quinta-feira, 27 de julho de 2017

segunda-feira, 24 de julho de 2017

o Tempo sem tempo


Que tempo é este? Em que não se tem tempo para nada. As pessoas correm em função das múltiplas apps. Escravidão tecnológica, criada para ajudar. Mas que subjuga sem apelo nem agravo. E quem se julga independente, acaba também por conceder demasiado tempo do seu tempo.
Acordo com a sensação de não ter tempo... Tempo para quê? Para isto e para aquilo. Para apreciar a Arte, para comungar com as diversas formas de Arte, para falar, para rir, para gozar o Verão de um choupal, para dormir no Inverno da cidade. Mas principalmente para prolongar o tempo que, de outra forma, se esvai como uma ferida insarável.
Depois, há a consciência atormentada de se saber que o tempo que nos resta é limitadamente curto. E aqui chegados, podemos fugir do futuro, viver o presente até à exaustão. Fugir para um lugar longínquo, onde o tempo é outro tempo, mais largo, mais amplo, com mais espaço para preencher, depois de se ter deitado fora o lixo que nos asfixiava. Fugir, então. Que luxo!


Gerhard Richter

terça-feira, 18 de julho de 2017

Foi Deus quem escreveu o Tristão



Recordo Calipso e Ulisses, e o Amor dela por ele. Por amor deixou-o partir. Não há forma mais altruísta de amar que esta, a de deixar ir. Por contraponto à outra forma de amar, a egoísta, onde amar é possuir.

Será interessante olhar um pouco para o Amor em Wagner. É um Amor transfigurado, porque percorre aquelas duas formas até se sublimar no derradeiro sopro de vida.

Nunca como no Tristão o Amor aparece tão superiormente tratado! Do erotismo à posse e entrega, passando pela abnegação de preferir morrer e assim libertar o outro das amarras invisíveis do sentimento, até à recusa de liberdade que esse outro veementemente canta numa transfiguração de morrer de e por amar.

Junto este mar ondulado de sensações e sentimento, à música. Foi Deus quem escreveu o Tristão.

Gerhard Richter, abstraktes bild

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Dói-me a vida aos poucos


Tudo tem um fim e antes da própria vida o conhecer, outros fins, alguns dolorosos outros nem tanto, se perfilam ao longo do seu percurso. Todos eles têm, por definição, um início. E, normalmente, em cada início há uma reinvenção pessoal.
Este final de ciclo que estou a conhecer é inglório, porque faz parte da decadência desta sociedade. Por isso, outro ciclo de vida se iniciará. É preciso apenas capacidade de nova reinvenção.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Os números e o alfabeto



Pegam-se nos grandes nomes, nos que têm conseguido mais mediatização, e ultimamente, verdade seja dita, nos que melhores resultados têm conseguido com as suas equipas. Porque os números saõ the name of the game.
Anunciam-se transferências destas pessoas, de uma equipa para outra, com remunerações fabulosas. Os números são o objectivo. E não está errado, desde que num contexto equilibrado. Porque não falo do jogo desportivo, de jogadores ou treinadores.
As equipas de que falo são bancos. Os players de que falo são gestores. Que sabem usar os media para os ajudar a chegar ao topo.
Tudo bem desde que o topo não seja colocado, por eles, tão alto que percam de vista, o alfabeto, a estrutura onde têm de se apoiar. Porque os números, para a sua existência, precisam do alfabeto.


Jasper Johns

A opinião falsa


Os media (com amplo destaque para os canais generalistas de televisão), por razões que agora não interessa aprofundar, socorrem-se ad nauseum de comentadores, alpinistas do "fazer pela própria vida", e que dão má fama aos comentadores que fazem crítica honesta.
Aqueles têm, por marca de água, anunciar em primeira mão factos e/ou desenlaces dos temas que estão na ordem do dia, sem preocupação pela potencial identificação das fontes que neles confiaram ou que deles se usaram. São sempre porta-vozes, com total falta de sensibilidade cívica, em sede própria ou na forma de bonecos de algum ventriloquista. De qualquer forma, estes comentadores põem a projecção mediática da sua imagem à frente de tudo, numa competição desenfreada para anunciar o maior "furo" jornalístico que os possa colocar no pedestal da cotação política.
É mais uma vertente impúdica desta sociedade do espectáculo, deste clima civilizacional.
Vale tudo, desde que não se tenha qualquer réstia de escrúpulos. E assim avança a ditadura dos chico-espertos, autênticos bulldozers que têm vindo a arrasar os alicerces das estruturas que ainda sustentam a nossa forma de civilização. Não para construir uma melhor, mas para conseguirem satisfazer a sua ambição egoísta.

Jasper Johns, false start