quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Portugalidade extinta


À minha volta urzem sirenes para que não me esqueça do NATO Round de amanhã e depois. E depois? Bom, depois, continuamos por cá. A viver em Portugal. E os outros milhões de pessoas continuarão a viver por esse mundo, cada vez mais mal frequentado.
Mas, aqui, em Portugal, o que se passa?
1. Temos tanto Mar.
0. Mas deixámos extinguir a frota de pesca e preferimos importar peixe.
2. Temos tantas ondas. E tanto vento no mar.
0. Mas não investimos no aproveitamento da energia das marés, nem do vento no mar. Sim, também se podem colocar moinhos de vento no mar.
3. Temos tanta terra por cultivar.
0. Mas deixámos extinguir o gosto pela agricultura e pela pecuária. Educamos a preguiça com subsídios. Extinguimos o gosto pela terra bombardeando as gentes com uma televisão citadina que promove os vícios urbanos.
4. Temos tanta gente criativa.
0. Mas extinguimos uma cultura de investimento e de risco associado, criando uma sombra tutelar chamada Estado, que se mete onde não deve. Que protege investimentos sem nexo, não justificados e ignora os caminhos da inovação e da eficiência. Os caminhos que nos deveriam ter levado há muitos anos, à internacionalização. Começando precisamente onde poderíamos ser mais fortes, nos países que usam a nossa língua. Agora, que só se fala neles, vira-se o feitiço contra o feiticeiro.
5. Temos um edifício cheio de políticos que não prestam, que ninguém conhece, que aprovam autoestradas paralelas para que se possa viajar durante centenas de kms sem nos preocuparmos com o trânsito inexistente.
0. Mas não somos capazes de castigar eleitoralmente estes políticos, estas máquinas que os promovem. Não exigimos o curriculum desta gente que não tem qualquer tipo de cultura ou de experiência de gestão. Que tem preferido invadir o Algarve com construções dedicadas a um turismo que não nos enche os bolsos. Gente que não sabe o que é a estratégia (atenção, estratégia é uma arte). Se soubesse, teria identificado o Algarve como a Florida da Europa, e teria construído complexos para a senioridade reformada e abastada da Europa.
Enfim, fico com a tensão arterial a picar-se quando falo destas coisas. Porque também me sinto culpado por assistir a esta falência de Portugal. Falência como povo. Assistir a um conceito de portugalidade em vias de extinção. Um conceito único que será rapidamente substituído pelas vitaminas da globalização.
Velho do Restelo? Nem me falem em Restelo, porque me faz lembrar Epopeia, Orgulho, Riqueza, mas também Cegueira, Novo-riquismo, Vaidade. Falta de estratégia.
Por isso digo à minha descendência, para irem estrangeirar-se. Para assim poderem evoluir, longe de um país que lhes nega educação, cultura, saúde, emprego e oportunidades.
Viver em Portugal? Talvez seja como viver num Black Hole.


Foto da NASA: supernova transformada em buraco negro (Chandra X-ray Observatory).


Gorecki


RIP

Sorrowful sounds. Your sounds made Mine. A premonition of catarsic wishful thinking leading nowhere. Your death is an injustice of life. Another one.