Guincho
Sento-me nas suas areias, entregue aos seus ventos
Ele é o meu paraíso de memórias percorridas sem arfar
É o meu viveiro de sonhos acabados, cheio de novos rebentos.
O Guincho existe
para além das areias
Banho-me nas suas
águas purificadorasEle é o incubador de esperanças alheias
É a minha sacristia de orações redentoras.
O Guincho existe
para além de mim
Contigo, nele me
sento e banhoEle é a água e o sol do nosso jardim
É a concha que protege o nosso amor tamanho.
Ver
e Olhar
E paro, como se esbarrasse com a vontade de viver,
Vejo o teu olhar e noto como és diferente
De quem quer que já tenha estado à minha frente.
Habituei-me ao
olhar vazio dos que caminham sem viver
Atravessando vidas
desertas pelo deserto de uma vida,Vejo o teu olhar que me devolve a esperança
Num mundo onde viver seja uma dança.
A tua alegria, que
não deixas ninguém ver
Está por detrás
dessa máscara,Vejo o teu olhar brilhante, outrora baço
Quando me deixas envolver-te no meu abraço.
Vejo o teu olhar
caminhar até ao meu
Trazendo-me um
perfume de viver só teu,Embaraçada com a tua nudez assim exposta
Soltas umas lágrimas que bebo depois de beijar
Para não serem uma cortina entre o nosso olhar.
O
Fantasma
Voltámos a vegetar, embrulhados na realidade
Regressou o olhar vago e triste
Despimos o amor
Lançámos o sentir ao poço da nulidade.
À noite, lá está o
nosso amor
O luar entra-lhe
de frenteTal como o sol já o fizera, sem maldade
Nota-se que está enrugado
Já só o vestimos em dias de festa.
Não conseguimos
esquecê-lo nem vê-lo
Sabemos que está à
janelaCom as luzes apagadas
Passeia-se como um fantasma, pelos nossos sonhos
Assombrando-nos a realidade.
Fugir
Mas por onde eu vá, vejo-te;
Não quero mais desejar-te
Mas no que quer que eu faça, sinto-te;
Fujo de fugir-te
Mas procuro esquecer-te.
Rasgo folhas de calendário
Entrecortadas de recordações;
Como é penoso este calvário
Onde se destroem as ambições.
Balanço entre o
querer e o não querer
Numa balança que
não tem fielRespiro para sobreviver
Mas o ar sabe-me a fel.
Preciso parar de
fugir,
Não de ti, mas de
mim;Tenho urgência de voltar a rir
Um riso puro que te reconstrua
Que te devolva a beleza nua
Onde o princípio não tenha fim.
A
Arte
Às Artes, às Artes
Contra a
inexpressão, marchar, marchar.Ser Artista é querer desaparecer
No útero que nos conceber
É dar forma aos sonhos
Que nos assombram
os dias e as noites.
A Arte é uma manipulação
Do Artista pelo Artista
É dar forma ao Amor
Que paira nos sonhos
do nosso torpor,
Um Amor que nos quer assassinar
Nos sonhos sonhados e por sonhar,
Um Amor que nos rouba a paz
Entre esta ou qualquer outra inquietação.
Toledo
Toledo me mata de
encanto
Todo o casario é um
espantoPassear nas suas ruas é viver para trás
Solidificando a vontade de viver para a frente.
Para saboreares o
seu frio dei-te um manto
Tu aninhaste-te em
mim, como num cantoOlhavas para mim e não me vias
Eu via-te sem te olhar.
A Toledo hei-de voltar
Encontrar-me com o
seu ar frio;Desta vez não precisarás de agasalho
O teu corpo já não treme,
Habituado às minhas lágrimas de orvalho.
Por Toledo vale a
pena vaguear,
No seu rio, os
olhos repousar,Noite e dia, ter o corpo para cansar,
Ao sol e à lua, a vontade de te amar;
Com Toledo passo as noites a sonhar.
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