Sentir
Eu sinto!
Vejo os teus olhos
sem te ouvir
Toco nas tuas mãos sem te verSaboreio o teu corpo sem te tocar
Oiço o teu respirar sem te saborear
E, no entanto, mergulho nos ciúmes
Porque o Mundo inteiro cheira a ti.
O mar cheira a ti
Quando, ao molhar os meus pés,
Ele te traz em forma de sereia
Etérea
Intocável na tua fragilidade.
As flores cheiram
a ti
Quando as minhas
mãos as colhemE elas se transformam no teu riso
Cristalino
Inatingível na sua efemeridade.
Os pássaros
cheiram a ti
Quando os meus
olhos os seguemE eles, em voo, desenham o teu nome
Volátil
Impronunciável na sua intimidade.
O ar traz o teu
cheiro
Quando as pessoas
se cruzam comigoE me lembram cada gesto teu
Delicado
Impensável na sua infantilidade.
O sol irradia o
teu cheiro
Quando me toca na
peleComo se me aquecesse no teu calor
Calmo
Glorioso na sua serenidade.
O Mundo tem o teu
cheiro
E, mergulho mais,
sempre maisNos ciúmes que me querem afogar
Por eles próprios terem ciúmes de mim.
Afinal, o Mundo
não sabe
E não senteQue, quando te abandonas em mim,
Todo eu te toco,
Inebriado,
No cheiro do teu paladar,
Que me faz ouvir-te e ver-te:
Enfim, Sentir-te!
E sentindo-te, sinto-me!
Eu sinto!
O
Renascimento
Desce a noite
Sustentada pelo
renascimento
Da esperança
Na ascensão da
aurora,
Não de mais um
dia,
Mas sim, de um
novo dia.
Irrompe esse dia
Enfeitado com
querubins
Cantando glórias
Ao advento do
anoitecer
Não de mais uma
noite,
Mas sim, de uma
nova noite.
Acordar-me-á da
vigília
Em que a minha
alma se pôs
Desde o dia em que
descobri
Que eras minha
irmã,
Gémea de dentro para fora
Siamesa de fora
para dentro.
Essa noite-dia, eu
sei
Adormecerá a
superficialidade
De um mundo
cansado,
E encarregar-me-á
da redenção
A que aspiro
contigo, minha irmã,
Gémea de dentro para fora
Siamesa de fora para
dentro.
Um belo dia,
Acordados de uma
bela noite,
Sorriremos numa
luminosa luz,
Pois a redenção
aconteceu
E trouxe o nosso renascimento.
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