A
Lua
O Menino pulava e
esticava os bracitos
Lá em cima, muito
alta, a Lua sorriaIluminando quem a via e quem a ignorava.
E o Menino gritava
com alegria ingénua:
Quero a Lua,
dêem-me a LuaE quero um tostão,
Para rebuçados.
Carinhosa, a Mãe explicava-lhe
Um tostão não vale nada
E a Lua está tão longe,
Aqui tens rebuçados.
Sem pestanejar, o
Menino insistia
Não Mãe, eu não
quero a Lua aquiEu quero ir para a Lua
E levar rebuçados de tostão.
A Mãe ria a bom
rir, querido Filho
Então deixavas
aqui a MãeQue nunca mais te via
Nem te dava rebuçados.
De braços tão
abertos quanto o seu sorriso
O Menino
agarrou-se à MãeDerretendo-a com o calor do seu amor.
Ó Mãe, tu
derretes-te como um rebuçado
De tostão, tal
como eu sempre quis.Então, não vês que a Lua não existe.
Infinitamente consumidor
Dos nossos dois seres
Era um processo químico.
Completo engano,
pois sei agora
De sábia sabedoriaQue é antes alquimia
Nunca, por nunca, acabada.
Aprendemos a
correr fora do nosso corpo
Ao encontro um do
outroConstruindo a materialização
Que nos justifica, dia após noite.
Viciámo-nos na
infindável absorção
Da força da
respiração de cada umConstruindo a materialização
Que nos justifica, noite após dia.
O Puzzle
E sem dar por isso,
cresce.
Um dia, decide parar
E observar a sofreguidão da sua respiração.
Senta-se numa sala sem luz
E começa a ver o filme da sua vida.
As primeiras imagens, são as mais
recentes
E a sua cor cinzenta desaponta.
Sucede-se uma vertiginosa aceleração
E encontra os fotogramas nas cores
vivas da sua infância.
Agora, sem pressa, concentra-se
E encontra a criança que um dia decidiu brincar.
A criança que cresceu,
como
um puzzleE que hoje, decidiu parar.
Por ter sentido que faltava
uma
peça,E que essa peça seria o seu nirvana.
Mas que, depois de
revisitar a sua vida
E de recordar
todas as imagens passadas,
Sentiu o peso
insuportável da frustração
E o vazio de uma
vida por preencher.
Afinal, não lhe
faltava só uma peça.
É que todas as
outras estavam erradas.
Recomeçar?
E porque não?É vital viver,
E para viver há que brincar.
E sonhar.
E rir.
E partilhar.
Assim se constrói
o puzzle.
E Hopper, eleven am.
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