quinta-feira, 20 de maio de 2010

A 3ª Guerra mundial


Os fundamentos da Economia afundaram-se. A confiança nas instituições está definitivamente perdida. A tradição já não é o que era, de facto. Olho-me ao espelho. Olhos nos olhos: não quero ser poeta da desgraça. Juro que não quero. Mas, esta inquietude não me dá descanso. A inquietude de ver o mundo a rebolar por um abismo em espiral.

Já não interessam as causas deste mal-estar-mal-viver. Agora só interessam as consequências. E são todas más. Pela primeira vez sinto a impotência dos dirigentes. E a dos dirigidos. Incapazes de sair da espiral.

A nova economia destruiu fronteiras, incendiou convicções, destruiu pilares de sabedoria. A nova economia baseia-se na especulação e alimenta a desconfiança. Longe vão os tempos em que a palavra era um activo de respeito. Ilustro com a pequena história do banqueiro que recebeu um cliente a quem não queria dar mais crédito, mas a quem também não poderia dizer apenas que não; então convidou o cliente para uma volta na baixa; de regresso ao banco, explicou-lhe que não podia emprestar mais dinheiro, mas depois de terem sido vistos juntos na baixa, qualquer outro banqueiro lho emprestaria. Hoje, esta história seria irrepetível.

Os pacotes de ataque às crises vieram para ficar, para conviver connosco, oscilando entre o 8 e o 80, e obrigando-nos a reajustar a nossa vida em conformidade. Entre a tensão social e o drama familiar, as sociedades vão conhecer uma nova idade média.

A angústia vai ser a nova pandemia.

A esperança de vida vai certamente diminuir, porque a angústia mata. Sou de uma geração que falhou na edificação da sociedade. Falhou e continua a deixar a geração seguinte falhar. Esta 3ª Guerra mundial tem a nossa assinatura. Não me orgulho de viver neste mundo.

Continuo a olhar para o espelho, olhos nos olhos, vejo desfilarem imagens lindas de vida. Por isso tem que haver sempre uma nota de esperança. Sem ela, nada teria valido a pena. Ando à procura dessa nota nos nossos filhos, que ainda vão a tempo de sair da espiral devastadora, e deixar a semente de um novo mundo para os seus filhos.



Salvador Dali, Premonição de Guerra Civil