Angústia
A angústia
colava-se-me aos lábios
Numa promiscuidade
insuportávelCom a minha natural humidade labial.
Queria falar, mas ela tapava-me a boca
Saíam sons desarticulados e aflitos.
Neles se notava já o timbre
do desassossego.
A angústia
empurrava esses sons de volta
Para a minha boca
precocemente impotenteFixando-me a rota da decadência.
Prazeres passados desfilavam perante os meus olhos
Doendo-me o esforço inglório para os fechar.
O epicurismo vitorioso troçava
da sua vítima.
A angústia
copulava com o epicurismo
Eu, impávido,
deixava escorrer as sensaçõesPara um marasmo de sentidos moribundos.
A meus pés jaziam livros mudos, discos mudos
Que os meus olhos e ouvidos já não sentiam.
A minha subjectividade tinha-se perdido.
sem rasto.
A angústia saciava
o seu apetite
Engolindo a minha
subjectividadeDeixando-me orfão de mim mesmo.
Restava-me esperar o sono que não vinha,
Embrulhar a alma numa religião sem nexo.
Nunca mais acordar seria matar
a angústia.
A angústia
agonizava lentamente
O tempo passava
cada vez mais devagarO meu entorpecimento mexia as pálpebras.
Regressavam os sentidos e vi Deus olhar-me sorridente
Como quem olha entediado para um brinquedo.
Aterrorizado, procurei fugir e beijei
a angústia.
As
Pérolas
As minhas lágrimas
secaram
No próprio útero
maternal,Já não me molham as faces cavadas
Já não despertam a solidão
Deste sono inevitável.
As minhas lágrimas já não se materializam
Em pérolas de emoções.
As minhas lágrimas
morreram
Sem esperar por
mim,Numa expressão extrema de crueldade
Numa infrutescência obcecada
Desta secura sem fim.
As minhas lágrimas anunciaram-me
O entardecer da vida, das emoções.
As minhas lágrimas
partiram
Abandonando-me no
seu arrefecimento, Sem que eu, o desejasse ou contrariasse
Sem que eu me sentisse traído.
Transformaram-se em pérolas sem valor
Baças, uniformemente iguais
Excreções decorativas sem emoções.
As
Árvores
As árvores
mexiam-se sem restolhar
As folhas e os
ramos ora se aproximavamOra se afastavam de mim.
As árvores
cercavam-me sem dançar
As folhas e os
ramos segredavam-me sonsQue eu não conseguia entender.
As árvores
aproximavam-se sem me pisar
As folhas e os
ramos perante a minha mudezGritavam por água,
Clamavam pelas minhas lágrimas.
FL Wright
Sem comentários:
Enviar um comentário