As
Estações
Enches-me o eterno Inverno
Em que me movimento,
De Primavera.
Sopras-me
provocações carnais
Aos meus ouvidos
Outonalmente adormecidosFazes-me chegar de repente
O Verão.
Sacias-me sem
limites
Cansas-me o corpo
EstivalReceio o envelhecimento
No Outono.
Unes-te a mim
Cantamos a
Primavera em uníssonoDerrotamos os receios
Venha o Inverno.
O
Barco
Procuro o meu Eu
O vento sopra forte
O barco desequilibra-me
O meu Eu é mutante.
Velejo solitário
Em busca do
horizonteO sol alterna com a chuva
O barco flutua no equilíbrio
O meu Eu é mutante.
Velejo solitário
Procuro a tua
companhiaEncontro o teu riso
O barco afunda-se
O meu Eu é náufrago.
Velejo sem barco
À bolina contigo.
Alma
A alma vem-me à boca,
Fala-me da saudade
De respirar os teus suspiros.
Faz-me sangrar sem sangue.
Salto por cima das
ruínas das recordações
A alma vem-me à
boca,Fala-me do vazio do prazer
Perdido nos destroços da satisfação.
Faz-me sangrar sem sangue.
Absorvo com
sofreguidão as sensações
A alma vem-me à
boca,Fala-me dos encontros com o prazer
No exterior da satisfação.
Faz-me sangrar sem sangue.
Respiro ar
fatalmente saturado de sensações alheias
A alma vem-me à
bocaFala-me do prazer que não sinto
O prazer dos outros.
Faz-me sangrar sem sangue.
Encontro-te
encontrada
A alma vem-me à
bocaNão me fala
Dissolve-se em farrapos.
Farrapos de alma não fazem sangrar.
A alma escorre
inerte
Na boca sabe a mel
e felMacia como veludo
Mistura-se no meu sangue
Misturado com o teu.
O mundo absorve
todas as cores
Os pedaços de alma
juntam-seNum milagre pagão
O nosso sangue adquire força
A força do desejo de sermos um.
Sexo
A música flui
Sem ser ouvidaCada instrumento freme
Ao ser tocado
Junta novos timbres
À voz que se faz ouvir
A orquestra ouve-se
Com prazer
O sangue aflui orientado
A partir dos ouvidos
O entumecimento fálico
Penetra na humidade
Participando numa orgia de sons
Até à explosão orgástica
Da nossa união
Até ao acalmar
Da nossa respiração
Até ao esbater
Da nossa excitação
Terminando num prelúdio
À minha necessidade
De me transferir
Para dentro de ti
Tocando os compassos
De uma nova afluência
De sangue-vida
À tua necessidade
De me receber
Bem dentro de ti
Em toda a glória
De um prazer sem fim
Bebido
Gota a gota
Pelo cálice
Das nossas mãos
Unidas
Numa visibilidade
Invisível
Ritmada
Pelos nossos
Espasmos
Libertadores
De odores
Libertadores
Da excitação
Não mais contida...
...Um prazer sem princípio nem fim...
E Munch, the scream
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