sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Património desbaratado



O Estado mal gerido é um buraco negro. As provas multiplicam-se sem esforço.
Mas o que me tem estado(Estado!) atravessado é a desfaçatez com que se colocam serviços do Estado a funcionar em locais que bem podiam ser museus, tal a importância que o seu passado histórico acarreta.
Mas não, podemos dar-nos ao luxo de colocar a procuradoria geral da República no palácio Palmela e assim tapar dos olhos públicos um conjunto urbano de época que poderia ser visitado com interesse museológico. Apenas um de muitos outros exemplos, onde o Estado entrega a fruição diária de um edifício histórico a um serviço que poderia funcionar com maior eficácia num edifício moderno.
É contar e pasmar, com os edifícios do nossos rico património, entregues a serviços públicos, ou menos que isso...

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A poesia e a música




Por vezes umas quantas palavras empurram-me o pensamento para o desejo de as casar com música. Desta vez, estas vieram já acompanhadas e o resultado é superlativo.

Blue is not the colour of my voice
If I would sing in blue
 It would drain the oceans
Demolish the pale blue sky
Green is not the colour of my voice
It would deforestate the surface
 If I would be singing in green
Red is not the colour of my voice
If I would sing in red
It would be rage and bloodshed
Impossible to stop
So I sing what I sing best
Yes I sing what I sing best
Black
The blackest
Until it gets to the other side
And there's no more
No more darkness left
My voice doesn't sing to have a colour
But if I sing without a colour
I would diminish all the light
There's so much blackness in my repertoire
A lot of shadows in my arsenal
So I sing what I sing best
Yes I sing what I sing best
Black
I use up all the black
The blackest
Until it gets to the other side
And there's no more
No more darkness left"

Blixa Bargeld / Teho Teardo

Turner, Snow storm

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Amado, Manuel








Portugal pouco ama os seus, e nem na hora da despedida da vida se lembra daquele que foi o pintor da serenidade, dando.nos a percepção do invisível. Pouco amado o Amado que morreu. Ficamos sentados no seu jardim encantado.


segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Monty Python - 50 anos



Incontornável. É a palavra que me ocorre para referenciar o humor que este grupo nos trouxe há 50 anos. Que não parecem 50 anos, tal é a força de intemporabilidade que transmitem. E acima de tudo, a influência que exerceram e continuam a exercer nos nossos neurónios e nos daqueles que fazem do humor inteligente a sua forma de ver o mundo.


Keith Haring, Tree of Life

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

A Gulbenkian - 50 anos


Sou pouco dado a efemérides, ainda por cima quando elas se banalizam à tripa forra. Mas apercebi-me há dias que o complexo da Fundação Gulbenkian teve a sua inauguração em 1969. Na curva descendente do Estado Novo, o que lhe terá facilitado a vida, como farol de uma modernidade e de uma bandeira contra um regime hermético sob diversos pontos de vista.

Este último aspecto bastaria para uma certa nomenclatura balizar a data. Estranhamente ninguém fala destes 50 anos!

Vivencio a Gulbenkian há muitas décadas, tendo-me apercebido progressivamente da discreta magnificência do complexo. Posso dizer que me fui apaixonando por ele. Nunca conheci espaço mais umbilicado com a natureza, tecendo teias entre uma modernidade e um conservadorismo que não tem rival. Sinto-me tanto em casa como num espaço público, ou seja, existe uma dimensão doméstica que não nos esmaga, antes nos acolhe e conforta, e com esta se intersecta uma dimensão de fruição pública que não incomoda, antes, cativa. Desde a biblioteca ao auditório, desde os espaços museológicos aos jardins, tudo foi pensado de forma a não oprimir, antes, a acolher.

Todo o complexo faz parte, desde há cerca de três anos, da lista indicativa a património mundial da Unesco. Talvez alguém se lembre dos 50 anos para o reconhecimento. Mas pouco importa, quando esse reconhecimento está no coração de tantos.

Turner, naufrágio de cargueiro, Fundaão Gulbenkian 

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Tannhauser na colina verde


Um Tannhauser inteligente e desequilibrado, que me fez viajar entre o desespero de uma versão incompleta - tal como W disse pouco antes de morrer "Ainda devo ao mundo o meu Tannhauser"- e a sensibilidade quase colada à genialiduade da música. No saldo ficam as boas ideias de Kratzer, e a frustração de mais uma obra mal lida, malgré tout.

Bayreuth, 2019

Morrer em vida


Sonhar que se morre no sono. Pura cobardia, a de morrer sem sofrimento.
Mas será que a morte tem assim tanto significado? Claro que não, trata-se de apagar uma existência, a daquele que existiu e que não mais vai sentir o que quer que seja. Então porquê a cobardia? Porquê ser nobre morrer com sofrimento?
Expulsemos as religiões, verdadeiros demónios dentro de nós. Elas sim, o capote dos cobardes que não nos querem deixar morrer em vida, de viver a única forma digna de morrer. Ao sol.


Hopper, Woman in the sun , People in the sun

segunda-feira, 8 de julho de 2019

No peito dos desafinados também bate um coração



Percebe-se o exagero de Caetano "Melhor que o João só o silêncio e melhor que o silêncio só o João"
Fica a outra certeza do João Gilberto, a de que todos morremos, mas mais felizes porque ele nos deixou a sua musicalidade embrulhada em sensibilidade de desafinado e para desafinados.

Antony Gormley, escultura

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Afinal, o que somos nós individualmente?












 Conseguimos ter-nos de pé, na absoluta fragilidade do esqueleto abandonado pela carne. É isto que somos, mesmo quando pensamos de cócoras.

 
Antony Gromley, diversas estátuas

quarta-feira, 27 de março de 2019

Dos que morrem porque não escapam à lei da morte


Desde o seu nascimento, que sabemos que irão morrer. E morrem, ainda que a sua vida nos tivesse preenchido de alguma forma. Ainda que de tal inexorabilidade nos tivéssemos esquecido.

Têm sido tantos os que abandonaram o mundo dos vivos, tantos os que nos deixaram obras perpétuas, que seria injusto mencionar uns quantos e, por falta de espaço e de organização, olvidar outros.

Talvez um dia venha a escrever o que hoje me apeteceria se o tempo - velho inimigo - me não concede. Digo apenas isto; Scott B já se tinha unido a Jacques B. Esta semana ficaram no mesmo plano.

Almada Negreiros, arlequim, bailarina, cavalo

Nobel sem nobreza



Pois este ano o Nobel da literatura vai ser atribuído duas vezes, recuperando a patética não atribuição do ano passado (meu Deus, Jesus, Credo, os escândalos sexuais que Ninguém sabia que existiam!!!).

Ainda que eu menospreze o Prémio como sinónimo de qualidade garantida, não posso evitar a tentação de pedir um daqueles prémios para o Marias. Se atribuído, por ser um num ano de dois, certamente o outro premiado manteria os nobres holofotes sobre o cobiçado Nobel. E assim a injustiça dos justos se perpetuaria.



Afremov, desolação

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Retrocesso ou Avanço civilizacional?


Em França erradicam-se os termos Pai e Mãe, dos manuais escolares, substituindo-os por Parent 1 e Parent 2.
Brilhante retrocesso civilizacional que, de forma aparentemente simples, vai imprimir nas mentes em formação, um novo estereotipo dos seus progenitores.
Mas também um brilhante avanço civilizacional, pois resolve a equação de múltiplos Parents, já que sabemos que o ser humano tem recalcada uma certa tendência poligâmica, mas que o futuro, onde vale tudo, nos irá positivamente trazer. Já estou a imaginar os novos crimes de época: Parent 23 assassina Parent 3 por discordar da educação que este queria dar ao filho...
Que maravilha! Que admirável Mundo Novo, nunca sonhado por Huxley!

Posso não querer conhecer este novo mundo?


Keith Haring, A árvore da vida

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Regresso a um certo impressionismo






Algum Sorolla veio a Lisboa, algum impressionismo veio a Lisboa, num regresso à cidade luminosa de obras luminosas de um mestre da luz. Brevemente, será Londres a receber uma vasta retrospectiva de Sorolla. Londres bem precisa de luz.

J Sorolla, o magnífico regresso da pesca e a luminosidade de Valencia e Biarritz

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

memorabilia - que fazer com ela em vida?


Ao longo da vida acumula-se muita tralha. Grande parte inútil, porque nunca foi revisitada. Outra parte, a estimada por quem a guardou - livros, música, filmes - que fazer com ela? e quando?

Pilhas de livros e milhares de horas em música, que precisariam de uma outra vida para serem revisitados. As solicitações imediatistas ao alcance dos jovens de hoje são de tal forma enebriantes que aqueles activos nada significam. Já para não falar do valor emocional que esta ou aquela obra tiveram para o coleccionador arquivista.

Quem, hoje, olha para aquelas obras como material fundamental para compreender um mundo que se vai esvaziando de valores, de História?
Quem, hoje, os poderá acolher como monumentos vivos?
Quem, hoje, não encolhe os ombros ao coleccionismo, ao acumular de registos históricos?
Quem, hoje, não desdenha estas heranças, quais despojos de um maníaco?

É fácil não fazer nada e deixar o problema aos herdeiros, para quem não passa de lixo.
Mas também há a alternativa romântica: destruí-la em vida, como o último gesto de afeição. Mas, e quando? e por que ordem? de preferência, de registo?

The greatest person of the 20th century


À parte a polémica que estas nomeações sempre trazem, não deixa de ter sido uma personalidade marcante. Ligado à descodificação Enigma, foi sem dúvida o grande pioneiro da inteligência artificial. Castrado quimicamente na Inglaterra puritana e hipócrita, restou-lhe o suicídio. Depois a Rainha amnistiou-o do "crime" de ser homossexual e um Primeiro-ministro pediu desculpa à família.
Então, a referência impõe-se.