Dedos
Teus dedos de
volúpia escreveram-me
Tremi de
inquietação ao segurar a folhaNotando no papel a ausência do teu cheiro.
Li sem ler,
procurando não sei o quê
Reli e então
ouvi-te e cheirei-teDizias-me no meio do teu riso provocador
Que não te tinha deixado dormir
E que tu não quiseras adormecer.
Quis responder-te
mas não consegui
Era-me difícil
imitar os teus dedosA folha de papel oscilava fugindo de mim.
Notei que queria
ser rápido a responder
Ainda que tu não
esperasses resposta,Lembrei-me de te enviar um e-mail
Que enviei, para logo me arrepender;
É que assim não sentirias inquietação.
Dizia-te que a
noite tinha sido feita para nós
E que onde cada um
quer que estivesseNada nos impediria de nos visitarmos.
Calculei que a tua
resposta viria nessa noite
Acordaste-me com
os teus dedos de veludoPoisados descansadamente nos meus lábios,
Ponto de partida para me acariciares o corpo
Sedento do que não mata a sede.
A escuridão da
noite fugia por entre os teus dedos
Cada carícia tua
deixava um rasto luminosoQue eu seguia para encontrar as tuas mãos.
Teus dedos de volúpia, escreviam no meu corpo
Rasgando-me a alma, metade minha, metade tua;
Atravessei pântanos e percorri florestas
De intimidade desconhecida, tua e minha;
No meio da preguiça amei-te até adormecer.
Sonhei que te vira
partir montada numa vassoura,
Trepei ao telhado
que a lua fazia brilhar,Hipnotizado pela tua graciosidade;
Ao longe, os teus dedos escreviam no céu:
Quero ver-te hoje, e beijar-te entre o sol e o mar.
Luxúria
Abraço as imagens
que tenho de ti
Faço-as dançar
para mimPeregrino do prazer
Devoto da volúpia.
Dispo as imagens
que tenho de ti
Faço-as desejar-mePeregrino do prazer
Devoto da volúpia.
Amo as imagens que
tenho de ti
Fazem sentir-mePeregrino do prazer
Devoto da volúpia.
Queimei as imagens
que tenho de ti
Varri os meus
devaneiosDesmontei o espectáculo íntimo
Ficaste apenas tu.
Abandonada na
imensidão do meu desejo
Entregue à minha
vontade de te conhecerConstruíste-me memórias insuspeitadas
Em cenários desconhecidos.
Agora provo o teu
paladar indomável
Asperjo a tua
intimidade, gota a gotaViajamos colados, seres entrelaçados
Fundidos numa autonomia indistinta.
Atravessamos,
semiconscientes, tempestades
Agarramos, com
gozo, relâmpagos e raiosSomos peregrinos do prazer,
Somos devotos da volúpia.
Luz
Que me faz acreditar nos amanhãs
Que me deixa respirar-me
Que faz brotar de mim a minha luz
Com que te ilumino para melhor receber
A luz com que me afastas do meu poente.
Nuvens
Mal amparadas umas nas outras
Numa precipitação sem recuo
Abatendo-se sobre a cidade.
Na cidade, as
pessoas estão distraídas
Mal habituadas a
ver nuvensNão conhecem os intervalos
Entre mágoas e alegrias
Entre trabalho e lazer.
As nuvens penetram
sem tocar
Anunciam os
intervalos que ninguém senteBrincam e querem companhia que ninguém dá
Mas não desistem da cidade.
Na cidade, as ruas
de gente respiram
Mágoas e alegrias,
trabalho e lazerAté que as crianças saem das escolas
Em nuvens de energia brincalhona
De mãos abertas para agarrar as outras nuvens.
As nuvens entram
pelas crianças adentro
E os adultos não
vêem que elas sobem ao céuRindo alto e sem recuo
Alheias a mágoas ou alegrias.
Bem amparadas umas
nas outras
As crianças
brincam com a cidade que levitaAgitando as pessoas distraídas com o consumo
Das suas mágoas e alegrias
Dos seus trabalhos e lazeres.
Até que as
crianças desistem da cidade
Como abelhas de
uma colmeia desorientadaE puxando pelos braços dos pais
Crescem até ficar da sua altura.
Agora tão altas
deixaram de ver as nuvens
Que mesmo assim
não desistem da cidadePorque esperam a hora da saída das escolas.
FL Wright
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