Coração
de prazer
Uma forma que me entra, sonoramente
Pelo ouvido, que colei ao teu peito,
No suave batuque orquestrado pelo teu prazer.
Imagino a dimensão
do teu prazer
Uma dimensão que
me inunda a partir de dentro, a eito,Até à pele, colada ao teu corpo fremente
Na suave fusão, orquestrada pelo teu coração.
Sinto então não
sei que forma ou dimensão
Meu corpo
defeituoso, forrado sem defeitoPela música do teu coração batente
Meu prazer sem fim, dançando com o teu infinito prazer.
Não,
Sim, Talvez…
Não sei as horas
Não é tarde nem é
cedoNão sei que noite é esta
Não me lembro de ter visto o dia
Não me sinto perdido
Não preciso de abraçar a alegria
Não canto nenhuma canção
Não sei as horas
Não tenho medo
Não tenhas medo de viver
Não te escondas dentro de mim.
Sim, o amor é azul
Sim, as estrelas
riem comigoSim, apetece-me cantar bem alto
Sim, às vezes tenho vergonha
Sim, olho demasiado para o umbigo
Sim, corrigir-me-ei, palavra de amigo
Sim, o azul fica-te bem
Sim, o amor é azul
Sim, o teu corpo também
Sim, quero casar contigo.
Talvez não existam
certezas
Mas os teus olhos
existemTalvez eu tenha alucinações
Mas as tuas mãos acariciam-me
Talvez a confusão me tenha invadido
Mas a tua boca é saborosa
Talvez a imaginação ande à solta
Mas só o teu corpo me dá prazer
Talvez não existam certezas
Mas não sei viver sem falar contigo
Talvez tu não existas
Mas o meu amor cresce contigo.
Linhas
das mãos
Com os olhos ansiosos por um sinal
Dói-me a vista, cansada de tanto fixar
Linhas onde tu estás e eu não te vejo.
Acaricio uma mão com a outra,
Na procura de um beijo
Nunca amar me fez tanto mal
Ao deixar, por completo, de acreditar
Que eu não existi nunca
Até que me senti nas tuas mãos.
Exausto e faminto,
fecho as mãos
Por elas deixo
escorregar as linhasPara, de imediato, formarem um altar
Onde me ajoelho de mãos postas.
Orando não sei a
quê, quem ou porquê
Apenas mudo comigo
mesmoApagando sorrisos moribundos
Enxugando lágrimas não convocadas.
Preces que não
conhecia, foram ouvidas
As linhas
desmancham o altar improvisadoDesenhando à minha frente o paraíso:
Começam pelos teus lábios, acabam no teu sorriso.
Voo de mãos
abertas
Para agarrar a tua
formaE por magia, as linhas esfumam-se
Deixando o teu cheiro.
Os meus olhos
bebem o teu cheiro
O lenitivo que
lhes dá descansoPoisam nas minhas mãos de novo
Encontrando as linhas onde tu estás e eu te sinto.
O
Vinho
Vinho é néctar
escrito com o sangue
Pulsado pela
alegria de viver.Beber e sentir os seus taninos
É expulsar o medo de morrer.
Beijar os teus lábios molhados de vinho
É soltar uma alegria que existe com mágoa
E sonhar com a felicidade de um ninho
Nas hastes de uma videira.
Os teus risos são
bagas de uva
Prenhes de sumo
que me dás a beberE que dentro de mim vou fermentar
Para não mais te esquecer.
O
Corpo
Inundam-me os olhos
Afogando-me os sentidos
Na tempestade dos sentimentos.
Desejo rir sem
parar
Nas cócegas do teu
corpoSentir o teu prazer nadar
Nas cócegas do meu.
Cobiçado pelos
arquitectos da estética
O teu corpo é a
belezaImpura, por tornar belas as impurezas
Que só o Grande Arquitecto soube moldar.
Numa ansiedade
feliz e orgulhosa
Por o teu corpo me
desejarMergulho cada vez mais, na tempestade saudosa
Afogando a ansiedade para mais te amar.
O
Velho
O velho arrasta a sua existência
Como acessório de um banco de jardim
Por onde agora espreita sem paciência
Outras vidas que já não quer consumir
Mas a que se agarra, sem fome
Parasita frustrado, sem princípio nem fim.
Velho a quem os alimentos contamina
Gasto das lutas contra a ciência
Cansado de rejeitar qualquer vitamina,
Nestes dias de uma única alegria
Aquela que chega com o anoitecer
Carregada da esperança fúnebre
De que amanhã não haja dia.
Basquiat, riding with death
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