quarta-feira, 28 de novembro de 2012

À procura do tempo perdido

Não o de Proust! Seria demasiado profundo para tempos tão superficiais.
À procura de um tempo com qualidade de vida. Neste nosso tempo.
Vê-se a qualidade de vida esfumar. E o fumo não se consegue agarrar. Para onde foi? Voltará?
Para não azedar o Natal, aqui fica mais um escrito na penumbra. Curto. Para não roubar tempo ao tempo que procura esse tempo.
Escolha de um quadro intemporal.



Francesco Guardi - Venezia, San Giorgio Maggiore

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cães semi-afogados

As folhas das árvores teimam em cair. É o medo de bater num chão que não é acolhedor. O vento fustiga, a chuva continua a cair, mas as folhas recusam-se a atapetar o chão, onde nós nos queremos deitar. Cambaleamos mais e mais, a voz já fraca de tanto protestar contra o mau tempo, que anuncia dilúvio. Começamos a sentir medo do que aí vem. É o medo do escuro que preenche os dias sem sol. É o medo do que nos espera em qualquer das muitas esquinas que nos cercam. Seja a esquina da austeridade, seja a da incompetência, seja a dos novos criminosos do poder global, local. E os orçamentos para 2013 a serem discutidos por delinquentes legalizados. E, e, e,...

Recuamos para a parede mais próxima, toda ela uma ilusão, e continuamos a procurar acolhimento. Resta-nos o chão, agreste, sem folhas para amaciar a queda a que o cansaço conduz.
E agora, a chuva torrencial, o dilúvio, começa a cobrir-nos. A sensação de afogamento invade-nos, os olhos saem-nos das órbitas, espelham terror. Estamos impotentes, sem forças para ficar à tona da água. Sentimo-nos afogar, e os olhos, outra vez os olhos, encaminham-se para o céu. Vislumbram as folhas das árvores e reacende-se um brilho de esperança. Se, ao menos,...




Goya, Perro semihundido

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Richard Hawley

Foi uma descoberta recente. No início deste ano. Aconteceu um enorme prazer. O de ouvir uma música sentida, o de saber que ainda há quem componha música assim. Músicas e poemas compostos com a fragilidade do belo e a indignação por uma sociedade manietada por maus políticos. O último trabalho de Richard Hawley é disso prova maior. Revela um autor em conflito de criação, alguém que sente o impulso de criar o belo, mas não consegue deixar de se influenciar pela sociedade devastada pelas consequências destes últimos anos em crise. Talvez por isso mesmo, só se sinta bem em Sheffield, onde nasceu.


Ontem aconteceu a primeira possibilidade de o ouvir e ver ao vivo. Fantástica a entrega, músicos muito bem sintonizados com ele. O público com uma idade maioritariamente nos "entas" reflectia a maturidade exigida. Apenas umas poucas centenas, pois o homem (quase 46 anos) é pouco conhecido, assistiram, de pé (a Elizabeth McGovern, 51 anos, presente na proximidade, ilustrou o tipo de público, e...subiu na consideração).
Da set list, faltou a favorita pessoal Roll river roll. Restam as gravações, para saciar o apetite, os videos de menor qualidade (como estas fotos ontem tiradas) até que um dia apareça um DVD oficial, coisa que, apurada em conversa com o staff, não parece muito provável.
Até à próxima Hawley.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Um divórcio em coma

Nos últimos dias foi lavrado o divórcio entre a sociedade civil e a classe política. Em resultado da litigação, ambos ficaram em coma.
Se olharmos, por cima do ombro que seja, para a espuma dos dias, só vemos que o fio condutor da situação foi a incompetência da classe política, mas deixada à solta e sancionada pelos eleitores. O prevaricador foi alimentado pela vítima. E, normalmente, estes casamentos acabam em divórcio litigioso, com a libertação dos ódios da vítima. Mas a vítima tem der igualmente declarada culpada por negligência.
O enorme défice cultural de Portugal é o primeiro responsável pelo estado de coisas. Eleitores-formigas ignorantes votam às cegas em políticos-cigarras incompetentes.
Agora, divorciados e em coma, como trazê-los à vida?
Imaginemos lições administradas no soro que os mantém no limbo.
A necessária aculturação tem de acelerar o processo de recobro do comatoso.
A primeira aula tem de começar com perguntas que ponham o cérebro a trabalhar. Do tipo: Como foi possível Portugal chegar a este ponto?
Depois de algumas incursões pela História de Portugal, com alguma demora pelo período dos Descobrimentos e pela imediata delapidação da riqueza auferida na época, o doente-país pode ser ligeiramente sacudido com a inquietação sobre o seu estado futuro.
Com perguntas-choque, do tipo: Que podemos fazer para curar Portugal?
Neste ponto do recobro, há que fazer os comatosos imaginar uma classe política respeitada e uma sociedade civil esclarecida.
Estando ambos os comatosos infectados por indivíduos com uma evolução mental indetectável, há que exemplificar com ilustrações muito básicas. Do tipo: gerir um país é como gerir a sua casa; não pode gastar mais do que o que recebe com o que produz. E por aí fora, lição atrás de lição, até os comatosos intuírem que as crises não caem do céu, mas são provocadas ou alimentadas por eles próprios. E têm de ser eles a abrir caminho para o futuro responsável.
Aqui chegados, a sociedade civil, abrindo os olhos, terá de mudar o sistema eleitoral, por forma a impedir que os políticos chico-espertos deixem de ter o poder que hoje têm. Só, com um sistema eleitoral que responsabilize directamente os eleitos perante os eleitores, se poderá reconstruir a sociedade civil. Um sistema que permita a eleição da competência, em círculos locais, onde os candidatos não tenham que pertencer a listas partidárias. E a repercussão destas eleições em ondas que preencham os lugares do parlamento (menos de metade dos lugares de hoje, seriam o suficiente). E os governos assim formados e assim fiscalizados, deixariam de mentir aos eleitores e passariam a restaurar a confiança perdida.
Talvez voltasse a haver casamento...



Leonid Afermov - enigma nocturno

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O que nos está a acontecer (sem palavras)




Goya - Enterrem-nos e não digam nada

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Arte para gigantes

Passada a onda mais pessimista, volto aqui para carregar sobre o conceito de Arte.
A propósito do gigantismo que alguns artistas adoptaram recentemente.
Com tal desproporção, como é possível apreciar as obras gigantes? Aquele artista (Javacheff Christo)que cobre e embrulha pontes e monumentos, produz o quê? Arte? Aquele artista (Spencer Tunick) que contrata pessoas para se colocarem nuas às centenas e serem por ele fotografadas, produz o quê? (a última vez foi há dias, em Munique, para celebrar os 200 anos do nascimento de RWagner, que nasceu em 1813) Arte? E todos aquele artistas cujo nome se esquece de imediato, que montam exposições com labirintos, com esculturas de formas gigantescas, produzem o quê? Arte?
Arte não é certamente. Formas de expressão? talvez já possa aceitar essas manifestações como formas de expressão.
Nunca como Arte.
Sob pena de ser obrigatório rever o conceito que temos de Arte. Sob pena de ser impraticável a aquisição dessas obras, para possuir particularmente, para deleite diário, para deleite privado com os amigos e apreciadores.
Afinal, parece que a resmunguice deu lugar ao pessimismo... E que tal, a resmunguice como forma de Arte? Difícil de colocar em exposição? Ou fácil de expôr, se a eloquência for a arte de falar aos berros. No fim, existem apreciadores para tudo.

Joana Vasconcelos em Versailles, Junho 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Contrasenso


As pessoas desesperam, nada esperam, nada fazem. Braços em baixo, caídos de descrença, com o sentimento de impotência a devorar-lhes o corpo e a alma, as gentes resignam-se a viver dias amrgos. Entrincheirados numa frágil resiliência, estão, lado a lado, os que não têm emprego e os que não conseguem empreender minimamente. Do outro lado da quase invisível trincheira estão os que trabalhando, vivem para trabalhar, e os que embora trabalhando, trabalham para viver.
É o retrato de uma sociedade falhada, geradora de terríveis efeitos laterais. Com o alargamento da consciência deste panorama, vem o grande contrasenso: as pessoas querem viver mais, mas não têm como; os que não têm pão, porque não conseguem, os que trabalham desejam que o dia passe depressa ansiando por algum descanso no final do dia; no dia seguinte, a mesma coisa, quer-se riscar da vida as horas de trabalho. Quer-se viver mais, vivendo menos. Estamos a deixar, cada vez mais, de viver em vida.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Viver sozinho


Vi há pouco estatísticas assustadoras: nos EUA, em 1950, 4 milhões de americanos viviam sozinhos e representavam 9% dos lares; no censo de 2011, eram 33 os milhões de americanos que viviam sozinhos e já representavam a assustadora percentagem de 28% dos lares. Empatados com a mesma percentagem de casais sem filhos.

Se aqueles 28% que escolheram viver sozinhos, nos EUA, um país de pendor conservador, me parecem um sinal forte de que o paradigma da família mudou substancialmente, inflectindo-se o sentido predominante para uma tendência minoritária, o que dizer das percentagens da mesma situação noutros países?
Divido-os em 2 blocos exemplares: Desenvolvidos, como Inglaterra 34%, Itália 29%, Suécia 47%, Rússia 25%, Japão 31%; Em Desenvolvimento, como Brasil 10%, India 3%.

Sinal dos tempos. Mau sinal, má tendência. Estamos perante uma inflexão civilizacional, uma atomização do mundo actual, onde se evidenciam os novos "valores" em que o indivíduo é o centro, a prioridade em detrimento do colectivo: a liberdade individual, a realização pessoal. Os anseios, afinal, da adolescência.

Adicionalmente, penso que viver sozinho é o primeiro passo para viver só, para a pessoa se sentir só (está na hora de reler o livro de António Nobre). Creio que viver sozinho começa por ser a realização do sonho moderno, e até pode contribuir para alguma vitalização social, na medida em que quem vive sozinho tem mais tempo para si, para dispender em múltiplos meios. Mas creio também que o cansaço da rotina de não ter rotina encerra um perigo maior: o isolamento social, a que se seguirá a depressão, enfim, a instalação de uma sociedade de gente doente, de uma sociedade doente. E é o que pode acontecer, de pior, aos doentes que me assusta. De facto, podem curar-se, e encontrar um ponto de equilíbrio entre a preservação da sua individualidade e a dedicação altruísta ao colectivo. Mas também podem morrer. Era isto, também, que eu queria dizer com Dying Slowly.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dying slowly


Spring used to begin on the 21st. But it began yesterday.
Winter never really got out. Both seasons afraid of the crisis?
Expectations are low. Afraid of the truth?
Today is so sunny outside, why people feel so gloomy? Afraid of the future?
Are we all dying slowly? I´m afraid so!

My Spring is always on the 21st! So, let´s not be afraid to dream.

http://www.youtube.com/watch?v=icC4O5mq_-4

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Em Desacordo com o Acordo


Em Fevereiro de 2012, passei a ser obrigado a escrever profissionalmente em brasileiro. Para evitar opções, foi instalado um emplastro-corrector de palavras de Português para Brasileiro.

Os fundamentos do Acordo rezavam, entre outras boas intenções, por uma "maior harmonização ortográfica entre os oito países da CPLP". Daqueles 8 países, apenas a ratificação do 2º protocolo modificativo ao Acordo por 3 deles bastaria para o pôr em vigor. Os 3 foram Brasil, São Tomé e Cabo Verde. Portugal, Angola, Moçambique, Guiné e Timor não o fizeram. Enfim, os 8 terão acordado esta regra, e assim não há queixa possível.

Mas há indignação! por este jogo de livreiros brasileiros exportadores. E pela perda de identidade acordada por ignorantes portugueses.

Não rejeito que as línguas são vivas e por isso evolutivas, mas este Acordo não é uma evolução é uma transfiguração de facto, perpetrada por funcionários de fato cinzento.

Vivemos tempos de verdadeiro empobrecimento. Até linguístico.

Depois desta conquista brasileira, a hipocrisia continua a chamar à língua vencedora, portuguesa. Assim, passarei a chamar à língua derrotada na secretaria, Língua Lusitana.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Luna - companheira de 2003 a 2012



Já se sabe que o mundo raramente é justo. Ou então somos nós que não vemos o equilíbrio entre justo e injusto. Uma cadela tão bonita, aristocrática entre todos, cheia de vida, tinha que ter uma infelicidade para compensar a alegria. Os médicos chamaram-lhe mialgia, de cirurgia não aconselhada, e foi paralisando. Aprendeu rapidamente a usar um carrinho de duas rodas que alimentava, a ela e aos quatro donos, a ilusão de poder movimentar-se sem problemas, durante alguns minutos por dia. Até que aquela bébé se cansou de ver o corpo desobedecer à sua vontade e começou a chorar. Não de dor física, mas daquela dor que mais faz doer. Os olhos começaram a pedir para a levarem para outro lado. Um lado qualquer, desde que nele ela pudesse voltar a sentir as suas patas. E só havia um lado onde isso podia acontecer. Adormeceste ontem com o focinho na minha mão. Pronto bébé, já passou.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Por não me atrever a dizer de outra forma:


After some time you learn the difference,
The subtle difference between holding a hand and chaining a soul.
And you learn that love doesn't mean leaning,
And company doesn't always mean security.
And you begin to learn that kisses aren't contracts,
And presents aren't promises.
And you begin to accept your defeats,
With your head up and your eyes ahead,
With the grace of a woman, not the grief of a child.
And you learn to build all your roads on today,
Because tomorrow's ground is too uncertain for plans,
And futures have a way of falling down in mid-flight.
After a while you learn,
That even the sun burns if you get too much,
And learn that it doesn't matter how much you do careabout,
Some people simply don't care at all.
And you accept that it doesn't matter how good a person is,
She will hurt you once in a while,
And you need to forgive her for that.
You learn that talking can relieve emotional pain.
You discover that it takes several years to build a
relationship based on confidence,
And just a few seconds to destroy it.
And that you can do something just in an instant,
And which you will regret for the rest of your life.
You learn that the true friendships,
Continue to grow even from miles away.
And that what matters isn't what you have in your life,
But who you have in your life.
And that good friends are the family,
Which allows us to choose.
You learn that we don't have to switch our friends,
If we understand that friends can also change.
You realize that you are your best friend,
And that you can do anything, or nothing,
And have good moments together.
You discover that the people who you most care about in your life,
Are taken from you so quickly,
So we must always leave the people who we care about with lovely words,
It may be the last time we see them.
You learn that the circunstances and the enviroment have influence upon us,
But we are responsible for ourselves.
You start to learn that you should not compare yourself with others,
But with the best you can be.
You discover that it takes a long time to become the person you wish to be,
And that the time is short.
You learn that it doesn't matter where you have reached,
But where you are going to.
But if you don't know where you are going to,
Anywhere will do.
You learn that either you control your acts,
Or they shall control you.
And that to be flexible doesn't mean to be weak or not to have personality,
Because it doesn't matter how delicate and fragile the situation is,
There are always two sides.
You learn that heroes are those who did what was necessary to be done,
Facing the consequences.
You learn that patience demands a lot of practice.
You discover that sometimes,
The person who you most expect to be kicked by when you fall,
Is one of the few who will help you to stand up.
You learn that maturity has more to do with the kinds of experiences you had
And what you have learned from them,
Than how many birthdays you have celebrated.
You learn that there are more from you parents inside you than you thought.
You learn that we shall never tell a child that dreams are silly,
Very few things are so humiliating,
And it would be a tragedy if she believed in it.
You learn that when you are angry,
You have the right to be angry,
But this doesn't give you the right to be cruel.
You discover that only because someone doesn't love you the way you would like her to,
It doesn't mean that this person doesn't love you the most she can,
Beacuse there are people who love us,
But just don't know how to show or live that.
You learn that sometimes it isn't enough being forgiven by someone,
Sometimes you have to learn how to forgive yourself.
You learn that with the same harshness you judge,
Some day you will be condemned.
You learn that it doesn't matter in how many pieces your heart has been broken,
The world doesn't stop for you to fix it.
You learn that time isn't something you can turn back,
Therefore you must plant your own garden and decorate your own soul,
Instead of waiting for someone to bring you flowers.
And you learn that you really can endure.
You really are strong .
And you can go so farther than you thougt you could go.
And that life really has a value.
And you have value within the life.
And that our gifts are betrayers,
And make us lose
The good we could conquer, if it wasn´t for the fear of trying.

William Shakespeare

Por estar cansado dos vermes governantes:


Excerto da “Nota Biográfica” de Fernando Pessoa, 30 de Março de 1935

(…)

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: “35 Sonnets” (em inglês), 1918; “English Poems I – II” e “English Poems III” (em inglês também), 1922, e o livro “Mensagem”, 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria “Poemas”. O folheto “O Interregno”, publicado em 1928, e constituindo uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.

Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado.
Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, com pena, pela República. Conservador de estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservadorismo, e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo mítico, de onde seja abolida toda infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: “Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação”.

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Balanço


Algo vai mal quando se sente a necessidade de fazer um balanço. Talvez seja melhor reduzir o balanço a uma simples estimativa do custo do dinheiro que está a ser emprestado a Portugal. Dos juros, já se sabe, rondam os 5% ao ano. Mas, e o custo que não é visível?
Falo do custo das consequências destes empréstimos. Do custo das medidas que estão a ser impostas para "merecermos" os empréstimos. Por exemplo, quando se obriga a uma redução aritmética dos gastos com a saúde e com a educação - como se acaba de saber -, o que querem estas medidas dizer, em termos de apoio social, num momento em que se estão a alimentar as estatísticas de desempregados? Como se poderá assegurar acesso a um doente, em termos de qualificação do direito básico em ser bem (ou, no mínimo, convenientemente) tratado. Por profissionais bons, convenientemente pagos, e não por maus profissionais, pagos demasiadamente bem para o serviço que não conseguem prestar? Como se poderá assegurar a um doente e aos profissionais que o querem tratar, o acesso aos melhores meios físicos para o tratar?
Pior ainda, com os cortes aritméticos na educação, como poderemos formar recursos humanos capazes de competir num mercado cada vez mais global, onde quem não tem a formação adequada acaba por ser aniquilado? Como podemos produzir mão de obra bem qualificada e bem pensante, para dar a volta ao mercado, para arranjar meios de diferenciação positiva no mercado, e alimentando o fluxo exportador, único meio catalizador da retoma económica de Portugal? Ou mesmo, como estaremos a formar pessoas para emigrarem com sucesso, enquanto não se produz a necessidade de incremento do emprego que as retenha no país?
Estou a falar de custos enormes, com hipoteca anunciada para as gerações futuras. Custos que não se contabilizam num simples demonstração de resultados. Custos que deveriam ser apresentados às entidades que nos emprestam o dinheiro, e aos norte-americanos que orquestram esta marcha fúnebre que começou a desafinar em Agosto de 2008, precisamente os seus causadores, e agora a tentarem salvar o dólar à custa do euro. Claro que esta gente e seus acólitos, de um e outro lado do Atlântico, está-se a esquecer que, quando os países desenvolvidos estiverem de tanga e canga, não sobra ninguém para lhes comprar as exportações. Nem os BRICs, que estarão bem mais preocupados em suster contágios locais.
Bem me parecia que fazer um balanço não era boa ideia...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estados desUnidos da Europa


Quando, distraidamente claro, penso que nada poderá justificar ainda mais a utopia da união europeia, eis que cabeças responsáveis clamam irresponsavelmente por uma cisão entre países bem-comportados e países mal-comportados.
É bom de ver que tal divisão é mais que económica e terá inevitavelmente de degenerar numa cisão social, opondo povos. Ou seja, o contrário do ideal da união.
E Bruxelas bruxuleantemente acata o desvario titubeando magras oposições ao rumo dos novos iluminados. Uma vergonha perpetrada por quem não tem qualquer réstea de vergonha.
E que tal, deixarem-se de fazer de coveiros e começar a imprimir dinheiro? AH e a inflação? So what? só faz bem com o devido controlo.
Assim vai a nossa Europa, enquanto por cá o cavaquismo se vai distraindo para nos distrair da sua enorme responsabilidade pelo estado da nação. O inquilino de Belém, porta-se como o seu dono, porventura por achar que o tempo que tem de poder (já vai em 16 anos), lhe dá esse direito. Sempre com uma corte que acompanha o Chefe e a sua Dama, lá vamos vendo cabisbaixos as tristes figuras que aquelas almas (de)penadas fazem nas suas diatribes sebastianinas pelo mundo fora.
Tenho vergonha do caminho que estamos a percorrer. Nós e o resto do mundo. Aproxima-se um holocausto, receio.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mobilizar


Explicar de forma acessível que Portugal está em dificuldades não é muito difícil. Basta dizer que não há dinheiro! Toda a gente percebe. E antes de tirar dinheiro aos contribuintes há que mobilizar a cidadania para um esforço colectivo de produção, de inovação, de consumir nacional, de respeito pelo país e pelo que é português. Depois sim, as medidas terão de ser anunciadas, explicando a sua opção e quantificando os seus resultados. Medidas de austeridade e medidas para ajudar a colocar Portugal no mapa dos países com poucos problemas.
O que tem sido feito é de uma inépcia confrangedora. O Governo não sabe comunicar, não consegue mobilizar e anuncia medidas que, ao invés de unir as pessoas, provoca imprudentes clivagens no tecido social. Depois virão os remendos. E tecido remendado não dura muito.
Os anunciados cortes de 2 meses aos funcionários públicos e pensionistas é exemplo disso mesmo. Divide a sociedade em muitos retalhos. De um lado os funcionários públicos e reformados, do outro os funcionários privados. Deste lado, os privados que não vão ter cortes e os privados que irão ter, porque os seus empregadores assim o negociarão sob o espectro de que a alternativa é o desemprego. Claro que estes cortes não irão para o Estado, mas sim para diminuir os prejuízos das empresas. Que, caso dêem lucro,apenas darão 25% ao erário. E virão os lobbies reforçar as divergências. Falar-se-á de iniquidade fiscal. Etc.
Solução? todos por todos!
Primeiro, a mobilização da sociedade.
Segundo, manter um imposto extraordinário para todos os rendimentos.
Terceiro, baixar o imposto sobre os lucros das sociedade, para evitar a tão aliciante economia paralela.
Quarto, avaliar os excessos de pessoal, cortar gastos e reorganizar a função publica.
Quinto, despedir quem está a mais, criminalizar o despesismo e encerrar os serviços que não prestam serviço. Custa dizer despedir, custa muito mais não emagrecer o monstro que nos conduziu a este estado insustentável. Quanto mais depressa melhor, mais rapidamente recuperamos, pomos a economia a funcionar e a dar de novo emprego. O argumento dos custos do desemprego não colhe, pois o desempregado tem um custo muitissimo mais baixo e de duração muito limitada. Basta fazer contas.
Finalmente, apresentar ao país a equação que equilibra financeiramente tudo isto: apresentar os custos das medidas e os proveitos que as cobrem. Traçar o cenário que permita perceber que o que se está a fazer, não é em vão. E que estaremos a criar uma sociedade mais produtiva e eficaz nos próximos anos. A tempo de recuperar quem mais sofrer agora.
Caso isto não se faca, entraremos num longo inferno do nosso descontentamento.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs rip




"Mantém a fome, mantém a loucura" era este o teu conselho para ti mesmo.



Tiveste sucesso em vida, mas só serás devidamente reconhecido depois de morto. Logo tu, que não querias ser o homem mais rico do cemitério. Tiveste a visão que só alguns conseguem ter de como viver melhor o futuro. Deixas uma herança revolucionária, linda, pronta a ser desenvolvida.



Mesmo sabendo isso, sei também que o mundo vai ficar bem mais triste. Porque é que este ano não me chegam boas notícias? pior, as que chegam são invariavelmente más.



Há quanto tempo não venho aqui escrever? Precisamente, muito. Tenho fome, mas tem vindo a faltar-me loucura.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ignomínia



Quem não se sente não é filho de boa gente. Como é possível a Europa não responder adequadamente aos sucessivos jogos das agências de rating? Falta declaradamente liderança na Europa. Ontem a Grécia passou a lixo, hoje Portugal, amanhã a Espanha, etc.



Já referi demasiadas vezes que a resposta é cria uma agência de rating europeia, subordinada a Bruxelas e com participação do BCE. Correndo de vez com as agências privadas, subordinadas a interesses especulativos, e que há quatro anos abençoavam o verdadeiro lixo com ratings máximos. Como é possível? A China seguiu precisamente o caminho da criação de uma agência chinesa. Que classifica Portugal com A-.



Mas o mais grave é que este assunto já não é só Portugal, é a Europa.



A Europa tem de perceber que está a ser desmantelada. A ignomínia vem do outro lado do Atlântico e nós, europeus, passivamente deixamos.



Liderança precisa-se.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Go!verno




Governar um Estado é como governar uma Empresa, mas com a particularidade de os governados serem simultaneamente accionistas.
Gerir uma empresa é incentivar a produção, controlar os custos, olhar para o benchmarking e, no mínimo, acompanhá-lo. Evitar a asfixia da força produtiva. Educar os accionistas para uma estratégia de salvação nacional. Educar e qualificar o tecido empresarial, produtores e consumidores. Ensinando que, só depois de ser gerado rendimento, este pode ser parcialmente distribuído. Até lá não há dividendos. Em suma, eliminar os factores de histórico insucesso, a falta de formação, de educação e civilidade, de qualificação.

Hoje vai-se conhecer o novo Governo / Conselho de Administração de Portugal. As expectativas sobre a capacidade e o bom senso de governar o país são, porque têm de ser, elevadas. Espera-se a correspondente elevação.




Watts, Time, Death and Judgment

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Portugal











Portugal, embalado para a falência (bancarrota=quando persistentemente se gasta mais do que se ganha).

Portugal, deixado aos políticos. Portugal, economicamente intervencionado.

Portugal, que vai voltar à emigração.

Para não deixar de te amar, Portugal, preciso arrancar as palavras de Miguel Torga, e espalhá-las aqui.




Hoje, sei apenas gostar duma nesga de terra debruada de mar (Pátria).


O berço! Não há ninguém que não trema diante desta palavra. Tudo a depender dela, o bom e o mau, e a gente sem poder nada! (Minho).

 
Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite (Trás-os-Montes).


Patético, o estreito território de angústia, cingido à sua artéria de irrigação, atravessa o país de lado a lado. E é, no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensorável com que podemos assombrar o mundo (Doiro).


O indivíduo que põe num cabelo o valor de todo o corpo é um ser completo. Da cabeça aos pés, passando pela alma, a sua unidade não tem fendas, e joga como um bloco maciço. É uma força invencível (Porto).


Do caldo de couves faz um manjar, do azeite uma tibornada, da lã churra um cobertor de papa, e da carne de cabra uma chanfana de endoidecer. Faz estes milagres sem grande imaginação, pouco poeta e pouco artista, mas hábil, engenhoso e prático (Beiras).


Bem talhada, vistosa, favoravelmente colocada entre Lisboa e o Porto, a primeira, marítima, a segunda, telúrica, uma a puxar para fora e outra a puxar para dentro, ela representa uma neutralidade vigilante, fazendo a osmose do espírito que parte com o corpo que fica. Do espírito que vai, ou deve ir, a todas as aventuras do mundo, e do corpo que tem raízes imutáveis no chão nativo (Coimbra).


Sempre Atlântico, praia... e pescadores. É certo que de cada popa se vê um Portugal diferente, conforme a latitude: verde e gaiteiro em cima, salino e moliceiro no meio, maneirinho e a rilhar alfarroba ao fundo (Litoral).


Os moinhos de vento, que polvilham luz nos outeiros, fingiriam ainda de gigantes desbaratados nos sonhos quiméricos dos actuais Quixotes do gratuito (Estremadura).


A própria fúria das ondas, que querem destruir o fantasma, minando-lhe a alma, é um sinal. Por toda a parte do mundo onde chegámos vai a erosão do tempo destruindo os alicerces dos padrões que erguemos (Berlengas).


O toureiro português é a prova de que nem tudo no homem é cobardia de açougue, mistificação vegetariana. A vida é um desempate permanente, e o que é preciso é jogar com limpeza e formosura em cada número da caprichosa roleta (Ribatejo).


A nação não morre de amores por Lisboa, e sabe-se que Lisboa lhe paga na mesma moeda. É uma mútua hostilidade latente que os anos não suavizam. Talvez mesmo que lá no fundo, no fundo da desavença, não haja senão um sentimento de culpa comum, a mesma mágoa inconfessada duma desgraça que abrangeu toda a nação, mas que tem na capital o seu estigma indelével (Lisboa).


Será talvez alucinação de poeta. Mas porque nela se documenta inteiramente a génese do que somos, o que temos de lusitanos, de latinos, de árabes e de cristãos, e se encontra registado dentro dos seus muros o caminho saibroso da nossa cultura - se estivesse nas minhas mãos, obrigava todo o português a fazer uma quarentena ali (Alentejo).


Casas cujos telhados, nem de colmo, nem de lousa, sejam açoteias de harém para um amor livre e espontâneo ao luar; gente que se não cubra de croças nem de pelicos, mas ponha a sombra preguiçosa dum guarda-sol sobre a quentura do corpo; e figueiras pequeninas, anãs, sem toco, onde nenhum Judas se possa enforcar de remorsos. Um paraíso em que a maceração cristã não entre de maneira nenhuma (Algarve).

 
Como aquelas realidades que se desconhecem, embora continuamente presentes a nosso lado, assim o teimoso promontório da esperança, há séculos, permanece ignorado junto de nós. E as próprias ondas, cansadas de tão estranho absurdo, escavam nas ilhargas do rochedo e minam-lhe os fundamentos. Indignado, o "mar português" quer destruir o pesadelo, ou, pelo menos, transformá-lo numa ilha onde não possam chegar peregrinos da impotência. Quer destruí-lo, ou separá-lo de Portugal (Sagres).

quarta-feira, 20 de abril de 2011

7.000.000.000




A Terra gira com 7 biliões de humanos às costas. A tendência continua, por incrível que pareça, a ser uma inconsciente caminhada suicida de crescimento populacional. Não nas zonas mais desenvolvidas, onde a idade média tem vindo a aumentar, mas sim nas zonas menos desenvolvidas.




Que fazer deste planeta tão estragado? Escrevo numa das zonas onde se vêem pessoas cada vez mais velhas, onde a juventude vai rareando, sem vontade ou estabilidade para procriar.




Vejo um mundo cada vez mais urbano, mais consumista, com uma única hipótese de se alimentar: quimicamente.




Vejo um mundo cada vez mais egocentrado, onde a sustentabilidade incomoda, onde a visão do amanhã é escorraçada do pensamento pelos "sound bytes" da moda. Vejo o homem indiferente a projectos de cidadania e a mecanizar-se progressivamente..




Há 40 anos Yuri Gagarin, afastou-se o suficiente da Terra para dizer: é azul. Pois, o Mar. Pois, este planeta azul, há 40 anos tinha metade da população. Metade das bocas para alimentar, num conjunto mais rural e menos poluente.




Hoje, a Terra não está a ficar verde azulada de vida saudável, está a ficar cinzenta amarelada de sobrevivência doentia. E exausta de arrastar tantos robôs.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Mar, um desígnio e uma marca


O Mar e a Terra são os únicos desígnios para o lançamento do crescimento da economia portuguesa. Vivemos uma pirâmide produtiva invertida, tendo no topo uns Serviços sem competitividade, no meio uma Agricultura envergonhada e na base um Mar quase seco.


Quando conseguirmos inverter esta pirâmide, dando-lhe uma base assente na economia do Mar, seguida pelo natural suporte da economia da Terra e terminando na prestação de serviços de elevado valor acrescentado, poderemos dizer que foi alcançado um patamar de excelência na formação do nosso PIB e com um pulsar de crescimento que permita a Portugal respirar e retomar o seu lugar de relevo no mapa mundial.


Interessa começar pela base da pirâmide, sem ignorar o muito que se pode fazer com a terra e em terra. O Mar é o nosso factor de diferenciação pela positiva transformável numa mais-valia sem limites.

O Mar! O Mar representa hoje cerca de 6% do PIB. Mesmo depois de lhe termos voltado as costas. Mesmo depois de termos liquidado a frota pesqueira e os armadores comerciais.

Com a extensão de costa que naturalmente temos, e com a recente extensão da plataforma marítima atribuída a Portugal, será mesmo estupidez não voltarmos a abraçar o Mar, a retirar dele alimento, energia renovável, água, recreio náutico, turismo e desenvolvimento biológico e químico para a humanidade.

O nosso território marítimo é quase 20 vezes superior ao terrestre. O desenvolvimento dos nossos portos tirar-nos-ia da nossa periferia, oferecendo plataformas logísticas entre o Norte e o sul da Europa e para cruzamento de rotas intercontinentais. Volto à estratégia, disciplina fundamental para que tudo nasça direito, nada deixando ao acaso. Precisa-se de um projecto estratégico para o Mar. Precisa-se de abraçar esta visão e criar as condições políticas para devolver o Mar a Portugal. É um desígnio de Estado, que qualquer governo deve abraçar sem reticências. Com os olhos postos nos mercados internacionais. Coordenando estratégias para os diversos portos, focando a logística e os transportes marítimos. Incentivando o reaparecimento de armadores. Relançando a construção e reparação naval. Promovendo a náutica de recreio. Incentivando a criação de quintas marinhas e promovendo internacionalmente os seus produtos. Incentivando a indústria de pescado e promovendo os seus canais de escoação. Incentivando a investigação biológica e química, retendo no país a melhor massa cinzenta. Incentivando a exploração energética. O desenvolvimento bem sucedido de uma estratégia virada para o Mar, permitir-nos-ia certamente alargar a plataforma territorial marítima. E não existem razões para duvidar do sucesso. Temos uma tradição histórica de gente virada para o mar com sucesso. Há que devolver a essa gente o conhecimento da importância do Mar. Ensinando nas escolas que o Mar está no ADN português. Sonho com um Portugal digno, feliz e sustentável.


Rob Gonsalves, In search of sea

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vergonha



Nunca é demais bater nesta tecla. Se temos tido governos incompetentes e políticos da mesma cepa, a culpa é nossa, cidadãos tolerantes ou votantes.

Vejo duas vias para ultrapassar este preocupante estado de coisas: uma, a forte aposta na educação e na moralização do sistema judicial; a outra, que até deve ser cumulativa, uma revisão constitucional que retire impunidade a quem não sabe governar bem.

Enquanto não for feita uma revisão constitucional que obrigue os políticos governantes, seja qual for a estrutura, desde a presidência da república ao presidente da junta de freguesia, a prestar contas sobre o cumprimento das promessas eleitorais, não iremos a lado nenhum. Prestar contas perante estruturas de fiscalização compostas por pessoas nomeadas fora das listas partidárias (sob supervisão dos Conselheiros de Estado, por exemplo). E em caso de juízo negativo, serem accionados mecanismos de punição, desde a prisão até à simples proibição de exercício de cargos públicos.

Enquanto este Portugal não voltar a ter orgulho em si e nos seus filhos, só me resta ter vergonha de não conseguir mudar o estado da Nação.



sexta-feira, 11 de março de 2011

Quem está à rasca?







Faço parte da geração responsável pelo avolumar da deterioração do estado do país. Reparem, do avolumar!. Porque gerações para trás houve com tanta ou maior quota de responsabilidade. Mas só me interessa falar da minha quota parte de culpa. É grande e é diluída, por isso pequena. Grande porque o resultado vê-se na minha geração e provoca - felizmente - ondas de indignação na juventude "À rasca" que amanhã se pode manifestar nos Restauradores. Pequena, porque tenho a consciência de saber onde estão as origens dos males, mas não conseguir elevar a voz para ajudar a deitar abaixo esses males, na pessoa dos medíocres que nos governam, que nos querem governar, que, no fundo, só se querem governar.



Por isso, geração à rasca, somos todos nós, mas quem tem mais anos de vida sofre um peso maior; não mais premente, mas maior, pois espera-lhes mais anos de vida. Vida? Ooops! que vida?!



Manifestemo-nos todos por um vislumbre de vida! Para não se dar razão a quem ouvi dizer: quem dera um terramoto e um tsunami como os de hoje no Japão: acabava-se tudo. Jovens, filhas, manifestem-se com a dignidade que falta a quem nos governou e hoje se vos opõe. Ajudem a escrever uma história melhor que a que vos deixamos.
Lost, TV series (aren´t we all??)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Esperança também tem preço




Gostava de transmitir uma nota mais optimista. Mas o optimismo sai-me forçado, irresponsável até. E não consigo sustentar essa nota em argumentos lógicos, racionais, financeiros. E só a palavra Esperança parece sustentar o optimismo que todos gostariam de ver melhor justificado.


A Esperança vai assim reduzir-se a uma palavra usada e abusada. Podemos contornar a questão, mudando-lhe a forma. Chamando-lhe Pensamento Positivo. Mas a fundamentação falha e o Pensamento cola-se à Esperança.


Gostava de transmitir optimismo, porque acreditasse e tivesse confiança nos agentes de mudança. Confesso não conseguir atraiçoar o meu próprio pensamento.


Em termos globais, não há razão para faltar optimismo. Em termos globais, serão cada vez mais os milhões que sairão de um estado de pobreza física, em países de economias emergentes, que hoje em dia dão cartas e vêm "dar uma mão ao ocidente".


Ah, o ocidente! começando pelo ocidente que ultrapassou a ocidental praia da Taprubana.


E existe sustentabilidade nesse gesto? Ficaremos refens dos emergentes? Ou o ocidente estará mesmo a emitir o seu canto do cisne?


Gostava de transmitir uma nota de optimismo mas abava-se-me a voz.


Anna Pavlova, a morte do cisne
Anna Pavlova, e o seu cisne de estimação Jack



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Este país não é para


Velhos? pois constata-se, directa ou indirectamente, que o país não criou as condições para um fim de vida com dignidade. Casas de saúde, lares, hospitais, tanto faz. Por serem caros. Por serem deprimentes. Por serem obrigados a controlar os custos, e não poderem prestar um cuidado continuado. Por muitas outras razões, muitas vezes cumulativas, porque caro não é sinónimo de melhor, mas sim de vaga para admissão. Os velhos vão continuar a cair desamparados, pois nem a família tem condições para abdicar das suas próprias restrições em prol de uma maior disponibilidade de tempo e recursos.

Solução? O país está cada vez mais pobre. De ideias, de projectos e de recursos destinados à sustentabilidade social. Com um país que não cria as condições para produzir mais a caminho da autosuficiência, o fracasso dos políticos tem de ser penalizado à boca das urnas. Os políticos são donas de casa sem cabeça. Não sabem gerir uma casa, uma empresa, quanto mais um país. Pior, muitos nem espinha dorsal têm, e nós deixamo-nos governar por estes deficientes e incompetentes. Que abundam em qualquer partido.

Este país não é para velhos.


Meia-idade? Os que têm trabalho, trabalham com horários desnecessariamente prolongados. Porque são mal geridos, porque gerem mal o seu tempo. Em consequência, não lhes sobra tempo para ter vida própria. No sentido de se enriquecerem social e culturalmente. Porque lhes falta uma cultura de base e entraram no ciclo vicioso da ignorância que gera incompetência que gera ignorância.

Solução? Programas políticos que dêem prioridade aos investimentos na educação, na formação. Que tornem os cidadãos mais responsáveis, mais esclarecidos. Socialmente adultos. Claro que os entraves vêm da própria classe política agarrada ao poder que a obscuridade dos eleitores lhes proporciona. Falta uma cultura de responsabilização, de erradicação da mediocridade, de valorização do empreendedorismo.

Este país não é para a meia-idade.


Jovens? Ensino deficiente gera um produto ineficiente. Pior, um produto aprovado pelo controlo de qualidade. A falta de estruturas sociais que cedo atraiam os jovens para a vida comunitária. Gasta-se dinheiro num ensino comprovadamente medíocre e os jovens chegam a um mercado de trabalho de portas fechadas, sem cultura de empreendedorismo para lhes dar alternativas sólidas de evolução.

Solução? Tudo parte de apostar na educação. Sem me repetir, quntas gerações mais serão precisas até se mudar este estado de coisas. Até lá, empurra-se a juventude para a emigração. Claro que serão os mais válidos que passam a fronteira e conseguem evoluir em sociedades onde reconhecem a diferença que as separa da nossa. E não voltam. E o país fica assim com os menos válidos, os mal preparados, os que não foram estudar para as boas universidades estrangeiras onde se ensina o valor do mérito. Fica com aqueles que irão perpetuar, na melhor das hipóteses, atenuar as condições que fazem com que este país não seja para velhos, para a meia-idade, para jovens.
E assim vamos dançando ao som de música roufenha. E fechados na nossa caverna, de costas para a luz, julgamos que o mundo só é composto pelas nossas apagadas sombras.
Poussin, dance to the music of time





quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Portugalidade extinta


À minha volta urzem sirenes para que não me esqueça do NATO Round de amanhã e depois. E depois? Bom, depois, continuamos por cá. A viver em Portugal. E os outros milhões de pessoas continuarão a viver por esse mundo, cada vez mais mal frequentado.
Mas, aqui, em Portugal, o que se passa?
1. Temos tanto Mar.
0. Mas deixámos extinguir a frota de pesca e preferimos importar peixe.
2. Temos tantas ondas. E tanto vento no mar.
0. Mas não investimos no aproveitamento da energia das marés, nem do vento no mar. Sim, também se podem colocar moinhos de vento no mar.
3. Temos tanta terra por cultivar.
0. Mas deixámos extinguir o gosto pela agricultura e pela pecuária. Educamos a preguiça com subsídios. Extinguimos o gosto pela terra bombardeando as gentes com uma televisão citadina que promove os vícios urbanos.
4. Temos tanta gente criativa.
0. Mas extinguimos uma cultura de investimento e de risco associado, criando uma sombra tutelar chamada Estado, que se mete onde não deve. Que protege investimentos sem nexo, não justificados e ignora os caminhos da inovação e da eficiência. Os caminhos que nos deveriam ter levado há muitos anos, à internacionalização. Começando precisamente onde poderíamos ser mais fortes, nos países que usam a nossa língua. Agora, que só se fala neles, vira-se o feitiço contra o feiticeiro.
5. Temos um edifício cheio de políticos que não prestam, que ninguém conhece, que aprovam autoestradas paralelas para que se possa viajar durante centenas de kms sem nos preocuparmos com o trânsito inexistente.
0. Mas não somos capazes de castigar eleitoralmente estes políticos, estas máquinas que os promovem. Não exigimos o curriculum desta gente que não tem qualquer tipo de cultura ou de experiência de gestão. Que tem preferido invadir o Algarve com construções dedicadas a um turismo que não nos enche os bolsos. Gente que não sabe o que é a estratégia (atenção, estratégia é uma arte). Se soubesse, teria identificado o Algarve como a Florida da Europa, e teria construído complexos para a senioridade reformada e abastada da Europa.
Enfim, fico com a tensão arterial a picar-se quando falo destas coisas. Porque também me sinto culpado por assistir a esta falência de Portugal. Falência como povo. Assistir a um conceito de portugalidade em vias de extinção. Um conceito único que será rapidamente substituído pelas vitaminas da globalização.
Velho do Restelo? Nem me falem em Restelo, porque me faz lembrar Epopeia, Orgulho, Riqueza, mas também Cegueira, Novo-riquismo, Vaidade. Falta de estratégia.
Por isso digo à minha descendência, para irem estrangeirar-se. Para assim poderem evoluir, longe de um país que lhes nega educação, cultura, saúde, emprego e oportunidades.
Viver em Portugal? Talvez seja como viver num Black Hole.


Foto da NASA: supernova transformada em buraco negro (Chandra X-ray Observatory).


Gorecki


RIP

Sorrowful sounds. Your sounds made Mine. A premonition of catarsic wishful thinking leading nowhere. Your death is an injustice of life. Another one.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Blutendes Herz




Wortlos. Nur Enttauschung und Leid.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A hipnose e a Paixão


Falamos com pessoas com quem é impossível conversar. Falamos com pessoas que falam monocordicamente, que exprimem opiniões sem as defenderem, porventura opiniões que abandonarão no dia seguinte. Falamos com pessoas que não vibram nunca, desprovidas de algo que lhes diga muito, muitissimo. Falamos com pessoas que palram os estereotipos daqueles que querem imitar. Falamos com bonecos sem alma. Falamos com quem não compreende as paixões que preenchem as nossas vidas. Falamos com pessoas que não têm paixões. Falamos com pessoas sem interesses e sem interesse.

O mundo está cheio de pessoas assim, para quem viver é possuir sinais vitais.


Que pena estarmos rodeados de pessoas sem interesse. Gostava que vibrassem com o mar, com o seu cheiro, com a sua imensidão, com o seu murmúrio. Gostava que vibrassem com a dedicação de um cão. Gostava que vibrassem com o Quarteto para o Fim dos Tempos, com a forma como a música suspende o tempo e dá sentido à eternidade. Etc, etc, existe um mundo à espero que vibremos com ele.

Existem é poucas pessoas que nos façam vibrar. E que nos façam viver por elas.
Doré, Don Quixote

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Criatividade, procura-se




Criatividade. É o factor de diferenciação quando tudo o mais se pode copiar ou fazer parecido. Podia desde já dizer que os países dependem da criatividade. Como lembrou há pouco um jornalista do Financial Times, o Brasil não é conhecido tanto pelos motores da sua economia mas mais pela música, moda, arquitectura,... ou seja, pela criatividade. Mas nem sequer é aqui que quero tocar. Quero mesmo chegar ao indivíduo: onde está a criatividade?

Cada vez há mais gente no mundo e por isso a probabilidade de haver mais criatividade é maior. Mas vejo o contrário. Paro para pensar nas causas, e que vejo?

Primeiro, que cada vez tenho menos tempo para pensar.

God! how could I let this happen?

Tornámo-nos dependentes, viciados em toda a espécie de gadgets. Não só. Os computadores, as redes sociais, as toneladas de e-mails para ler e/ou responder, os canais de tv por cabo. E quando julgamos que vamos para casa depois de um dia estafante a trabalhar, ou mesmo quando rejubilamos por irmos de férias, lá vêm os iPhones, os Tablets, os iPads e iPods atrás de nós.


E assim deixámos de viver a família, viver a nossa intimidade, e, pouco a pouco, de viver em vida.


Os filhos não têm tempo para nós nem nós para eles. Lembramo-nos vagamente de, ainda não há tanto tempo assim, apreciarmos o põr-do-sol acompanhado de um charuto e de um portronic, de se fazer uma caminhada só para ir apreciar as ondas do Guincho. De ter um jantar demorado com a família à mesa. De falar, falar contra a passividade que nos vai calando.


Temos de reagir a esta intoxicação digital. Temos de parar para pensar, levar o cérebro para o ginásio, exercitá-lo e assim provocar a criatividade. Como dizia o cartaz do Uncle Sam, the country needs you.


Eu preciso de mim.


terça-feira, 31 de agosto de 2010

Utopia




É o desencanto que me faz voltar a zurzir, vezes sem conta, na nossa incapacidade de evoluir a uma velocidade que permita alcançar as sociedades mais evoluídas. Este desencanto surge, volta e meia, quando sou obrigado a observar novos episódios que testemunham a eficácia da marcha-atrás, que demonstram como é mais fácil destruir que construir. Que me fazem corar de vergonha.


São cada vez mais as pessoas que também criticam as aberrações diárias que se nos deparam, desde o ainda não desaparecido cuspir para o chão, até à total ausência de civismo no trânsito, passando pelos machos que coçam os tomates antes de apresentarem a mão para cumprimentar quem atonitamente se lhe depara pela frente.


Quando se discutem as soluções, ainda existe a tentação facilitista de condenar o Governo por tudo e por nada. O Governo que, afinal é eleito por quem não tem preparação para eleger. E assim entramos num ciclo vicioso, que compete de facto ao Governo tornar virtuoso, isto é, promovendo a Educação para que o memos eleitor seja mais exigente nas próximas eleições.


Preciso acreditar que o eleitor que se peida em público, irá, um dia, deitar abaixo o seu muro de cimento e tijolo, não pintado, por concluir que não o fazer é um atentado paisagístico. Que esse eleitor passou a ter motivos para acreditar na Justiça, e que esta controlará os impulsos que ainda possam existir no seu vizinho para desrespeitar o seu muro de arbustos que plantou para substituir o de horrível betão.


Preciso acreditar que o eleitor que lança o seu lixo pela janela do carro, irá, um dia, questionar a mesma irresponsabilidade do seu semelhante. E, na altura de inscrever a cruz no boletim de voto, este eleitar sabe que está a condenar quem pactuou com a corrupção e a promiscuidade, e que espera estar a eleger quem acabará com as subvenções e os subsídios que perpetuam a preguiça, a incompetência, a mediocridade, a estagnação, a marcha-atrás como velocidade de cruzeiro.


Preciso acreditar que os eleitos terão, um dia, absorvido dimensão ética para trilhar o caminho da conquista da cidadania, em alta velocidade. Porque o tempo é escasso. Porque é preciso impedir que o Homem continue a destruir a sua própria Casa.


Preciso acreditar, porque sei que todos temos culpa, e por isso, escrevo como exercício de autoflagelação.



You have ennemies? Good!. That means you´ve stood up for something, sometime in your life - Winston Churchill
Caos CC

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ser Pai




Ser Pai é assumir uma forma de vida que quem não é pai não tem. Há uma responsabilização intuitiva que não existe em mais nenhuma relação. Há um vínculo invisivel que os pais foram tecendo ao longo dos anos e que os filhos pressentem dando-lhes uma segurança tomada como uma certeza sempre presente. Mas há mais. Há uma força centrífuga que os pais têm de aprender a dominar, para não cercearem as múltiplas liberdades que os seus filhos desejam adquirir. Da mesma forma que devem aprender a não viver apenas em função dos filhos. E é esta aprendizagem permanente que tem como objectivo evitar os desequilíbrios. Ser pai é assumir esta forma de vida.

Ser Pai é também ser receptor das alegrias e tristezas dos filhos. Sofrer com os seus sofrimentos. Tantas vezes, é sofrer em antecipação, porque adivinhamos os problemas que, muitas vezes, não se verificam. Tantas vezes, é sofrer mais que ele próprios. Se é que o sofrimento se pode medir...

Ontem, era porque os filhos choravam e não nos sabiam dizer porquê. Hoje, é porque uma filha está num país muçulmano de difícil vivência a fazer voos de transporte de peregrinos para Medina. Amanhã, é porque uma filha está a sofrer no seu casamento. Em todos os momentos, um pai gostaria de ter o poder de transferir para si os sofrimentos dos seus filhos.

Ser pai é ser assim. Mais sofredor que rejubilante. Outros pais não serão assim. Mas também não viverão a felicidade de ter as filhas que eu tenho.




Suset Maakal, Father and daughter

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Andar atrás do mundo







Não deveria ser assim, mas a verdade é que andamos atrás do mundo. São poucos os que têm poder para fazer o mundo andar atrás deles. Por isso o mundo continua um sítio mal frequentado, catalizador de injustiça, angariador de prémios para os menos escrupulosos.

Cada vez há mais melancolia, mais depressivos, mais egoísmo, menos paixão, os olhos piscam para disfarçar a falta de brilho, o riso só aparece em resposta à maledicência, a ostentação é o contraponto da vida. É raro ser-se feliz. É impossível ser-se livre.
Tornámo-nos aprendizes de feiticeiro.
Esquecemo-nos das estações do ano e elas agora atropelam-se baralhando as suas fronteiras. De povo que adorava o Sol, passámos a povo que ignora o Sol. Esquecemo-nos de admirar o nascer do Sol. Esquecemo-nos de sonhar com o pôr-do-Sol. Tal como nos vamos esquecendo dos múltiplos pormenores que preenchiam a nossa vida. Vida que está cheia de televisão e de solicitações que empurraram para fora de nós aqueles pequenos nadas que eram tanto, mas que nela deixaram de caber.
Vivemos numa sociedade onde tudo é relativo, e é esta relatividade que esconde os males. É o tempo dos eufemismos.
Resta-nos a adaptação a estes tempos, tentando a sobrevivência possível. Tentando viver em vida.

Este pensamento veio a propósito da revisitação que fiz à obra de Roy Lichtenstein, que conheci há vinte anos no Guggenheim de NY. É BD. É retro. Lembro-me da sua presença icónica numa cena derradeira de Lipstick on your collar do incontornável Dennis Potter. É BD. É o faz de conta. E o faz de conta é a alternativa para suportar o mundo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Irreverência com classe


Noite de verão algarvio. Brisa regeneradora para cabeças demasiado quentes. Umas três mil pessoas, muitos sem saber ao que iam, poucos aficionados, os incontornáveis fotógrafos à espera do nosso mundialmente conhecido jet set, muito bronze a ostentar muito cobre para desmentir a crise.

Durante mais de duas horas Jamie Cullum provou que está em palco como peixe na água. Muitos dos que não o conheciam passaram a gostar. Fazia falta uma corrente musical de origem jazzística que tocasse nas pessoas que dizem não gostar de jazz. Não é puro, mas é genuíno. E penso que o filão que ele persegue é inesgotável, pois pode pegar em muitos standards e pop-ularizá-los. Com bom gosto, como bom pianista que é.

Go Jamie.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Colina Verde sem o Tristão



Programme 2010
Sunday 25. July Lohengrin
Tuesday 27. July Das Rheingold
Wednesday 28. July Die Walküre
Thursday 29. July Parsifal
Friday 30. July Siegfried
Sunday 01. August Götterdämmerung
Monday 02. August Die Meistersinger von Nürnberg
Tuesday 03. August Lohengrin
Thursday 05. August Die Meistersinger von Nürnberg
Friday 06. August Lohengrin
Saturday 07. August Parsifal
Sunday 08. August Das Rheingold
Monday 09. August Die Walküre
Tuesday 10. August Parsifal
Wednesday 11. August Siegfried
Thursday 12. August Die Meistersinger von Nürnberg
Friday 13. August Götterdämmerung
Saturday 14. August Parsifal
Sunday 15. August Die Meistersinger von Nürnberg
Tuesday 17. August Lohengrin
Wednesday 18. August Parsifal
Thursday 19. August Die Meistersinger von Nürnberg
Friday 20. August Das Rheingold
Saturday 21. August Die Walküre
Sunday 22. August Lohengrin
Monday 23. August Siegfried
Wednesday 25. August Götterdämmerung
Thursday 26. August Parsifal
Friday 27. August Lohengrin
Saturday 28. August Die Meistersinger von Nürnberg

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os bozzetti de Ricci











Regresso a Veneza. A eterna. San Giorgio Maggiore. Uma exposição singular. Sebastiano Ricci. Mestre do século XVII que nos deixou monumentais pinturas e frescos em igrejas e residencias. Pela Europa ocidental. Em Londres negaram-lhe a pintura da abóbada da catedral de S.Paulo. Mas fez dois tectos da Royal Academy e decorou a casa de Lord Burlington.

E com ele aprendeu Tiepolo, cujo génio ultrapassou o Mestre em fama.

Nesta exposição - só até dia 11 deste mês - fica, todavia, demonstrada a sua inultrapassável genialidade na execução dos esboços, das provas que serviriam para obter a aprovação do patrono que encomendara a obra - os bozzetti. Daí ser uma exposição singular.

Porventura é apenas por gostar de Veneza que gosto de Ricci. E esqueço que tentou, na sua juventude, envenenar a namorada engravidada. Tal como esqueço que me pedem todos os dias para pagar os erros dos políticos.