A
Rosa
O amor às escuras
tropeça
Sem faro e cegoPercorre caminhos secretos
Sem pétalas
Tacteia na memória e no sonho
Sem adormecer
O amor torna-se
longínquo
Sem verão e sem
primaveraAbandona-se à intempérie
Sem chuva ou sol
Cravejado de espinhos
Sem sangue ou dor
O amor não tem
feridas
É uma rosa que não
se vêCom pétalas que são caminhos
Onde se atravessam espinhos
A menos que este
choro
Da minha alma Seja de dor
E estas lágrimas
No meu peito
Sejam sangue
E a rosa sejas tu.
A
Manhã
Mas é engano sem ser feitiço
De facto, desce cada vez mais
Enterrando as trevas sob os seus pés
Empoleirada nos meus ombros
Às cavalitas da minha perplexidade
Eu não quero esta manhã!
Nem mais uma manhã!
Para onde vai o
meu querer
Tão frágil, todo
ele feito de sonhosEsfumados todas as manhãs
Evaporados no enterro de cada noite
Destruídos por esta manhã
E por todas as que se lhe seguem
Eu não quero esta manhã!
Nem mais uma manhã!
E a manhã tomou a
forma do rio
Onde não me quero
afogarE desenhou a montanha
Onde não me quero perder
Não quero ter a certeza
De que amanhã haverá outra manhã.
A
Ternura
É solfejo que desafina
Já não procuro nos desencontros
Ternura igual à dos meus sonhos.
Olho as tuas
fotografias amarelecidas
Vítimas do tempo
sussurradamente eternoMostram-me o mundo que me é externo
Castigam-me com a memória do que me é interno
E deixam-me o sabor faminto de cada teu gesto terno.
Já não procuro nos
desencontros
Ternura igual à
dos meus sonhosBusco antes os sonhos
E não os encontro.
C. Brown, girl on the swing
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