terça-feira, 14 de julho de 2009

Os Velhos que desistiram de ser Jovens


Vou pela rua fora e vejo naquele passeio descendente pessoas cabisbaixas, tristonhas, inseguras.
Vejo, no centro da apatia que nos consome a existência, lutadores de braços caídos, pessoas com muito para dar à sociedade, que anseiam pela reforma, que rezam para os mais jovens lhes tirarem o lugar. Triste!
Vejo pessoas de meia idade classificarem-se como velhos, ansiando por fugir da ribalta produtiva, envergonhados do trabalho que produzem, elevando às alturas as capacidades dos jovens. Afinal, estes novos-velhos, a quem querem enganar se não a eles próprios...
Vejo os novos-velhos desistindo de levar a sociedade a melhor porto, com embaraço pelos níveis de destruição do planeta, com consciência da inutilidade da sua vida. E olham para os jovens como a tábua de salvação. Oxalá tenham razão, mas primeiro convinha educar convenientemente esses jovens a quem se vai colocar a responsabilidade de dar a volta ao desastre em que esta sociedade se tem transformado.
Vejo novos-velhos fugindo cobardemente, sabendo que não providenciaram a correcta educação a todos aqueles que agora querem que os substituam. E que se preparam para apontar o dedo aos falhanços dos jovens que ajudaram a promover.

Vou pela rua fora e vejo naquele passeio ascendente, pessoas descontraídas, seguras de si.
Vejo jovens alheados do seu papel na sociedade. Seguros de si, para o imediatismo, mas pouco acostumados a pensar numa estratégia de vida. Creem-se seguros das suas opiniões mas determinados a adiar a sua entrada no processo de construção da sociedade. Com poucas ou nenhumas referências que lhes permitam questionar as suas convicções, compradas com escassas reticências, às televisões, aos filmes, aos amigos. Desconfiando dos professores que tiveram, dos gestores que caíram em desgraça, dos políticos que não tiram resultados das solucções apregoadas. Pior ainda, dos pais que eles vêem transformados em novos-velhos, prontos a empurrá-los para fora do ninho, para que procurem assegurar a sua reforma.
Vejo jovens seguros de si, a entrar no mercado de trabalho, tentando disfarçar o pânico que os invade, ao aperceberem-se que estão sem rede, que os ventos são muitos e os tentam derrubar da linha de equilíbrio. Jovens também seguros de si, porque viam os pais como a eterna solucção da sua vida sem rumo. Jovens que agora realizam o embuste, se sentem enganados e apontam o dedo aos novos-velhos.

Desviando-me dos diversos dedos apontados, passo a vida a atravessar a rua de um lado para o outro, tentando viver em vida. Triste, por ver que as pessoas ensurdeceram perante os valores da sociedade ocidental. Desalentado, por saber que vamos deixar uma pesada herança a quem não tem forças para a carregar. Desanimado, por não ouvir as vozes dos diversos poderes instituídos, falar desta conjuntura muito pouco brilhante, ignorando a necessidade de trazer ímpeto renovador aos novos-velhos, criando as bases da rampa de lançamento dos jovens. Lançando-os para o futuro de todos nós.
E, todavia, a esperança segura-me. Não posso acreditar que a humanidade tenha perdido totalmente o seu instinto de sobrevivência.

Van Gogh - Velho em sofrimento

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Casa de Wagner e Cosima

Wahnfried, A Casa de Wagner e Cosima.


Ca´Vendramin Calergi, Veneza



Cosima Wagner



Depois de muito terem percorrido a estrada (ora hostil ora suavizada) da vida, Wagner e Cosima juntaram as suas vidas (os restos mortais ainda estão juntos na sepultura que está no jardim das traseiras da sua casa Whanfried, fotografia acima, e em primeiro plano em baixo).

Cosima era filha de Lizt, amigo de Wagner, dois anos mais velho. Cosima casou com o maestro de Wagner, von Bulow, 14 anos mais velho, que conheceu enquanto aluno de Lizt, e de quem teve 2 filhos. O sentimento ente Richard Wagner e Cosima nasceu em 1863 (ele tinha 50 anos, ela 26). E desenvolveu-se até à forma de paixão. Juram 'sich einzig gegenseitig anzugehören', "pertenceremos apenas e sempre um ao outro".

Em 1865 são pais de Isolda.
Minna, a primeira mulher de Wagner morre em 1866.
Em 1867 são pais de Eva e em 1869 de Siegfried.
O divórcio de Cosima chega em 18 Julho 1870. Von Bulow continua discípulo e devoto a Wagner até à morte deste. Posso apenas imaginar o escândalo que acompanhou toda esta história.
Cosima e Wagner casam em 25 Agosto de 1870.
Em 1872 iniciam a construção da casa. Vão habitá-la em 1874. Wagner inscreve na frente da casa: "Aqui todas as minhas desilusões (wahn) encontraram a paz (fried). Que este lugar se chame Wahnfried."
Em Set 1882 vão para Veneza onde Richard Wagner pretende obter descanso e inspiração para compôr. Ficam na Ca´Vendramin Calergi. Cosima não tinha blogs, mas tinha o seu diário. A última página foi escrita em 12 Fev 1883, véspera do dia em que veria Richard morrer, fulminado por um ataque de coração, enquanto compunha. Ela tinha 45 anos, ele 69. O que me falta em adjectivos para classificar a sua passagem por este mundo, sobra-me em lágrimas quando ouço o que me deixou.
Cosima levou o resto da sua vida a pôr de pé os sonhos do marido. Em 1903 sofre um golpe brutal: a vontade de Wagner de que o Parsifal só pudesse ser tocado em Bayreuth deixa de ser honrada e, apesar dos movimentos legais para interdição, a obra sagrada é representada em Nova Iorque. O conceito de Wagner fora apunhalado sem que Cosima o pudesse evitar. A ópera sagrada de Wagner saíra do Templo.
Em 1906 Cosima adoece e o filho Siegfried fica à frente do projecto do pai. Cosima Wagner morre em 1930 e quatro meses depois morre Siegfried.


Não sou de peregrinações, mas ir a Bayreuth tem esse sabor também. Saber que estão aqui enterrados, nesta sepultura, não é indiferente. O pensamento voa com frequência através dos tempos sem que o consiga parar. Sem que o queira parar.
Wahnfried ficou muito danificada durante a 2ª Grande Guerra. Hoje é o Museu dedicado a Wagner, e vai ter obras de reabilitação, para apresentação pública a tempo do Festspiel de 2010.

2009...sem pisar a colina verde


Spielplan 2009
Gesamtleitung: Eva Wagner-Pasquier, Katharina Wagner
Samstag 25. Juli Tristan I
Sonntag 26. Juli Meistersinger I
Montag 27. Juli Rheingold I *
Dienstag 28. Juli Walküre I *
Donnerstag 30. Juli Siegfried I *
Samstag 01. August Götterdämmerung I *
Sonntag 02. August Parsifal I
Montag 03. August Meistersinger II
Dienstag 04. August Tristan II
Mittwoch 05. August Parsifal II
Donnerstag 06. August Meistersinger III
Freitag 07. August Rheingold II *
Samstag 08. August Walküre II *
Sonntag 09. August Tristan III **
Montag 10. August Siegfried II *
Mittwoch 12. August Götterdämmerung II *
Donnerstag 13. August Tristan IV
Freitag 14. August Meistersinger IV
Samstag 15. August Parsifal III
Sonntag 16. August Götterdämmerung **
Montag 17. August Tristan V
Dienstag 18. August Meistersinger V
Mittwoch 19. August Parsifal IV
Donnerstag 20. August Rheingold III *
Freitag 21. August Walküre III *
Sonntag 23. August Siegfried III *
Dienstag 25. August Götterdämmerung III *
Mittwoch 26. August Meistersinger VI
Donnerstag 27. August Parsifal V
Freitag 28. August Tristan VI
* Karten für die 3 Zyklen des Ring des Nibelungen werden im Vorverkauf nur geschlossen abgegeben.
** Geschlossene Vorstellungen
Die Aufführung Das Rheingold beginnt um 18 Uhr (keine Pause), die übrigen öffentlichen Aufführungen um 16 Uhr.Beginn der geschlossenen Vorstellungen am 9.08.2009 und 16.08.2009 um 15 Uhr.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O deserto


Portugal tem qualidades de que não abro mão. O pior são mesmo os defeitos. E estes vêm de nós, povo pequenininho, mesquinho, invejoso, medíocre na moralidade e na postura. Não é de agora, claro. Basta olhar para a história, e constata-se que sempre assim tem sido.

Tudo isto a propósito do anúncio da nova temporada do CCB. Ridículo chamar-lhe temporada. Verdadeiramente digna desse nome (até numa perspectiva europeia) é a anteriormente anunciada para a Gulbenkian.

O que verdadeiramente me indigna é o facto de o CCB ter sido uma obra arrojada, cara e totalmente desperdiçada na sua função. Até na função de expositor de artes plásticas, lá teve de arranjar um compromisso para alojar, como mera arrecadação, as obras de um rico emigrante rico.

O programa, ano após ano, tem sido um deserto de ideias, de nomes, um virar as costas à cultura consagrada em detrimento de experimentalismos, baratos, certamente.

Se o CCB vive sem dinheiro, ou se o que tem só lhe dá para pagar a renda da casa, a água e a luz, porque não alugar o espaço a outras Temporadas, como a do S.Carlos e a da Gulbenkian. Por exemplo, esta última continua a trazer as grandes orquestras do mundo a Lisboa, mas reserva-lhes o Coliseu! Consigo bem imaginar a qualidade de som que se extrairia no CCB quando a OSLondres nos visitar em Janeiro próximo. Ao invés, recuso ir ouvi-la ao Coliseu, pois posso chocar com os sons e aleijar-me.

Rubens, Anjos a fazer música