sexta-feira, 29 de agosto de 2014

If



If
 
If freckles were lovely, and day was night,
And measles were nice and a lie warn’t a lie,
Life would be delight,—
But things couldn’t go right
For in such a sad plight
I wouldn’t be I.

If earth was heaven and now was hence,
And past was present, and false was true,
There might be some sense
But I’d be in suspense
For on such a pretense
You wouldn’t be you.

If fear was plucky, and globes were square,
And dirt was cleanly and tears were glee
Things would seem fair,—
Yet they’d all despair,
For if here was there
We wouldn’t be we.


E.E. Cummings


Picasso, Red Armchair

If only




If 

(‘Brother Square-Toes’—Rewards and Fairies)
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don’t deal in lies,
Or being hated, don’t give way to hating,
And yet don’t look too good, nor talk too wise:

If you can dream—and not make dreams your master;
If you can think—and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you’ve spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build ’em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: ‘Hold on!’

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with Kings—nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds’ worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that’s in it,
And—which is more—you’ll be a Man, my son!
 
Rudyard Kipling


Van Gogh, Landscape under a stormy sky

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Para afastar as nuvens



Art is a guarantee of sanity, Louise Bourgeois

Louise Bourgeois, Hamlet and Ophelia

Exemplar? ou nem por isso


A actividade bancária presta-se a tentar os seus intervenientes. Têm-se conhecido diversas formas concretizadas de "tentações". Com consequências de dimensão variável, mas sempre prejudicando diversos "stakeholders". A primeira conclusão é que os supervisores falham recorrentemente. E ao falharem tantas vezes, nem se lembram de auditar-se a si próprios para detectar as insuficiências dos procedimentos. Incompetência clara. Porque se for outra coisa além de incompetênciasó pode ser crime.

Em Portugal, os exemplos que têm saltado a público nos últimos anos são duplamente gravosos, pois adicionalmente afectam um país pequeno, onde a economia está toda ela muito interligada, e os impactos sistémicos são sempre penalizadores.

Quando as prevaricações excedem a prática nebulosa da actividade, resta a justiça para punir exemplarmente.

Em Inglaterra, e principalmente nos Estados Unidos, têm sido emitidas punições exemplares. Ontem foi anunciada mais uma: O Bank of America acordou pagar uma multa de 16,7 biliões de USD, como punição do seu envolvimento no escândalo do "subprime".

BofA? Again? Olhando para as multas recentes aos bancos americanos:

Agosto 2014 - BofA - 16,7 bl USD
Março 2014 - BofA - 9,3 bl USD
Novembro 2013 - JP Morgan - 13,0 bl USD
Janeiro 2013 - BofA - 11,6 bl USD
Fevereiro 2012 - BofA - 11,8 bl USD

BofA, again and again? Multas que, pela sua dimensão castigadora, deveriam desencorajar as práticas à margem da lei, mas parece não terem esse efeito, pois a mesma entidade continua a prevaricar. Deveriam ter a palavra, os accionistas, que vêm assim os seus dividendos surripiados por uma má gestão. Será que estas multas milionárias são mesmo exemplares e bastam? Não deveria a supervisão sentar-se permanentemente nos "Boards" e nos orgãos decisores destes bancos?


Uma batalha diferente



Há meses soube de um projecto que nunca me poderia deixar indiferente. Hoje soube que a sua concretização foi adiada. Ou seja, a semente está lançada. Preocupante!

Na desconhecida vidade de Hartford, Conn., alguém - o produtor teatral C. Goldstein - se lembrou de economizar numa produção do Anel. Vai daí, com a gravação do som dos instrumentos e a pauta computorizada, tem-se toda uma orquestra no desemprego, substituída por música digital.
Já alguém chamou a esta ideia "karaoke operático". Os músicos estão obviamente contra

Os solistas que tomem atenção, pois poderão vir a sofrer da mesma erradicação. E ser substituídos por marionetas, porque não? E assim, para quê o maestro? para quê toda uma panóplia de profissões que a ópera ao vivo alimenta? E os espectadores? Aceitarão pagar para "ouvir um CD"? A caixa de Pandora está entreaberta.

Quem vai ganhar esta batalha? A demência fundamentalista pelos cortes de custos só parará com o colapso do sistema que está a ser implementado em todos os negócios, em todas as esquinas da vida. Atenção consumidores, voltaram as forcas às esquinas.

A batalha perdida.

 
 
 
O Homem perdeu a batalha: neste mês de Agosto a Global Footprint Network informa que se esgotaram todos os recursos naturais que a Terra consegue fornecer num ano.
Daqui para a frente existe um défice ecológico a juntar aos défices intelectual e moral.
Crescendo estes, não perderemos a guerra. Não crescendo, obrigaremos o sistema ecológico a um forte ajustamento. Este, sem troika mas com muita doença mortal. Àfrica e Ásia, campeões da procriação desenfreada, exportarão os virus dizimantes.
E começa a desenhar-se um novo poder emergente, o de quem possuir água. Recordo que nós, neste cantinho Portugal, temos muitos rios. Mas que nascem em Espanha. Alternativa? O imenso mar que nos rodeia e o incremento das técnicas de dessalinização. Até poderemos vir a exportar água. E resolver assim o nosso estado de país falido. A água será o novo petróleo.

A. Durer, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse
 
 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A mãe de todas as batalhas


Sonhei que me sentava. À minha frente um quadro ocupava totalmente o meu campo de visão. À minha volta, ninguém. Sala vazia, como se o museu fosse só para mim. Mas eu sabia que havia ali muita gente. Que eu não via. Só o quadro existia. Representava a ala dos namorados na batalha de Aljubarrota. 14 de Agosto de 1385. Foi ao fazer as contas aos anos decorridos que o quadro me inundou, alheando-me de tudo o mais.
Só que eu já não via a cena da batalha. Ela tinha-se transformado num desfile mudo e acelerado. Via agora os meus anos de vida passarem desenfreadamente naquele quadro. A vida é assim tão curta? Seria a minha vida, tal e qual? Talvez uma das minhas possíveis vidas.
Abandonei o corpo na sala do museu e entrei no quadro. Queria ver o futuro, não o meu, mas o que espera as próximas gerações. No fundo, para saber quantos filhos devemos ter. Mais, menos, ou nenhum se o futuro for assim tão mau. Mas não consegui ver nada. Teria de procurar a resposta fora do quadro.
Acordei com o choro de um bébé e vi que estava arrepiado. A batalha para obter resposta estava longe de ter fim.

Hi-ho Silver... away


Chegar, cumprir um ciclo, desaparecer. Hi-ho Silver... away.

Olho para os espelhos da vida, vejo quem deixei de ver há muitos anos, as marcas do tempo nas faces, a sensação incómoda de que estaremos envelhecidos. Procuro para além das rugas, tento encontrar indícios vivos do que conheci nessas pessoas agora estranhas. Os olhos, o sorriso, a voz, mas, acima de tudo, o raciocínio, a inteligência. Procuro o que sobressai nessas pessoas, para além da decadência. What have you done with your inner self? E tento compreender, justificar, a diferença. Porque ela existe. Dir-me-ão, agruras que o tempo tece em teias que nos transcendem. O envelhecimento físico é só a parte mais frágil do eu, de ti, e de ti, e de ti... Sei que o físico sempre foi gratificantemente enganador, vestindo de luxo o intelectual. Agora com a roupagem puída, será que o intelectual continua a ser tão atraente como era? Terá, certamente de ser mais compensador, e aqui reside o imbróglio!
Today I am a cowboy, tomorrow I´ll be a singing horseman. But the song remains the same, hi-ho Silver away!
 
 
Clayton Moore, the Lone Ranger / Jack Yeats, the Singing Horseman