se falavam teriam pensado um no outro no mesmo dia e entraram em contacto. Mas um deles sonhara que o outro tinha morrido. E falaram nesse dia. Mera coincidência? Diz-se que este tipo de ocorrência é frequente em gémeos separados. Não sei o que lhes aconteceu, se passaram ou não a con(viver) mais. Que importância terão dado à coincidência? ou se se filiaram na vertente do "nada acontece por acaso"? Interessa mesmo? seriam gémeos sem saberem?

Lembrei-me deste episódio a propósito da peça que Eunice está a fazer no D.Maria. Chama-se "o ano do pensamento mágico". Gostei imenso do livro de Joan Didion, onde ela relata o sentimento de perda do marido. Ela e o marido seriam "gémeos" como no episódio relatado. Eu direi que eram Amigos e Cúmplices. É um livro que se lê com um nó na garganta, é uma peça de teatro que várias actrizes podem fazer. Não muitas, só as que sabem comunicar o sofrimento. Por cá, pode ser a Eunice, a melhor que temos. Mas nada mais comovente do que a interpretação entre a lucidez e a loucura que Vanessa Redgrave entregou em 2008 em Londres.
Senti urgência em reler Didion. E fui buscar esta fotografia italiana de Cartier-Bresson. Porque nela vejo a cumplicidade entrelaçada com a confiança. E imagino assim a Amizade entre dois seres. E não consigo imaginar como deve ser terrível a perda de um para o outro!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Referendos, para que vos quero?



Sabemos que as sociedades gregas e romanas eram permissivas na aceitação das ligações homossexuais. E de outras coisas que ainda hoje se condenam. Foi há milhares de anos. Depois veio o cristianismo e novos códigos de conduta para limpar os excessos do regime romano. Mais tarde o islamismo veio reforçar a não permissividade das condutas ditas amorais. Falo só das religiões que congregam as grandes plebes.

Aqui, neste cantinho europeu, quase em 2010, quer-se legalizar as uniões homosessuais. Tudo tem que ser lido com o respectivo enquadramento. Hoje, existe uma exponencialmente crescente onda de homossexualização. Travá-la? Para quê? Porquê? Por não se concordar com ela? Por não se aceitar o tipo de relações que está por detrás? Hipocrisia pura. Estas tendências, mais não são do que o produto da sociedade que se foi moldando. Uma sociedade que aprendeu a evoluir em velocidade, a rejeitar o passado, a projectar-se num futuro cheio de insatisfações e, por isso mesmo, impelida a ir cada vez mais depressa, numa fuga para a frente, na busca insaciável da satisfação. Uma satisfação efémera, que se esfuma mal se alcança, e que nos devolve o corpo e a alma, transfigurados, numa corrida alucinante à procura de novas sensações, de novos choques, de novos confrontos, de novas formas de estar, ser e pensar.

Fica de fora a forma de sentir. Já ninguém liga aos sentimentos. Importa apenas consumir sem ser consumido. Os políticos vão na onda e o mundo pula e avança. Com mais ou menos mariquices.

Querem legalizar o aborto? Referende-se. Querem legalizar as uniões de lésbicas, gays e travestis? Referende-se. Querem mais mulheres na Assembleia, no Governo, nas direcções das empresas? Referen... Não, aqui basta estabelecer quotas. Porquê diferente? Não nos convém assumir que somos uma sociedade machista, claro!

Será que os referendos ajudam a lavar as mão como Pilatos? Triste país, vivendo em permanente estado inculto, que deixa nas mãos de quem não educou para decidir, a decisão sobre o que quer que seja. Daí, os governos que temos tido. Claro, a democracia. A tal que foi criada pelos Gregos. Os tais.

E o governo que deveria ser laico, ainda pondera referendar! ou seja, aceitar perpetuar a sujeição ao domínio eclesiástico. De onde, por coincidência, vem uma percentagem razoável de gays. Sinistra hipocrisia.

Nesta guerra quixotesca, avancem com as cartas para cima da mesa e confessem lá o que vos move. Sabemos bem como são cada vez mais fortes as organizações de homossexuais. Sabemos bem o poder económico que representa essa parcela da sociedade. Sabemos então tudo: poder e dinheiro.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Prece por Portugal


Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem.
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
(Fernando Pessoa, Mensagem)


A Distância que Portugal precisa conquistar é a que nos afasta da Europa ocidental. É a conquista do tempo perdido, apostando no ensino, no movimento de aculturação dos portugueses. Enquanto não houver vontade dos seus habitantes de se dotarem com a capacidade de identificar problemas, sugerir soluções, rejeitar mediocridades e oportunismos, Portugal será uma nau que navega conduzida pelos ventos da desgraça ou da ânsia. Em perpétuo nevoeiro...
Compete aos possuidores de elevada moralidade, a educação daqueles com quem se cruzam. Até que os políticos possuam essa elevada moralidade e encetem as medidas para separar o trigo do joio, educando os jovens para continuarem essa tarefa prioritária.
Cada Hora que passa é uma Hora perdida.



Almada Negreiros, Fernando Pessoa

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Exótico


Há cem anos. Direi melhor, de há cem anos para trás, a palavra "exótico" tinha o verdadeiro significado que o dicionário lhe atribui. Hoje, o exótico está em vias de extinção e o seu carrasco chama-se globalização. Atravessar o estreito do Bósforo, como fiz esta semana, durante o encontro anual do FMI, é tão exótico como a travessia Cádis-Ceuta. Mesmo a componente exótica que é sair da Europa e entrar na Ásia, esfuma-se na indiferença de culturas e de pessoas. Deambular em Sultanhamet é quase tão exótico como visitar as barracas da Boca do Inferno. Entrar no Grande Bazar é quase tão exótico como passear num centro comercial. A globalização levou para Istambul as marcas, o estilo de vida ocidental. Ser exótico é ter uma identidade própria e bem diferente da comum forma de ser, estar. Onde está a identidade de uma cidade, onde vivem mulheres de burkha ao lado de mulheres que evidenciam os seus atributos físicos. O mesmo exemplo serve para os homens, pois as mulheres só se passeiam de acordo com as vontades / permissões masculinas. Lamentavelmente, há quem confunda fanatismo, atraso cultural, com exótico. O fanatismo vive, e alimenta-se do ocidente. O exótico morreu. Mas a civilização não ganhou com isso.
Válido para qualquer continente.
O homem tem-se civilizado e umas das formas de se afirmar como tal, passa por civilizar os mais atrasados. Perfeito. O problema é a demonstração de resultados, o rendimento a extrair dos activos. E dos nativos. Estranha forma de civilização, que corrompe, destrói e substitui, para impôr uma normalização que rapidamente todos entendam e consumam. Ou perante a qual, se caia no seu oposto, e se alimentem extremismos.
Em 1492 Rodrigo de Xerés, Comandante de uma das caravelas da expedição de Cristóvão Colombo que aportou em Cuba, escreveu esta pérola que gosto de saborear quando me lembro do significado de exótico:
os nativos estavam a beber fumo; eram homens-chaminé que tinham um tubo castanho a arder numa das pontas; bebiam pela outra ponta e saía fumo.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A evolução da espécie


150 anos depois da publicação de The origin of species, se Darwin nos visitasse, afirmaria, confuso, por certo, que a evolução da espécie continua. Mas continua de uma forma diferente da que, naturalmente, se fez sentir nos últimos séculos, milénios até. Agora, a evolução segue um curso altamente influenciado pelo que o Homem está a fazer ao planeta, em consequência da exponencial explosão demográfica que, de então para cá, se verifica.

Já não interessa a evolução da espécie, mas sim, que espécie de evolução.

Sinto grande frustração por viver numa época deselegante, povoada por comportamentos humanos bestiais (sem querer ofender as bestas). O Homem (a grande Massa) continua conduzindo-se aviltadamente, endeusando o progresso material, ignorando os sentimentos elevados (será isto o novo instinto de sobrevivência, que mantém à tona da água os chicos-espertos?).


Quando passo os olhos por um Livro de Horas, como o de cima, e vejo a iminência da invasão do Kindle, não posso deixar de pensar na enorme evolução que tal representa. Em nome da equação simplista "explosão demográfica-consumismo". Mas não posso evitar o reconhecimento da perda de qualidade estética, do valor humano intrínseco (direi iluminuras iluminadas) numa obra que podia demorar a vida de uma pessoa a ser produzida. E apenas acessível a escassas dúzias de pessoas. O contraponto do kindle, é a acessibilidade universal, a resposta consumista à massificação que obriga a criar alternativas rentáveis. São em catadupa exemplos como este. É a satisfação "low cost" das necessidades. Neste caso, culturais. Mas com a nivelação por baixo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Vinho sobreaquecido




As vindimas têm-se vindo a fazer (em média dos últimos anos) cada vez mais cedo e as uvas amadurecem mais rapidamente. Pode parecer insignificante, mas acho preocupante porque creio que o aquecimento global não será alheio a esta constatação.
Estão previstas para as próximas dezenas de anos, na Europa vinhateira, subidas de temperatura, progressivas, atingindo no final do século, o número assustador de mais 6 graus em média, relativamente ao seu início. Trata-se de um ritmo demasiado rápido para a natureza se adaptar. Provavelmente, adivinham-se novos surtos de doenças nas vinhas, com o incremento do grau de apodrecimento, já para não falar das consequências das previsíveis inundações.
E assim, coloca-se a questão: como vão reagir as vinhas? Certamente um "terroir" de hoje não manterá o mesmo tipo de produção daqui a uns anos. E sa a temperatura sobe globalmente, amanhã a Inglaterra terá a temperatura que a França tem hoje. Aliás, o sul de Inglaterra já vai produzindo pequenas quantidades de vinhos (Denbies, Dorking, Surrey) de respeito. O mapa vinhateiro pode alterar-se significativamente. Néctares que criaram uma auréola mítica à sua volta nos últimos cem ou duzentos anos, estarão condenados. Vamos então passar a ter "Montrachet" na Escócia? Vinho do Porto no Exe Valley?

Só vejo uma solução: as entidades ligadas ao vinho, começando nos produtores, e sem excluir os jornalistas, devem pressionar os governos para a tomada de medidas que contrariem o aquecimento global. Não temos muito tempo. Podemos começar já em Dezembro, na cimeira das Nações Unidas, em Copenhaga.

Georges Seurat - st denis

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Clássicos (em tons de Outono)


Começou o Outono. Uma estação que remete para o conforto. Ambiente nem muito quente nem muito frio. Cores onde os olhos encontram repouso. Apetece ronronar ao fim da tarde. Os dias fogem mais depressa, e as tardes colam-se às noites.




Apetecem Livros que alimentem. Apetece queimar os livros que nos entreteram no Verão. Em auto de fé. Para expiar a vergonha de os ter lido. Não apenas aqueles livros escritos por quem não sabe raciocinar. Por quem aproveita a onda de ser figura pública e nos tenta convencer da sua súbita veia literária. Sei lá. Sei lá, com muito sexo plastificado. Sei lá, com muitos palavrões.

A vergonha vem sobremaneira daqueles livros que saem em catadupas das editoras, cumprindo escrupulosamente os planos de marketing que inventam leitores e necessidades para os entreter. São livros de consumo e esquecimento rápidos. Não nos ajudam rigorosamente nada. Não aprendemos nada que os Clássicos nos não tenham já ensinado. Superiormente.



Agora, no Outono vem a vergonha de os ter lido. De termos sucumbido à superficialidade, à facilidade. Lemo-los, na esperança de encontrar algo que nos ajude a viver com melhor discernimento, mais esclarecidos. Regra geral, sentimo-nos defraudados, pois lemo-los na esperança de os colocar ao lado daqueles livros que nos iluminaram. Daqueles que nos acompanham para onde formos. Daqueles que apetece reler. No Outono. Os Clássicos. Clássicos são aqueles que lemos com prazer. Volta e meia, temo-los nas mãos. A emocionar-nos.




No Outono também apetece Música. A indústria discográfica foi obrigada a impôr os leitores/ arquivadores de música com capacidades impossíveis de utilizar. Tanta é a música produzida, inventada, copiada. Ninguém tem tempo para ouvir tudo. Acima de tudo, são raras as músicas que nos empolgam. Nos tocam. Por isso os consumidores compram cada vez menos e vão ser bombardeados, por aquela mesma indústria, para comprarem apenas as músicas de que gostam. É o fim dos álbuns enquanto conceito de trabalho musical. As músicas vão passar a ser vendidas em unidose.


E é no Outono que tomamos consciência de que a quase totalidade das músicas que vão saindo, não nos dizem nada. São de plástico, sons que nos incomodam. Arranham-nos a sensibilidade, e por isso voltamos-lhe as costas. As poucas músicas que sobrevivem, vão engrossando o nosso pelotão dos Clássicos.


No Outono viramo-nos para os Clássicos. Os Clássicos são aqueles sons que nos devolvem a consciência de existirmos, que nos dão prazer. A quem voltamos sempre, porque nos tiram as saudades. Ou as alimentam. Volta e meia, temo-los nas mãos. A emocionar-nos.



No Outono também apetece cinema. Uma oferta gritantemente medíocre de cinema invade a nossa privacidade. São raros os filmes que hoje nos fazem aplaudir de pé. Tirando o uso das potencialidades tecnológicas, normalmente mal aproveitadas, fica um deserto de lugares comuns, de imagens banais, de novos estereótipos de beleza, de um depuramento da violência, como argumento terminal para prender o espectador.


É então que sentimos a urgência de rever aqueles filmes que se plasmaram em nós como uma segunda pele, conduzindo-nos ao encontro da nossa intimidade. Aqueles filmes que nos tiram do lugar de espectador e nos obrigam a ser intérpretes. A viver a intensidade das palavras, a atracção dos olhares. A experimentar a dor, a perda, a conquista, o sucesso, o desespero, a frustração, o orgulho, o prazer. São os Clássicos.


E assim, no Outono, vemos os filmes que nos fazem rir ou chorar. Normalmente ambas as coisas. Volta e meia, temo-los nas mãos. A emocionar-nos.



Com esses filmes, com esses livros, com essas músicas, de sempre, o Outono é mais aconchegante. Se conseguirmos partilhar esse aconchego, o ar deixa de ser tão pesado. A vida parece-nos mais valiosa. Volta e meia, precisamos acariciar a vida com as nossas mãos.
Renoir, Cagnes

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

La donna

La donna. "A mulher" soa lindamente em italiano. Continuo com obras de Alberto Sughi, que descobri recentemente. Ilustram a Mulher. A mulher é o antídoto para a depressão dos dois posts anteriores (ironicamente separados pela silly season). Mesmo feia, se tiver uma séria dose de sensualidade, a mulher torna-se a atracção que apetece consumir. Consumir é viver. Vivê-la. E vivê-la é vivermos.

A mulher que não apetece consumir, é a que não evidencia inteligência. A que olha apenas para a superfície dos espelhos. A que diz que colocou silicone, mas que pediu ao médico para achatar... o cone. Silly. A que abre desmesuradamente os olhos quando não entende o que se lhe diz. A que não pestaneja, quando lhe dizemos que o mundo acaba dentro de 13 minutos. A que não ri. A que não... nos atrai. Porque nos afasta. Estas mulheres estão reservadas para os homens que as outras mulheres não consomem.


La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento — e di pensiero.
Sempre un amabile,
Leggiadro viso,
In pianto o in riso, — è menzognero.
È sempre misero
Chi a lei s'affida,
Chi le confida — mal cauto il cuore!
Pur mai non sentesi
Felice appieno
Chi su quel seno — non liba amore!
Já Verdi assim pensava. Mulheres e Homens de letra maiúscula, de facto não abundam, e por isso aclama-se a sensibilidade feminina. Válido juízo, mas pouco exigente. No quadro acima vejo a triste normalidade. Uma mulher num despojar de sensibilidade, numa pose de espera desalentada, por algo ou alguém que a faça vibrar, estremecer do tédio. Viver.


Tudo isto porque "a mulher" soa lindamente em italiano. La donna.

Viver até pentear cabelo cinzento




A frase do título é de Yeats: ele achava que um homem deveria viver até pentear o seu cabelo cinzento ("live to comb gray hair"). Até ficarem com cabelo cinzento ou branco, homens e mulheres deviam viver com qualidade de vida. Sabemos que há - infelizmente - muitas pessoas de cabelo preto ou castanho que vivem sem qualidade de vida. Por isso, devemos ser mais ambiciosos do que Yeats: não basta viver até tarde, há que viver com qualidade.


Refiro-me às múltiplas facetas da falta de qualidade de vida.

Olho para as duas pinturas de Alberto Sughi (interno, mulher e marido) e vejo um reflexo de má qualidade de vida. Ouve-se o silêncio de quem nada tem a dizer ao outro. O abandono do corpo à solidão acompanhada. A anestesia dos pensamentos engaiolados. Pensamentos que esvoaçam em círculo, sem que a gaiola os deixe partir para a realização. Assusta esta falta de qualidade de vida. E ela anda por aí. Cada vez mais.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Os Velhos que desistiram de ser Jovens


Vou pela rua fora e vejo naquele passeio descendente pessoas cabisbaixas, tristonhas, inseguras.
Vejo, no centro da apatia que nos consome a existência, lutadores de braços caídos, pessoas com muito para dar à sociedade, que anseiam pela reforma, que rezam para os mais jovens lhes tirarem o lugar. Triste!
Vejo pessoas de meia idade classificarem-se como velhos, ansiando por fugir da ribalta produtiva, envergonhados do trabalho que produzem, elevando às alturas as capacidades dos jovens. Afinal, estes novos-velhos, a quem querem enganar se não a eles próprios...
Vejo os novos-velhos desistindo de levar a sociedade a melhor porto, com embaraço pelos níveis de destruição do planeta, com consciência da inutilidade da sua vida. E olham para os jovens como a tábua de salvação. Oxalá tenham razão, mas primeiro convinha educar convenientemente esses jovens a quem se vai colocar a responsabilidade de dar a volta ao desastre em que esta sociedade se tem transformado.
Vejo novos-velhos fugindo cobardemente, sabendo que não providenciaram a correcta educação a todos aqueles que agora querem que os substituam. E que se preparam para apontar o dedo aos falhanços dos jovens que ajudaram a promover.

Vou pela rua fora e vejo naquele passeio ascendente, pessoas descontraídas, seguras de si.
Vejo jovens alheados do seu papel na sociedade. Seguros de si, para o imediatismo, mas pouco acostumados a pensar numa estratégia de vida. Creem-se seguros das suas opiniões mas determinados a adiar a sua entrada no processo de construção da sociedade. Com poucas ou nenhumas referências que lhes permitam questionar as suas convicções, compradas com escassas reticências, às televisões, aos filmes, aos amigos. Desconfiando dos professores que tiveram, dos gestores que caíram em desgraça, dos políticos que não tiram resultados das solucções apregoadas. Pior ainda, dos pais que eles vêem transformados em novos-velhos, prontos a empurrá-los para fora do ninho, para que procurem assegurar a sua reforma.
Vejo jovens seguros de si, a entrar no mercado de trabalho, tentando disfarçar o pânico que os invade, ao aperceberem-se que estão sem rede, que os ventos são muitos e os tentam derrubar da linha de equilíbrio. Jovens também seguros de si, porque viam os pais como a eterna solucção da sua vida sem rumo. Jovens que agora realizam o embuste, se sentem enganados e apontam o dedo aos novos-velhos.

Desviando-me dos diversos dedos apontados, passo a vida a atravessar a rua de um lado para o outro, tentando viver em vida. Triste, por ver que as pessoas ensurdeceram perante os valores da sociedade ocidental. Desalentado, por saber que vamos deixar uma pesada herança a quem não tem forças para a carregar. Desanimado, por não ouvir as vozes dos diversos poderes instituídos, falar desta conjuntura muito pouco brilhante, ignorando a necessidade de trazer ímpeto renovador aos novos-velhos, criando as bases da rampa de lançamento dos jovens. Lançando-os para o futuro de todos nós.
E, todavia, a esperança segura-me. Não posso acreditar que a humanidade tenha perdido totalmente o seu instinto de sobrevivência.

Van Gogh - Velho em sofrimento

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Casa de Wagner e Cosima

Wahnfried, A Casa de Wagner e Cosima.


Ca´Vendramin Calergi, Veneza



Cosima Wagner



Depois de muito terem percorrido a estrada (ora hostil ora suavizada) da vida, Wagner e Cosima juntaram as suas vidas (os restos mortais ainda estão juntos na sepultura que está no jardim das traseiras da sua casa Whanfried, fotografia acima, e em primeiro plano em baixo).

Cosima era filha de Lizt, amigo de Wagner, dois anos mais velho. Cosima casou com o maestro de Wagner, von Bulow, 14 anos mais velho, que conheceu enquanto aluno de Lizt, e de quem teve 2 filhos. O sentimento ente Richard Wagner e Cosima nasceu em 1863 (ele tinha 50 anos, ela 26). E desenvolveu-se até à forma de paixão. Juram 'sich einzig gegenseitig anzugehören', "pertenceremos apenas e sempre um ao outro".

Em 1865 são pais de Isolda.
Minna, a primeira mulher de Wagner morre em 1866.
Em 1867 são pais de Eva e em 1869 de Siegfried.
O divórcio de Cosima chega em 18 Julho 1870. Von Bulow continua discípulo e devoto a Wagner até à morte deste. Posso apenas imaginar o escândalo que acompanhou toda esta história.
Cosima e Wagner casam em 25 Agosto de 1870.
Em 1872 iniciam a construção da casa. Vão habitá-la em 1874. Wagner inscreve na frente da casa: "Aqui todas as minhas desilusões (wahn) encontraram a paz (fried). Que este lugar se chame Wahnfried."
Em Set 1882 vão para Veneza onde Richard Wagner pretende obter descanso e inspiração para compôr. Ficam na Ca´Vendramin Calergi. Cosima não tinha blogs, mas tinha o seu diário. A última página foi escrita em 12 Fev 1883, véspera do dia em que veria Richard morrer, fulminado por um ataque de coração, enquanto compunha. Ela tinha 45 anos, ele 69. O que me falta em adjectivos para classificar a sua passagem por este mundo, sobra-me em lágrimas quando ouço o que me deixou.
Cosima levou o resto da sua vida a pôr de pé os sonhos do marido. Em 1903 sofre um golpe brutal: a vontade de Wagner de que o Parsifal só pudesse ser tocado em Bayreuth deixa de ser honrada e, apesar dos movimentos legais para interdição, a obra sagrada é representada em Nova Iorque. O conceito de Wagner fora apunhalado sem que Cosima o pudesse evitar. A ópera sagrada de Wagner saíra do Templo.
Em 1906 Cosima adoece e o filho Siegfried fica à frente do projecto do pai. Cosima Wagner morre em 1930 e quatro meses depois morre Siegfried.


Não sou de peregrinações, mas ir a Bayreuth tem esse sabor também. Saber que estão aqui enterrados, nesta sepultura, não é indiferente. O pensamento voa com frequência através dos tempos sem que o consiga parar. Sem que o queira parar.
Wahnfried ficou muito danificada durante a 2ª Grande Guerra. Hoje é o Museu dedicado a Wagner, e vai ter obras de reabilitação, para apresentação pública a tempo do Festspiel de 2010.

2009...sem pisar a colina verde


Spielplan 2009
Gesamtleitung: Eva Wagner-Pasquier, Katharina Wagner
Samstag 25. Juli Tristan I
Sonntag 26. Juli Meistersinger I
Montag 27. Juli Rheingold I *
Dienstag 28. Juli Walküre I *
Donnerstag 30. Juli Siegfried I *
Samstag 01. August Götterdämmerung I *
Sonntag 02. August Parsifal I
Montag 03. August Meistersinger II
Dienstag 04. August Tristan II
Mittwoch 05. August Parsifal II
Donnerstag 06. August Meistersinger III
Freitag 07. August Rheingold II *
Samstag 08. August Walküre II *
Sonntag 09. August Tristan III **
Montag 10. August Siegfried II *
Mittwoch 12. August Götterdämmerung II *
Donnerstag 13. August Tristan IV
Freitag 14. August Meistersinger IV
Samstag 15. August Parsifal III
Sonntag 16. August Götterdämmerung **
Montag 17. August Tristan V
Dienstag 18. August Meistersinger V
Mittwoch 19. August Parsifal IV
Donnerstag 20. August Rheingold III *
Freitag 21. August Walküre III *
Sonntag 23. August Siegfried III *
Dienstag 25. August Götterdämmerung III *
Mittwoch 26. August Meistersinger VI
Donnerstag 27. August Parsifal V
Freitag 28. August Tristan VI
* Karten für die 3 Zyklen des Ring des Nibelungen werden im Vorverkauf nur geschlossen abgegeben.
** Geschlossene Vorstellungen
Die Aufführung Das Rheingold beginnt um 18 Uhr (keine Pause), die übrigen öffentlichen Aufführungen um 16 Uhr.Beginn der geschlossenen Vorstellungen am 9.08.2009 und 16.08.2009 um 15 Uhr.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O deserto


Portugal tem qualidades de que não abro mão. O pior são mesmo os defeitos. E estes vêm de nós, povo pequenininho, mesquinho, invejoso, medíocre na moralidade e na postura. Não é de agora, claro. Basta olhar para a história, e constata-se que sempre assim tem sido.

Tudo isto a propósito do anúncio da nova temporada do CCB. Ridículo chamar-lhe temporada. Verdadeiramente digna desse nome (até numa perspectiva europeia) é a anteriormente anunciada para a Gulbenkian.

O que verdadeiramente me indigna é o facto de o CCB ter sido uma obra arrojada, cara e totalmente desperdiçada na sua função. Até na função de expositor de artes plásticas, lá teve de arranjar um compromisso para alojar, como mera arrecadação, as obras de um rico emigrante rico.

O programa, ano após ano, tem sido um deserto de ideias, de nomes, um virar as costas à cultura consagrada em detrimento de experimentalismos, baratos, certamente.

Se o CCB vive sem dinheiro, ou se o que tem só lhe dá para pagar a renda da casa, a água e a luz, porque não alugar o espaço a outras Temporadas, como a do S.Carlos e a da Gulbenkian. Por exemplo, esta última continua a trazer as grandes orquestras do mundo a Lisboa, mas reserva-lhes o Coliseu! Consigo bem imaginar a qualidade de som que se extrairia no CCB quando a OSLondres nos visitar em Janeiro próximo. Ao invés, recuso ir ouvi-la ao Coliseu, pois posso chocar com os sons e aleijar-me.

Rubens, Anjos a fazer música

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Pensador



Juro que não queria pensar!
É exercício de masoquismo, conflito perdido.
Pudera eu ouvir o meu coração no seu ritmo infatigável,
Soprar-me ao ouvido as qualidades para se ser um Pensador,
Avisando-me das armadilhas semeadas ao longo dos pensamentos.
Pudera eu ver as trevas da ignorância e tomá-las como luz.
Pudera eu sentir a letargia da solidão como festa dos sentidos.
Pudera eu olhar para o vazio que conquista este mundo
E continuar a sorrir por existirem árvores e rios à minha volta.

Juro que não queria pensar!
Preferia pegar no escopro e no martelo,
Cercar uma pedra distraída, tocar-lhe e senti-la
Fixar-me na abstracção enquanto a dilacerava com a minha energia,
Rebuscando nas suas entranhas mais recônditas,
Até nelas encontrar um Pensador que fosse feliz.
Ah, mas só Rodin o conseguiu.
E eu,... sinto-me o pó que restou das suas esculturas.

Rodin, o Pensador

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Música e Letra




Blue moon
You saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own


A letra de uma canção é alimento que se degusta com maior prazer quando a música nos encanta. Ouvir desta música, mas com letras menores, torna-se um suplício que nos conduz descalços pelo caminho tortuoso da frustração. O mesmo caminho que se toma quando a música nada nos diz, mas acompanha uma letra que fala connosco (e não precisa ser sublime, nem uma nem outra).


Lua Azul,
Tu viste-me tão sozinho
Sem um sonho no meu coração
Sem um amor só meu

Neste exemplo, que perde ainda mais na tradução simplista, temos uma música linda que enriquece a letra, e a transforma em algo que nos redime do pecado de gostar de letras tão... tão naive.



Yerka´s zeppelin


sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Arrependimento


Ninguém se deveria arrepender do que fez. Porque é inútil. Pura e simplesmente, uma pura perda de energia. Porque o castigo mentalmente infligido só irá causar desgaste físico e psíquico.
Mas como evitar determinados arrependimentos? Arrependimentos por não termos feito outras opções. As de fundo. Aquelas que poderiam mudar a nossa vida. E pairará sempre a dúvida sobre o desenlace da opção. Melhor? Pior? Por vezes, a resposta é simples, e vem carregada de certezas: Diferente!
E ganha força o arrependimento. Castigador para todo o sempre. Como castigador é olhar para este quadro de Magritte, desejar ver os joelhos da mulher, mas bendizer por não terem sido pintados.
Magritte sabia de tortura, e chamou-lhe Magia Negra.
R.Magritte, Magie Noire