O
Mar
Este peso que paira sobre mim.
Liberto-a, libertando-me...
Na sublime
suavidade da brisa
Essa energia é
conduzida ao marPara onde me dirijo quando estou perdido.
Descalço, os meus
pés acariciam a areia
Eternamente
acariciada pelo marAgora dono provisório daquela energia.
Deixo a espuma
timidamente tocar-me,
Convidando-me para
uma cerimóniaEm que o mar é sacerdote.
O mundo real
desapareceu
Agora só existem
as ondas e euNum ritual de purificação.
Nu de corpo e alma
Recebo ondas de
outra energiaOndas que me falam de ti.
À medida que te
vou conhecendo
Vislumbro a forma
de uma sereiaQue, em oração, me fala da energia recebida.
Tocamo-nos sem contacto
Choramos lágrimas de felicidade
Que escorrem pelos nossos corpos.
Lágrimas que
abraçam o mar,
O mar que chora
feliz Por te entregar a minha energia,
O mar que se lava
nas nossas lágrimas, feliz
Por me entregar a
tua energia, E nos abençoa.
A
Procura
As lágrimas ardentes de ontem,
Arrefecidas pela desilusão de não me conhecer,
Voltaram a formar o casulo do meu passado
Para onde irei hibernar.
Vou regressar ao
sono eterno
Sem precisar da
sombra da árvore da tristeza.Não mais amarei a tua beleza,
A da solidão de um nenúfar.
Procuro o meu passado para hibernar.
Bem cedo desisti
de procurar
O triângulo do meu
equilíbrio.Até que tu apareceste,
Tocando com as tuas mãos de seda
No meu casulo de hibernação.
Apareceste no meu
vazio
E voltou a
necessidade de procurar.Tudo o que procurava encontrei em ti,
Na magia da tua omnipresença,
Acordaste-me da hibernação.
Julguei que te
tinhas fixado
Na profundidade
dos meus olhos,E que tudo era claro, tão transparente
Como as tuas lágrimas.
Assustaste-te com a escuridão da minha hibernação.
Vejo-te confusa e
perplexa
Deixas-te assaltar
pela dúvidaE perguntas-me o que procuro,
Se ainda preciso procurar.
Se ainda não acabei a hibernação.
Não vejo o casulo
e sinto-me acordado.
Ferido por
palavras cravadas na carne,Enterradas no funeral da esperança
Que se afunda em piroga putrefacta,
Sinto próximo o sono da hibernação.
Voltam as sombras
frias
O prazer de
arrefecer vem aquecer a alma gelada.Não vale a pena continuar a procurar o que não existe.
Os soluços que oiço são ilusões desfeitas pela incompreensão.
Sinto próximo o sono da hibernação.
A raiz do mal de
viver
Cresce, regada
pelos soluços,Secos de esperança,
E segreda-me: não existe ninguém mais.
Sinto a urgência do sono da hibernação.
Anestesiado pelo
frio, quase esqueci o sol.
Vejo-o e vejo-te:
como é lindo o teu sorriso.Existe alguém, também ferido mas sorridente: tu.
Envergonhado por te decepcionar
Luto contra o sono da hibernação.
Sinto que não
presto.
O sofrimento
passeia à minha volta,Semeado pela semente da infelicidade
Que cresce em mim.
Não tenho força, quero hibernar.
As chamas da destruição
Não me conseguirão purificar.
O meu olhar está vazio, sem alma.
Sem procura,
Adormeço na hibernação.
Volto ao meu
casulo,
À ausência da
procuraÀ rejeição das tábuas de salvação
Que encontrei e nunca procurei.
Volto à hibernação.
Conheci quem me
completasse,
Quem justificasse
a minha existência.Mas acabou. O meu vírus da procura afastou-a .
Mais vazio que nunca,
Vou viver no vazio da hibernação.
O vazio tem todo o
tempo do mundo
Para manter o meu
corpo biológico,Inerte, sem desejo, sem vontade.
Apodrece corpo! Depressa! Nada mais vale a pena!
Acaba com esta maldita hibernação!
Apodrece semente
indestrutível!
Preciso isolar-me.Na solidão, a semente da infelicidade
Não crescerá, nem contaminará ninguém.
O casulo da hibernação será destruído.
Estou de luto por
mim e por ti.
Não me perdoarei
perder-te.Não quero hibernar, tenho tanto para te dar.
Preciso tanto do que tens para me dar.
Não quero hibernar.
Tu és tudo o que
eu quero
És o único
antídoto deste sono letalTu és a chama do meu ego
Ainda que sejas uma ilusão cruel
Que me empurra para o soluço desta dor.
Quero conquistar-te vezes sem conta
Não, pelo prazer que um lírio tem
Ao ser beijado e aspergido por um beija-flor.
Mas sim, para me ultrapassar a mim próprio,
Com a certeza que o amanhã existe.
Contigo.
Sinto o mesmo
querer da tua parte
Conquista-me vezes
sem contaNão, pelo prazer que um beija-flor tem
Ao beijar e aspergir um lírio.
Mas sim, para te ultrapassares a ti própria,
Com a certeza que o amanhã existe.
Connosco.
A iluminação dos
deuses
Desce sobre as
nossas cabeças;A música espalha-se pelo nosso corpo.
O amanhã é agora.
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