quinta-feira, 25 de setembro de 2008

a crise das crises?

Só mesmo porque estou farto desta mãe de todas as crises:
Porque é que os reguladores / polícias de mercado não pedem explicações aos Auditores, e acima de tudo, às sociedades de rating, que andaram a distribuir notações positivissimas ( algumas iguais à da nossa República ) a instituições financeiras, a fundos sem fundo, que, quando começaram a cair em desgraça, foram oportunisticamente downgraded to junk, por essas mesmas sociedades de notação?
Quem é que confia em produtos estruturados indexados aos resultados do campeonato do mundo de futebol? quem é que coloca as suas poupanças em hedge funds que apostaram na queda contínua da cotação dos bancos irlandeses?
Apostas no sector financeiro? Roleta, bacarat, gamão,... ganância. E os casinos deixam que lhes roubem o negócio? Casinos de todo o mundo uni-vos e comecem a conceder crédito a toda a gente. A oportunidade está aí e foram os bancos que vos abriram a porta...
De facto, a tradição já não é o que era!... Chamar a estes momentos a crise das crises é pouco.
Este mundo anda mesmo muito mal frequentado!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A idade das coisas... Coisas da idade!

Ontem vi umas fotografias actuais de sítios que há muitos anos não visito. Podiam ser de pessoas que há muito tempo não vejo, podiam ser de coisas que há muito tempo não procuro, a conclusão seria a mesma: a idade não tem travões e só o atrito a faz parar. Se este atrito é certo, e a ele se convencionou chamar envelhecimento, não é menos verdade que a consciência que dele vamos tendo, condiciona o nosso bem ou mau estar. Ontem, depois de ver as ditas fotos, e de concluir que os sítios estavam tão diferentes das imagens que deles guardei há tantos anos, caí com brusquidão naquele pensamento recorrente sobre o tempo que nos foge; ou pior ainda, sobre o tempo que passa por nós sem que nos apercebamos dos sítios, das pessoas, das coisas, que deixámos de visitar e por onde o tempo também passou. Não tanto por nos sentirmos mais velhos, mas sim porque deixámos de usufruir, de gozar o prazer da sua presença física. E isto sim, entristece. Por isso, a palavra de ordem deve ser sempre carpe diem! Aproveitar os dias! Para evitar tristezas, remorsos e outros sentimentos que nos poluem os dias.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O sistema financeiro em trânsito

A sequência de portas a fechar é notável. Assusta mesmo, a ponto de esta crise estar a destronar a de 1929. Faltam os porquês. E eles estão à nossa frente: ganância, crescer descontroladamente, pintar resultados a tinta dourada com números de plástico, que derretem ao menos aquecimento global. A pressão tem corrido desalmadamente em ruas sem sentido ou em contramão nas de sentido único. A pressão pelo desempenho tem atingido níveis inqualificáveis de exigência e transita naquelas ruas, de accionistas para gestores, destes para empregados, destes para clientes, destes para accionistas, e em outras combinações.
Desde há quase 20 anos que me lembro da progressiva importância nas empresas, em particular nas financeiras, das funções de controlo e compliance. Pois sim, invenções de consultores, passadas para supervisores, passadas para gestores, passadas para accionistas. Outra vez as ruas sem sentido. Não se pode falar só de 2008, desde o Northern Rock, Bear Sterns, Roskilde, Fannie Mae e Freddie Mac, até à Merrill Lynch e agora Lehman Brothers. Vem tudo de trás. Vem do rebentar daquela pressão, vem dos acidentes provocados por andar em contramão, para satisfazer exigências impossíveis de desempenho ou sem orientação estratégica coerente. As finanças transformaram-se num jogo, envolvendo as economias, criando um mundo de faz de conta sob o olhar dos controladores. Que olhavam para os semáforos, sem ver se o trânsito lhes obedecia. Pois é, a seguir vêm as seguradoras, último reduto do faz de conta, arbitrar o caos, engolir o apito e desmaiar por falta de oxigénio. Pescadinha de rabo na boca. A crise veio para ficar durante muitos anos. Porque este é apenas um aspecto da perda de valores que se verifica na sociedade.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC e a busca da partícula de Deus

Como é possível que este projecto LHC ( Grande Acelerador de Hadrões ), que hoje vai começar a funcionar oficialmente, tenha sido mantido afastado dos olhos e ouvidos do mundo. Para mais, tendo-se começado a sua construção há 10 anos atrás... Um projecto de envergadura tal que conta com a participação de 55 países, de 6 mil cientistas, um custo de mil milhões de dólares por ano, porventura bem explicado aos diversos financiadores, mas que, desde há uma semana, aparece nos noticiários do mundo inteiro, sem que ninguém questione a anterior ausência de informação. Há já quem lhe chame, no meio da ciência física, a experiência do século. Cujos resultados se estimam para daqui a um ano, sem que se tenha uma ideia exacta dos mesmos, sem que existam certezas sobre o que irá acontecer ao longo dos próximos meses. Apenas nos é dito que nada será como dantes, e que, muito provavelmente, ficaremos a saber como aconteceu o Big bang. Uau! E para isso, para compreender a natureza intrínseca da matéria, temos um túnel circular de 27 kms, escavado na Suíça, perto da fronteira com a França, a 100 metros de profundidade, arrefecido até 271,25 graus negativos - o quase zero absoluto - e no seu interior irão chocar aqueles hadrões, protões, partículas subatómicas, originando temperaturas 100 mil vezes superiores às do centro do Sol. Sem os esclarecimentos que se impunham nestes últimos anos, parece-me ser um aprendiz de feiticeiro que vai estudar o nascimento do Universo. Encontrar a partícula de Deus, o bosão de Peter Higgs ( ainda que outros cientistas defendam a existência não de 1 mas de 5 bosões ), uma partícula subatómica descoberta teoricamente, que explica a origem da massa. Teoricamente significa que ela pode nem existir. Os habituais velhos do Restelo já dizem que se aproxima o fim do mundo. Mas, claro que dentro de dias já ninguém falará da "maior experiência do século", o que é natural, pois este ainda é uma criança. A menos que o aprendiz de feiticeiro faça das suas, para o bem ou para o mal... e as religiões que se cuidem, pois podem perder sustentação.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Morrer de amor

Tinham-me informado - de há anos a esta parte - que o livro estava esgotado e não se previa qualquer reedição. Pois acabo de o encontrar em 2ªedição Fenda. E de o ler. Só conhecia algumas partes, e foi com ternura que o li na íntegra. De Ernesto Sampaio para Fernanda Alves, ou antes, de Ernesto+Fernanda para quem os entender. Afinal, morre-se de amor sem que tal conste da certidão de óbito. Eis a sua dor, a sua solidão, a sua ânsia pelo reencontro:
Quando os sonhos não vão longe, correm até à infância e voltam brancos, por grandes alamedas de tristeza e de bruma, a alturas que o olhar não toca, lá onde tu estás e eu não chego... Quando há uma cama demasiado larga,... Quando se ouvem passos e não são os teus passos, quando o silêncio não é a pausa da tua respiração,... é-se como o veado ferido que agoniza em silêncio.
De mim não resta grande coisa... Estou quase a cair, posso desabar a qualquer momento. Não quero que me vejas cair. Já não sinto o meu eu, o meu peso. Perco o equilíbrio, flutuo. Eras tu a gravitação da terra e do céu, e anulaste-as...
A recordação de um só dia contigo torna inúteis o labor e o prazer de todos os dias que me restam viver... Já não há diferença entre o dia e a noite,... entre a vida e a morte. Entre o seu ser e o meu. É como se também eu já não tivesse existência - ou a tivesse apenas para recordar e adorar.
Como na vida , o amor continua a evoluir na morte... Todas as noites estendo os braços para o seu lado do travesseiro e é como se a respirasse, como se ela estivesse presente, difusa nas claridades longínquas e nas trevas cada vez mais cerradas que me vão envolvendo.
Ernesto sobreviveu um ano à morte de Fernanda, definhando até morrer de amor. Conseguiu nesse hiato escrever um livro belíssimo, só dele e dela, mas para todos os ernestos+fernandas.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A rentrée em sonho

As férias já não são "as férias". Prisioneiros do progresso, somos cada vez mais reféns do pda, e, através dele, inventámos a fórmula secreta de estar de férias sem nos desligarmos da vida profissional. Dizemos em voz alta, para melhor nos convencermos, que, no fundo, estas duas faces pertencem à mesma moeda, e só têm sentido juntas. E neste suave e doce engano, lá vamos sonhando com a rentrée, com o avolumar das preocupações profissionais, que, por sua vez, irão pedir-nos umas mini-férias de quando em vez. Sempre acompanhados do carregador do pda, claro. Para que aquela moeda não deixe de ser o nosso salário.
Neste perpétuo círculo vicioso e viciante, lá vamos arrastando um corpo que cada vez menos espreitamos ao espelho, e de que só nos lembramos quando os seus queixumes nos incomodam para além do razoável. Porque temos outras dores que mais nos preocupam do que as simples maleitas físicas.
Neste final de Verão sonhei com uma rentrée sem dores de alma. Mas, eis que a erudição dos nossos media me sacode a dormência do sono, enchendo páginas e tempos de antena falando da criminalidade gratuita. Uma anestesia que faz esquecer os problemas do país, os nossos problemas, que deveríamos deixar em vias de resolução para a próxima geração, indubitavelmente mal preparada para a gestão da sua vida pessoal, quanto mais para a gestão da sociedade em que se insere.
A portugalidade continua a não existir num país rendido às notícias que, ora nos distraem dos verdadeiros problemas, ora nos empurram para o grupo coral que canta o refrão "isto está cada vez pior". Um grupo que só canta em reuniões de duas ou três pessoas, passivamente monocórdico, sem revolta activa porque culpabilizando o eterno "Eles" fica com a certeza de, inocentemente ficar de fora; um grupo amorfo, amarelecido entre as tonalidades laranja azeda e rosa murcha.
Não oiço vozes poderosas falar da educação, e de como o que se tem feito é tão pouco para uma urgente mudança cultural nas nossas gentes. Não se fala de como a educação é a trave mestra que sustenta uma sociedade onde os valores humanos estão primeiro.
Neste final de Verão sonhei com uma rentrée sem dores de alma. Claro que foi apenas um sonho.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

2008 na colina verde

Freitag 25. Juli Parsifal I
Samstag 26. Juli Tristan I
Sonntag 27. Juli Meistersinger I
Montag 28. Juli Rheingold I
Dienstag 29. Juli Walküre I
Donnerstag 31. Juli Siegfried I
Samstag 02. August Götterdämmerung I
Sonntag 03. August Parsifal II
Montag 04. August Meistersinger II
Dienstag 05. August Tristan II
Mittwoch 06. August Parsifal III
Donnerstag 07. August Meistersinger III
Freitag 08. August Rheingold II
Samstag 09. August Walküre II
Sonntag 10. August Parsifal *
Montag 11. August Siegfried II
Mittwoch 13. August Götterdämmerung II
Donnerstag 14. August Tristan III
Freitag 15. August Meistersinger IV
Samstag 16. August Parsifal V
Sonntag 17. August Siegfried *
Montag 18. August Tristan IV
Dienstag 19. August Meistersinger V
Mittwoch 20. August Rheingold III
Donnerstag 21. August Walküre III
Samstag 23. August Siegfried III
Montag 25. August Götterdämmerung III
Dienstag 26. August Tristan V
Mittwoch 27. August Meistersinger VI
Donnerstag 28. August Parsifal VI
Die Aufführungen beginnen um 16 Uhr,
RHEINGOLD um 18 Uhr.

Die Aufführung "Das Rheingold" beginnt um 18 Uhr (keine Pause),die übrigen öffentlichen Aufführungen um 16 Uhr. * Geschlossene VorstellungenBeginn der geschlossenen Vorstellungen am 10.08.2008 und 17.08.2008 und 15 Uhr.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Carta à Entidade Reguladora de Serviços Energéticos

Enviei ontem. Não nos podemos calar com os descarados atropelamentos dos nossos direitos. Não deixemos que se riam para ( de ) nós, com a nossa própria dentadura!...

Exmos senhores,

Relativamente à proposta de revisão do Regulamentos de Relações Comerciais e do Regulamento Tarifários, venho apresentar a minha objecção, enquanto consumidor, sobre a denominada "partilha do risco de cobrança com os consumidores". Na composição do preço de um produto ou serviço, entram diversos factores, os quais, confrontados com os custos incorridos com a produção desse produto ou a prestação desse serviço, resultam no apuramento de uma margem de comercialização. Em qualquer negócio, esta margem cobre imponderáveis não explícitos, e que no caso vertente incluem o risco de cobrança. Contabilisticamente, a empresa tem a possibilidade de reflectir nas suas contas uma provisão, retirada daquela margem, para fazer face a situações de incobrabilidade.

Ignoremos a situação particular de monopólio, ou quasi-monopólio, numa actividade: Dizer que os consumidores devem partilhar o risco de cobrança é o mesmo que generalizar a qualquer actividade a possibilidade de repercutir a incapacidade de gestão da empresa fornecedora. Da mesma forma que, por exemplo, não vejo os bancos dizerem que vão repercutir os seus riscos de crédito nos seus clientes.

Os riscos devem ser reflectidos nos balanços das empresas e, no apuramento dos resultados, as partes afectadas devem apenas ser os seus sócios ou accionistas. Estes devem, por sua vez, em sede própria, deliberar se a Gestão tem o problema controlado, ou se, por incapacidade, apenas sugere a transferência reprovável, a qualquer título, dos custos dos accionistas para os clientes.

Vivemos tempos de vacas menos gordas. São tempos perigosos, na medida em que, a tentação de cada um se demitir das suas funções é grande e não pode ser facilitada, como resulta da proposta em consulta pública.

O meu voto de reprovação com os melhores cumprimentos.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Frase copyright

Antes que esqueça, enviou-se em 8 Fev passado, para a Nokia, e a propósito de um passatempo online Nokia E51, a frase:
Hipertenso? Ansioso? Não pode ir de férias por não ter e-mail? Pela sua saúde, não se separe do seu Nokia E51!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

As esquinas

Não gosto de esquinas. O mar não as tem e eu não passo sem a proximidade do mar. Os rios não as têm, e são lindos de ver entrelaçando qualquer paisagem. As planícies não as têm, e são o cenário perfeito para a vida sem rédeas. Só as urbes as ostentam. Gosto de muitas urbes, mas nada das suas esquinas. São contornos de prisão. À noite são sítios frequentados por almas que vendem corpos. De dia, são lugares de passagem. Mas também são montra para corpos sem alma. As esquinas ostentam pessoas que a elas se agarram na esperança de que a qualquer momento surja, precisamente ao dobrar da esquina, alguém que lhes traga um sopro de alma.
Tudo isto porque há pouco vi uma mulher à esquina de uma rua elegante. Vestia bem, com cuidado, gosto e alguma ostentação. Mas comia uma tangerina e cospia os caroços para o chão. Sem se dar conta, afastava quem queria virar a esquina.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Filantropia

A propósito dos distúrbios de ontem na África do Sul, lembrei-me de registar algumas palavras sobre alguma filantropia actual. A que tem origem em jovens milionários, que fizeram fortuna suficiente para lhes permitir encarar, sem preocupações materiais, o seu futuro. Um luxo ao alcance de poucos. Não o luxo de poder gastar ou esbanjar dinheiro. Mas o luxo de poderem viver em vida. Saboreando os dias e as noites, numa saudável perseguição dos seus sonhos.
São já muitos os ricos que aplicam as suas fortunas em projectos pessoais, mas com forte e positivo impacto para além dos seus sonhos. Falo de quem comprou vastas extensões de terras em África, reavivando alguma da mística que Hollywood divulgou há dezenas de anos, em filmes de intensidade carnal.
Na tentativa de realizarem desejos após uma vida urbanamente sufocante, alguns dos materialmente poderosos, instalaram a alma em zonas de infinita beleza, nos antípodas do ambiente onde fizeram fortuna. Ajudam as populações a alcançar limiares nunca imaginados de bem-estar: alimentação, educação, medicamentos, etc. Ajudam a que o eco-sistema não seja destruído: dezenas ou centenas de hectares, onde não deixam que a urbanidade cresça como um cancro. Vivem metade do ano em tendas porque o cimento já incomoda. São os novos filantropos a quem agradecemos o despojo material para salvar algumas partes do planeta. Haja esperança no alastrar dessas pequenas manchas mantidas em estado puro.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Frase copyright

Frase para concurso DN/RinRio ( tema pedido: sustentabilidade ) que lhes enviei há uns dias. Sem sucesso, aqui fica registada, just in case:
Má onda, surfar nas ondas do degelo; não contribua para o aquecimento global.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

o Tempo, sempre o tempo

Nada como um par de feriados para dar vida à depressão! Esta velha amiga que, ora se esconde ora aparece, tem-me visitado nos últimos dias com uma assiduidade enfeitada por um vincado sorriso trocista. Com aquele ar de quem não parte um prato, lá me vem deixando mensagens fatais.
Diz ela: Já viste quantos dias de lazer em duas semanas? Imaginas o tempo que vais poder tirar para ti? O quanto vais poder ler, ouvir e ver! os teus livros por ler, os teus discos por ouvir e ver. Enfim, montes de livros que já compraste e ainda não leste. A somar às montanhas de livros que te apetecia voltar a ler. Enfim, as pilhas de CDs e DVDs que não param de aumentar e que ainda não ou(viste). Que se juntam às centenas de discos que gostarias de voltar a ouvir e a ver. Faltam-te... mais feriados! Aliás, pensando bem, todos os livros e discos que possuis, são apenas uma parte dos livros e discos que pretendes ainda vir a ter. Parece-me que os feriados não vão chegar. Parece-me até que,... não sei se te diga... Podes nem vir a ter tempo de vida para ler, ouvir e ver tudo o queres. Pior, tudo o que já tens. Que desperdício! não conseguires gozar o que te dá tanto gozo. Lembras-te daquela sondagem aos wagnerianos? 22% já ouviram o Anel no mesmo dia! Eu sei que tu também já ouviste. Foi... há mais de trinta anos. E achas que o poderás voltar a fazer? Ah, pois, o tempo que não para de escorrer por entre a vida. Tanto desperdício de viver... em vida.
Digo eu: Viver em vida é também varrer a ansiedade e a depressão para fora de mim.
E mais não lhe consegui responder. Será que ela tem razão? Posso sempre pensar que sou vítima da sociedade de consumo. Que não consigo fugir às compras compulsivas de livros e discos, e que, no final do dia, consigo sempre seleccionar o que realmente gosto e me toca. E para o que me toca terei sempre tempo.
Diz ela, íntima dos meus pensamentos, dando-me o braço, grudada em mim, ostentando o único sorriso que consigo ver: Que mentiroso tão sem jeito me saíste!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O tsunami silencioso

Existe flagrante excesso populacional para os recursos desenvolvidos. A fome alastra, as doenças instalam-se, o desespero comanda a razão, a Besta volta a contratar os 4 do Apocalipse. Vêm pela calada da ignorância, aproveitando do desconhecimento generalizado, invadem as populações que estão fora do circuito ocidental, dizimando pela fome. Para os ocidentais, arquivam-se números de vítimas, elaboram-se estatísticas para os compêndios que ninguém abre.

Começam a circular as notícias sobre a escassez de recursos naturais, o petróleo à cabeça, claro, as enissões de CO2, a necessidade de ser conscientemente verde,... E os ocidentais lá vão aceitando que alguma coisa poderá estar mal. E acreditam, porque gastam cada vez mais dinheiro para encher o depósito do carro. Toca-lhes.

Mas, também os preços da comida estão a subir. Toca aos que têm carro e aos que não têm. Aqui, sim, a gravidade é preocupante. É uma onda de devastação que se ergue. Fatidicamente imparável. Fome, subnutrição, doença e morte. Mata mesmo. Destrói e depois aniquila. Já dizimou muitos. Aqueles que estavam no limiar de rendimentos abaixo dos 50 cêntimos por dia. Está a atingir aquele bilião de pessoas - dizem as estatísticas do World Food Programme, agência das Nações Unidas - que têm um rendimento de 1 dólar por dia, que não sabem o que é carne, que reduziram o número diário de refeições; atinge aquela franja dos 2 dólares por dia, que tira os filhos da escola, que deixou de comprar vegetais para poder ter algum arroz. Imagine-se o efeito de expectáveis subidas de preço dos alimentos, na ordem dos 10, 20, 30%. Multiplique-se por aquele bilião, e veja-se o ritmo do seu alastramento.

Tudo isto se passa sem que nos capacitemos da verdadeira dimensão do problema. Apesar da globalização. Silenciosamente, o tsunami - como lhe chamou Josette Sheeran do World Food Programme - avança.

Pegunto-me por solucções. Levanto os olhos para os países ricos. Cegos de não querer ver. Fracos na vontade de atenuar as distorsões. Temos de distribuir tecnologia e não comida. Fazendo jus ao velho provérbio: se queres acabar com a fome do teu vizinho, não lhe dês peixe, ensina-o a pescar. Baixo os olhos, penso nos filhotes, tento soltar-me de tantas algemas...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Homem sem Qualidades

Um pulinho para dizer que Musil já fala português. São dois volumes da obra monumental que qualquer Homem devia entender. Musil não chegou a escrever o terceiro volume. Teve de morrer, para dar cumprimento ao fatalismo humano. Nós, também nunca o leríamos. Por causa desse mesmo fatalismo. É mesmo assim, então. Lemos, e enquanto lemos, esquecemo-nos que a morte se aproxima de nós.
E tempo para ler?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Vem aí mais plástico

Regista, meu blog, novo texto premiado pela RV deste mês:
Na sequência de alguma dificuldade da indústria vidreira em responder à procura de garrafas de vidro, o produtor de Bordéus - Castel - veio anunciar que está a considerar enveredar pelo uso de garrafas de plástico. Penso que está dado o pontapé de saída para uma revolução na forma de apresentar o vinho ao consumidor. A seguir ao progressivo abandono da rolha de cortiça vem aí a garrafa de plástico.
Claro que uma razão mais profunda sustenta esta movimentação: o preço crescente de uma garrafa de vidro. O produtor faz contas e a poupança financeira na substituição do vidro pelo plástico, vai repercutir-se certamente, mais na sua conta de exploração, do que na poupança passada ao consumidor.
Mas não é este o meu ponto. Ponhamos de parte aquela pequena franja de mercado de vinhos de topo que continuarão fiéis à cortiça e ao vidro. Olhemos para o consumo normal. E aqui, o que me assusta é o cenário de uma refeição acompanhada por vinho servido no mesmo tipo de vasilhame usado pelos refrigerantes consumidos pelos nossos filhos mais novos. Bom, lá terei de "decantar" todos os vinhos desse futuro próximo, para belas peças de vidro. Vou é ter de pedir às minhas filhas para procederem à operação de transvase, para eu não ver como vinha embalado o vinho que irei beber: olhos que não vêem...

Tudo bons filhos

Experiência:
Vamos pôr os filhos em copos, até meio, e perguntar aos respectivos pais como os vêem.
Resultados:
Uns viram-nos meio cheios, outros meio vazios; quase todos disseram, com irreprimível consternação: é preciso ter sorte com os filhos!
Mau sinal! Porque a sociedade, o país, precisa de bons filhos, bem formados, altamente capazes de a enriquecer sob todos os aspectos.

Serviu esta experiência, levada a cabo ao longo da vida e com fase desgastante no último fim de semana, para realizar aquela verdade insofismável sobre os abismos entre gerações.
É verdade, sofre-se ao reconhecer que pais e filhos vivem em realidades diversas. Ignoremos as excepções, pois é utópico nivelarmos a sociedade por elas.
Sofre-se, quando se é pai, por acreditarmos que não somos compreendidos. Solucção: ir ao encontro dos pensamentos dos filhos.
Sofre-se, quando se é filho, por acreditarmos que não somos compreendidos. Solucção: ir ao encontro dos pensamentos dos pais.
E quando somos pais e filhos ao mesmo tempo? Bom, para além de se sofrer duplamente, acresce um sentimento de impotência para encontrar um espaço de comunhão. A tendência é desistir, sofrer para um lado, sofrer para o outro, tentando equilibrar mais o lado dos filhos. Enfim, ignomínias das condicionantes da natureza humana.
A triste conclusão é que os pais mais velhos têm menos capacidade para se adaptar aos pais mais novos do que estes aos seus filhos. É preciso ter sorte com os pais!
Mau sinal! Porque a sociedade, o país, precisa de bons pais, altamente capazes de deixar uma herança de orgulho aos filhos.

terça-feira, 18 de março de 2008

Ginja


Por isto, por aquilo, mas também pela malvada da preguiça, a verdade é que tenho andado arredado ( gosto desta palavra, e talvez o malfadado acordo ortográfico se esqueça de lhe mexer... ) deste blog. E esta visita relâmpago só acontece porque me lembrei que a GINJA já está na Família há quase 2 meses ( e nasceu a 14 Dez 07 ).

Voltarei!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O insucesso

Vamo-nos divorciando da política, obviamente por culpa nossa, pois passamos a nossa geração - e a geração passa tão depressa e deixa tantas mazelas para a próxima... - a votar sem exigir que a mediocridade desapareça. Como o demonstra o mais recente episódio da política bufa: as eleições no PSD.
Com a chegada do PS ao poder, muitos votantes do PSD viram implantadas, ou em vias de, linhas de pensamento e respectivas actuações que eram... suas. Resultado, o PS deu um encontrão ao PSD, sem pedir licença mas com legitimidade democrática, ocupando grande parte do seu espaço ideológico, e deixando boa parte do PS como quem acorda de uma ressaca sem saber onde está, ou o que está afazer ali. Esta parte do PS tentou uma cisão, com Alegria, mas faltou arrojo. Talvez o arrojo venha, nas próximas legislativas. Ao contrário, o PSD, sem espaço, pois o empurrão não foi nem para a direita nem para a esquerda, foi para o limbo, vai legitimar, já, com estas eleições internas, a sua cisão.
O futuro próximo pode bem contar com dois PSs e dois PSDs, e assim arrastar Portugal para uma italianização com eleições a serem ganhas por coligações, com tudo o que de instável tal comporta. É assim, que os medíocres ganham, levantando muita poeira para não se ver que nada sabem fazer. Legitimamente, continuaremos a adiar a forma de acertar o passo com a Europa.
Inevitavelmente, amanhã, os nossos filhos e herdeiros, dirão que a culpa é nossa. Mas nós, vivaços e sabidos, pegaremos nalguns textos do Eça do séc.XIX, e num encolher de ombros sem vergonha, diremos que Portugal foi e será sempre assim. Depois, voltamo-nos para o outro lado, e caímos no sono dos justos.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O sucesso

Por um lado
Hoje só se vai falar do desenlace Mourinho - Abramovitch. Nesta lusitânia, acho que os lusos vão mudar a agulha: de torcer para que o Chelsea ganhasse, passa-se torcer para que o Chelsea seja perdedor. É como uma vingança grátis, fácil, ao nosso alcance, tal como se joga no euromilhões. Para que ninguém tenha dúvidas de que o José Mourinho é um grande treinador, para que o dono da equipa morda os lábios de arrependimento, o Chelsea, pela vontade lusa, já tem os dias contados na primeira liga.
Por outro lado
Passo a vida a encontrar e a tropeçar em lusos que manifestam inveja perante o sucesso alheio. Normalmente, são medíocres cuja felicidade só chega no comboio que transporta as fatalidades, os desaires, os contratempos que irão ao encontro dos bem sucedidos. Puxar para baixo, nivelar por baixo é o lema.
Então
Será que o futebol ( eu não disse desporto ) é uma excepção ao comportamento atávico dos lusos? Parece que sim, o futebol extasia sem ecstasy, e quando um luso ganha fora da sua gália, somos todos que ganhamos. Totalmente diferente de um luso ter sucesso no trabalho, na família, na sociedade. Principalmente se for colega ou vizinho... Aí há que desancá-lo, ou ele julga-se mais do que eu?!!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Banqueiros e Bancários

O Millenium bcp anda nas bocas do mundo. E sabemos que estas são as bocas menos próprias para o que quer que seja. Numa generalização bancária, os banqueiros de Portugal lá se vão enxovalhando, causando incómodo ético em quem seria incapaz de se envolver num processo tão rasteiro quanto comum.
O BESI anda num sufoco para se colocar em bicos dos pés no panorama da banca de investimento. Chovem anúncios, entrevistas, promessas de descobrir o Brasil em 2007, de conquistar a Espanha um destes dias... Oxalá consigam, mas entretanto, discretamento, como deve ser apanágio de um banqueiro, o Caixa BI lá publicou uns anúncios divulgando que a bíblia financeira Euromoney o considerou Best Investment Bank in Portugal. Percebe-se aquele sufoco.
Enfim, banqueiro que atira pedras a bancário deixa de o ser, tal como bancário que riposta da mesma forma nunca será banqueiro.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

P de Proust de Perfil

Arranjei hoje tempo para o meu perfil... com a ajuda de Marcel. Seria injusto não o fazer. No mínimo servirá para que eu o revisite de quando em vez, ou de vez em quando, dependendo do espírito menos ou mais pressionado, respectivamente ( uso "pressionado" por ser mais exacto do que "stressado", pois a língua portuguesa é infinitamente mais rica do que a inglesa, principalmente na vertente intimista )

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Vinho, wine, vin... Fin

A Bruxelocracia prepara-se para impôr uma medida, no âmbito da reforma da Organização Comum do Mercado do Vinho, e que, por acaso, até é capaz de fazer sentido: Portugal terá de arrancar, até 2013, qualquer coisa estimada em cerca de 7% da sua vinha, ou seja 17 mil hectares a troco de uma indemnização de 7 mil euros por ha, e do fim aos subsídios à destilação da sub-produção europeia. O executivo comunitário deixa ao nosso Governo a capacidade de distribuir as quotas de abate pelas regiões.
A intenção parece ser a melhor reacção à quebra de consumo aliando uma tentativa de limitar a invasão que a Europa tem vindo a sofrer de vinhos de qualidade razoável a preços de combate.
Tenho algumas dúvidas sobre a total eficácia da medida, pois continuo a acreditar que a chave para abrir e arejar os armários de qualquer descontentamento está em elevar a fasquia da qualidade. Neste caso particular está em incrementar a qualidade média do vinho europeu, e tentar empurrar o vinho "estrangeiro" para um patamar associado a uma menor qualidade.
O que impede então? Mais uma vez a resposta vem do travão cultural que nos exaspera a paciência. Cabe, por isso, perguntar: Qual será a sensibilidade dos nossos produtores?

terça-feira, 3 de julho de 2007

De 25 de Julho a 28 de Agosto, na colina verde

Die Aufführung "Das Rheingold" beginnt um 18 Uhr (keine Pause), die übrigen öffentlichen Aufführungen um 16 Uhr. *Geschlossene Vorstellungen Vorstellungen "Walküre" am 05. und "Meistersinger" am 19. August 2007 beginnen um 15 Uhr.
Bayreuth

25.07.2007 (Mi.)Meistersinger I
26.07.2007 (Do.)Tannnhäuser I
27.07.2007 (Fr.)Rheingold I
28.07.2007 (Sa.)Walküre I
30.07.2007 (Mo.)Siegfried I
01.08.2007 (Mi.)Götterdämmerung I
02.08.2007 (Do.)Parsifal I
03.08.2007 (Fr.)Tannhäuser II
04.08.2007 (Sa.)Meistersinger II
05.08.2007 (So.)Walküre *
06.08.2007 (Mo.)Parsifal II
07.08.2007 (Di.)Tannhäuser III
08.08.2007 (Mi.)Meistersinger III
09.08.2007 (Do.)Rheingold II
10.08.2007 (Fr.)Walküre II
12.08.2007 (So.)Siegfried II
13.08.2007 (Mo.)Parsifal III
14.08.2007 (Di.)Götterdämmerung II
15.08.2007 (Mi.)Tannhäuser IV
16.08.2007 (Do.)Meistersinger IV
18.08.2007 (Sa.)Tannhäuser V
19.08.2007 (So.)Meistersinger V *
20.08.2007 (Mo.)Rheingold III
21.08.2007 (Di.)Walküre III
22.08.2007 (Mi.)Parsifal IV
23.08.2007 (Do.)Siegfried III
25.08.2007 (Sa.)Götterdämmerung III
26.08.2007 (So.)Parsifal V
27.08.2007 (Mo.)Tannhäuser VI
28.08.2007 (Di.)Meistersinger VI

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O baptismo do blog

Por brincadeira, ontem, referi em família que tinha criado um blog com fantástica simplicidade. Em coro: E, que nome? Pois,... Viver em vida. Apupos e suaves assobios receberam aquelas três palavrinhas, de imediato e sumariamente julgadas como pouco dignas e nada nobres, condenadas a serem pobres de espírito. Viver em vida, é isso então, almas distraídas?
Explicar, justificar? Hoje, não! Sempre o tempo a mandar em mim e... na vida ( claro que estou a sorrir ).

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Atrasado

Atrasado! Que título, que maneira de começar a escrever num blog criado há segundos! Porque afinal é fácil criar um blog. Criado, sabendo antecipadamente, escassar o tempo para o visitar com a frequência desejada.
Atarsado! Porque o Second Life está a ser e quase já era...
Atrasado! Para condizer com o mundo.

Votos: Hei-de tentar recuperar os atrasos com que a vida se enche.
Lema: Tentar Viver a Vida em Vida.

Conteúdos: o tempo dirá.