segunda-feira, 31 de agosto de 2009

La donna

La donna. "A mulher" soa lindamente em italiano. Continuo com obras de Alberto Sughi, que descobri recentemente. Ilustram a Mulher. A mulher é o antídoto para a depressão dos dois posts anteriores (ironicamente separados pela silly season). Mesmo feia, se tiver uma séria dose de sensualidade, a mulher torna-se a atracção que apetece consumir. Consumir é viver. Vivê-la. E vivê-la é vivermos.

A mulher que não apetece consumir, é a que não evidencia inteligência. A que olha apenas para a superfície dos espelhos. A que diz que colocou silicone, mas que pediu ao médico para achatar... o cone. Silly. A que abre desmesuradamente os olhos quando não entende o que se lhe diz. A que não pestaneja, quando lhe dizemos que o mundo acaba dentro de 13 minutos. A que não ri. A que não... nos atrai. Porque nos afasta. Estas mulheres estão reservadas para os homens que as outras mulheres não consomem.


La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento — e di pensiero.
Sempre un amabile,
Leggiadro viso,
In pianto o in riso, — è menzognero.
È sempre misero
Chi a lei s'affida,
Chi le confida — mal cauto il cuore!
Pur mai non sentesi
Felice appieno
Chi su quel seno — non liba amore!
Já Verdi assim pensava. Mulheres e Homens de letra maiúscula, de facto não abundam, e por isso aclama-se a sensibilidade feminina. Válido juízo, mas pouco exigente. No quadro acima vejo a triste normalidade. Uma mulher num despojar de sensibilidade, numa pose de espera desalentada, por algo ou alguém que a faça vibrar, estremecer do tédio. Viver.


Tudo isto porque "a mulher" soa lindamente em italiano. La donna.

Viver até pentear cabelo cinzento




A frase do título é de Yeats: ele achava que um homem deveria viver até pentear o seu cabelo cinzento ("live to comb gray hair"). Até ficarem com cabelo cinzento ou branco, homens e mulheres deviam viver com qualidade de vida. Sabemos que há - infelizmente - muitas pessoas de cabelo preto ou castanho que vivem sem qualidade de vida. Por isso, devemos ser mais ambiciosos do que Yeats: não basta viver até tarde, há que viver com qualidade.


Refiro-me às múltiplas facetas da falta de qualidade de vida.

Olho para as duas pinturas de Alberto Sughi (interno, mulher e marido) e vejo um reflexo de má qualidade de vida. Ouve-se o silêncio de quem nada tem a dizer ao outro. O abandono do corpo à solidão acompanhada. A anestesia dos pensamentos engaiolados. Pensamentos que esvoaçam em círculo, sem que a gaiola os deixe partir para a realização. Assusta esta falta de qualidade de vida. E ela anda por aí. Cada vez mais.