quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Manifestações artísticas



Quantas vezes dou por mim a ver ou ouvir manifestações de arte, com letra muito pequena.

Como a absorção dessas manifestações é subjectiva, passo por cima da hipótese acusatória de eu não a compreender. Porque, para mim, a Arte não é essencialmente para ser compreendida, mas sim sentida, por todos os sentidos.

Dos abstracionismos que nada me dizem, até às instalações que literalmente gozam com o espectador; da música experimental até às performances que só visam chocar o espectador; do vestuário criado para absoluto desconforto até à cozinha gourmet mais avessa ao prazer do consumidor. Tanta arte feita apenas para ser diferente, para chocar sensibilidades e chocar contra o que existe. Enfim, arte feita para esconder a capacidade de inovar, de criar, algo que seja aprrendido com prazer.

Porque razão se assiste a uma movimentação galopante destas manifestações de arte? Sempre houve disrupção com o estabelecido: a Arte é disruptiva. Mas ultimamente assiste-se a um multiplicar de nadas que, me parece, reflectem a sofreguidão de viver um presente, de qualquer maneira, sem sofisticação que eleve a qualidade humana, porque se tem medo do futuro.

Estas manifestações de arte não são, de facto, o meu carpe diem.

P Calapez, arte sem querer

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Opera inspirada em Filme



A ópera reinventa-se. Para além da sua inserção nas novas corrente musicais, ela abraça agora a inspiração que alguns filmes lhe dão.

O compositor Thomas Adès estreia este ano The Exterminating Angel, inspirado no filme do mesmo nome de Luis Buñuel. Aqui o surrealismo a não facilitar a aparição da banalidade.

Pela sua forma de filmar as emoções, creio que Hitchcock daria um bom "realizador" de ópera. E sei a falta que faz um grande director nas produções operáticas dos dias de hoje (va de retro Castorf). Inspirado no seu Marnie, vai também estrear a ópera homónima de Nico Muhly.

Estamos, então, perante uma nova corrente, em que os libretos se vão inspirar nos filmes. E aqueles exemplos não são os primeiros a marcar esta tendência. Nina Stemme já fez o papel da Ingrid Bergman (outra vez Hitchcock, agora com Notorious) na ópera Notorious de Hans Gefors. Talvez a primeira experiência tenha sido em 2000, com Dead Man Walking, de Jake Heggie, que a repetiu com It´s a Wonderful Life de Frank Capra.

Mas parece que a tendência está agora a acelerar: Este ano já estreou a Autumn Sonata de Sebastian Fagerlund, baseada no filme de Ingmar Bergman; Charles Wuorinen compôs a sua Brokeback Mountain; Olga Neuwirth pegou no Lost Highway de David Lynch; Missy Mazzoli adaptou Breaking the Waves de Lars von Trier (este senhor foi sondado para fazer o Anel em Bayreuth, o que prova que existe uma ligação entre a direcção de um filme e a de uma ópera); Poul Rudders pegou em Dancing in the Dark, também de Triers.

Que se passa então? É só uma corrente natural entre Livro, Filme e Ópera (recordo o Parsifal de Hans Jurgen Syberberg, porque me é muito caro, pois muitas outras óperas passaram a filme).
Mas, não será que existe um explicação mais comezinha para esta tendência? Creio que poderá também existir uma explicação comercial, na medida em que uma ópera de um filme sucesso de bilheteira, atrairá certamente mais público.

E aqui chegados, se assim se provar que as audiências operáticas aumentam com o fluxo Livro-Filme-Ópera, estaremos perante o alargamento dos horizontes hollywoodianos às salas de ópera. Será a fase dois do que o Met de NY nos dá todos os anos ao difundir as suas óperas nas salas de cinema selecionadas pelo mundo fora.

Resta esperar a que a composição musical supere a facilidade com que aquele fluxo pode cair na banalidade, e que o feitiço não se volte contra o feiticeiro.


Zao Wou-Ki

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Aspen, the magazine in a box

 

 


Aspen, the magazine in a box (não confundir com a homónima que hoje se publica). Uma grande ideia nascida em 1965. Uma ideia genial, a revista vinha numa caixa cheia de material representativo dos temas abordados editorialmente.
Uma caixa especial. Que seguiria uma temática em cada número: podia conter publicações desdobráveis, discos vinil, filmes 8 mm, etc. A revista pretendia ser um repositório do que se passava na linha da frente cultural de então. Literalmente, arquivando exemplares dessas manifestações artísticas.

No seu primeiro número, a editora Phyllis Johnson anunciava numa carta que a revista tinha por objectivo ser uma "magazine" no sentido original da palavra "magazine": um armazém. Que recolheria testemunhos do seu tempo, num formato 3D, incitando quem fizesse os anúncios para a revista, a seguir o mesmo princípio, fazendo incluir amostras dos seus produtos.

As tradicionais páginas agrafadas não existiriam enquanto formato da revista, e os artigos seriam unidades independentes de formato e cor diversos, ilustrados com todo o tipo de materiais, que fisicamente fariam parte da caixa.

Assim, esta maravilhosa aventura editorial, que a partir do seu terceiro número teve como editor Andy Warhol, atravessou a cena de performance nova-iorquina, o movimento minimalista até ao movimento Fluxus, recebendo colaborações, para além de Warhol, de David Dalton, George Macinus, Dan Graham, Brian O´Doherty, William Burroughs, Merce Cunningham, Gerard Malanga, John Cale e Velvet Underground, La Monte Young, Yoko Ono e John Lennon.
A mim, encantou-me a preciosidade da décima sonata de Scriabin num delicioso vinil.

Durou 10 números, morrendo em 1971 a linda ideia de transmitir numa caixa "all the civilized pleasures of modern living, based on the Greeek idea of the whole man as exemplified by what goes on in Aspen, Colorado, one of the few places in America where you can lead a well-rounded, ecletic life of visual, physical and mental splendor".

Uma viagem por aqueles dez números em www.ubu.com/aspen.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A Monarquia



Sempre considerei a monarquia a forma de governo menos má.
As personagens que encarnam o papel de soberanos têm tido, todavia, um desempenho descredibilizador da instituição Monarquia. É tudo um infeliz sinal dos tempos deficientemente cívicos. De gente cada vez menos preparada, e sem qualquer sentido de Estado.
Ontem à noite, foi a vez do rei vizinho. Numa intervenção cheia de expectativa perante os tristes acontecimentos na Catalunha, o rei falou para apontar o dedo acusador, esquecendo o seu papel, não produzindo qualquer esboço, sequer, de solução. Seguramente, conseguiu que o número de republicanos crescesse.
E assim, de reizinho em reizinho, se vai caminhando para o fim das monarquias. Em substituição da inutilidade monárquica, as repúblicas e os seus sufrágios abertos a todos os níveis culturais e cívicos, irão produzindo crises sem árbitro, ao livre arbítrio das mesquinhas ambições individuais e/ ou partidárias. Os exemplos abundam, e estremecemos com eles. Basta olhar para o outro lado do Atlântico.
Repito, só com um povo educado, a humanidade se pode desenvolver com dignidade e garantindo uma gestão governativa elevada.

Keith Haring, king and queen