sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O problema português

O problema português é uma questão de dimensão.
Somos pequenos e a pequenez agravou a mesquinhez, as vistas curtas, a incapacidade de ver para além da bruma.
Somos pequenos e ficámos invejosos das várias dimensões dos outros, principalmente dos outros que vivem na nossa proximidade.
Somos pequenos e isso tornou-nos chicos-espertos, farejadores de atalhos para obter mais depressa e mais facilmente o que a outros é produto da criatividade e do labor.
Somos pequenos e quando fomos grandes nos Descobrimentos, depressa abraçámos a pequenez caseira. Fomos comerciantes, intermediários, comissionistas. Nunca fomos industriais, empreendedores e criadores de valor. Sempre fomos individualistas e repudiamos o grupo.
Somos pequenos e veneramos quem despreza a organização, o rigor, a transparência, quem consegue ludibriar impunemente. Tantas vezes publicamente, porque a vergonha é uma palavra sem significado.
Somos pequenos e poder dizer "Eu é que não sou parvo!" é a nossa aspiração máxima.
Somos pequenos e gostamos de nos disfarçar de grandes, mas se essa grandeza corre mal, depressa nos encolhemos e usamos a pequenez para pedir que não nos castiguem.
Somos pequenos e teimamos em sê-lo.

É esta a raiz do problema português.

Rob Gonsalves, in search of sea