quinta-feira, 25 de setembro de 2008

a crise das crises?

Só mesmo porque estou farto desta mãe de todas as crises:
Porque é que os reguladores / polícias de mercado não pedem explicações aos Auditores, e acima de tudo, às sociedades de rating, que andaram a distribuir notações positivissimas ( algumas iguais à da nossa República ) a instituições financeiras, a fundos sem fundo, que, quando começaram a cair em desgraça, foram oportunisticamente downgraded to junk, por essas mesmas sociedades de notação?
Quem é que confia em produtos estruturados indexados aos resultados do campeonato do mundo de futebol? quem é que coloca as suas poupanças em hedge funds que apostaram na queda contínua da cotação dos bancos irlandeses?
Apostas no sector financeiro? Roleta, bacarat, gamão,... ganância. E os casinos deixam que lhes roubem o negócio? Casinos de todo o mundo uni-vos e comecem a conceder crédito a toda a gente. A oportunidade está aí e foram os bancos que vos abriram a porta...
De facto, a tradição já não é o que era!... Chamar a estes momentos a crise das crises é pouco.
Este mundo anda mesmo muito mal frequentado!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A idade das coisas... Coisas da idade!

Ontem vi umas fotografias actuais de sítios que há muitos anos não visito. Podiam ser de pessoas que há muito tempo não vejo, podiam ser de coisas que há muito tempo não procuro, a conclusão seria a mesma: a idade não tem travões e só o atrito a faz parar. Se este atrito é certo, e a ele se convencionou chamar envelhecimento, não é menos verdade que a consciência que dele vamos tendo, condiciona o nosso bem ou mau estar. Ontem, depois de ver as ditas fotos, e de concluir que os sítios estavam tão diferentes das imagens que deles guardei há tantos anos, caí com brusquidão naquele pensamento recorrente sobre o tempo que nos foge; ou pior ainda, sobre o tempo que passa por nós sem que nos apercebamos dos sítios, das pessoas, das coisas, que deixámos de visitar e por onde o tempo também passou. Não tanto por nos sentirmos mais velhos, mas sim porque deixámos de usufruir, de gozar o prazer da sua presença física. E isto sim, entristece. Por isso, a palavra de ordem deve ser sempre carpe diem! Aproveitar os dias! Para evitar tristezas, remorsos e outros sentimentos que nos poluem os dias.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O sistema financeiro em trânsito

A sequência de portas a fechar é notável. Assusta mesmo, a ponto de esta crise estar a destronar a de 1929. Faltam os porquês. E eles estão à nossa frente: ganância, crescer descontroladamente, pintar resultados a tinta dourada com números de plástico, que derretem ao menos aquecimento global. A pressão tem corrido desalmadamente em ruas sem sentido ou em contramão nas de sentido único. A pressão pelo desempenho tem atingido níveis inqualificáveis de exigência e transita naquelas ruas, de accionistas para gestores, destes para empregados, destes para clientes, destes para accionistas, e em outras combinações.
Desde há quase 20 anos que me lembro da progressiva importância nas empresas, em particular nas financeiras, das funções de controlo e compliance. Pois sim, invenções de consultores, passadas para supervisores, passadas para gestores, passadas para accionistas. Outra vez as ruas sem sentido. Não se pode falar só de 2008, desde o Northern Rock, Bear Sterns, Roskilde, Fannie Mae e Freddie Mac, até à Merrill Lynch e agora Lehman Brothers. Vem tudo de trás. Vem do rebentar daquela pressão, vem dos acidentes provocados por andar em contramão, para satisfazer exigências impossíveis de desempenho ou sem orientação estratégica coerente. As finanças transformaram-se num jogo, envolvendo as economias, criando um mundo de faz de conta sob o olhar dos controladores. Que olhavam para os semáforos, sem ver se o trânsito lhes obedecia. Pois é, a seguir vêm as seguradoras, último reduto do faz de conta, arbitrar o caos, engolir o apito e desmaiar por falta de oxigénio. Pescadinha de rabo na boca. A crise veio para ficar durante muitos anos. Porque este é apenas um aspecto da perda de valores que se verifica na sociedade.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC e a busca da partícula de Deus

Como é possível que este projecto LHC ( Grande Acelerador de Hadrões ), que hoje vai começar a funcionar oficialmente, tenha sido mantido afastado dos olhos e ouvidos do mundo. Para mais, tendo-se começado a sua construção há 10 anos atrás... Um projecto de envergadura tal que conta com a participação de 55 países, de 6 mil cientistas, um custo de mil milhões de dólares por ano, porventura bem explicado aos diversos financiadores, mas que, desde há uma semana, aparece nos noticiários do mundo inteiro, sem que ninguém questione a anterior ausência de informação. Há já quem lhe chame, no meio da ciência física, a experiência do século. Cujos resultados se estimam para daqui a um ano, sem que se tenha uma ideia exacta dos mesmos, sem que existam certezas sobre o que irá acontecer ao longo dos próximos meses. Apenas nos é dito que nada será como dantes, e que, muito provavelmente, ficaremos a saber como aconteceu o Big bang. Uau! E para isso, para compreender a natureza intrínseca da matéria, temos um túnel circular de 27 kms, escavado na Suíça, perto da fronteira com a França, a 100 metros de profundidade, arrefecido até 271,25 graus negativos - o quase zero absoluto - e no seu interior irão chocar aqueles hadrões, protões, partículas subatómicas, originando temperaturas 100 mil vezes superiores às do centro do Sol. Sem os esclarecimentos que se impunham nestes últimos anos, parece-me ser um aprendiz de feiticeiro que vai estudar o nascimento do Universo. Encontrar a partícula de Deus, o bosão de Peter Higgs ( ainda que outros cientistas defendam a existência não de 1 mas de 5 bosões ), uma partícula subatómica descoberta teoricamente, que explica a origem da massa. Teoricamente significa que ela pode nem existir. Os habituais velhos do Restelo já dizem que se aproxima o fim do mundo. Mas, claro que dentro de dias já ninguém falará da "maior experiência do século", o que é natural, pois este ainda é uma criança. A menos que o aprendiz de feiticeiro faça das suas, para o bem ou para o mal... e as religiões que se cuidem, pois podem perder sustentação.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Morrer de amor

Tinham-me informado - de há anos a esta parte - que o livro estava esgotado e não se previa qualquer reedição. Pois acabo de o encontrar em 2ªedição Fenda. E de o ler. Só conhecia algumas partes, e foi com ternura que o li na íntegra. De Ernesto Sampaio para Fernanda Alves, ou antes, de Ernesto+Fernanda para quem os entender. Afinal, morre-se de amor sem que tal conste da certidão de óbito. Eis a sua dor, a sua solidão, a sua ânsia pelo reencontro:
Quando os sonhos não vão longe, correm até à infância e voltam brancos, por grandes alamedas de tristeza e de bruma, a alturas que o olhar não toca, lá onde tu estás e eu não chego... Quando há uma cama demasiado larga,... Quando se ouvem passos e não são os teus passos, quando o silêncio não é a pausa da tua respiração,... é-se como o veado ferido que agoniza em silêncio.
De mim não resta grande coisa... Estou quase a cair, posso desabar a qualquer momento. Não quero que me vejas cair. Já não sinto o meu eu, o meu peso. Perco o equilíbrio, flutuo. Eras tu a gravitação da terra e do céu, e anulaste-as...
A recordação de um só dia contigo torna inúteis o labor e o prazer de todos os dias que me restam viver... Já não há diferença entre o dia e a noite,... entre a vida e a morte. Entre o seu ser e o meu. É como se também eu já não tivesse existência - ou a tivesse apenas para recordar e adorar.
Como na vida , o amor continua a evoluir na morte... Todas as noites estendo os braços para o seu lado do travesseiro e é como se a respirasse, como se ela estivesse presente, difusa nas claridades longínquas e nas trevas cada vez mais cerradas que me vão envolvendo.
Ernesto sobreviveu um ano à morte de Fernanda, definhando até morrer de amor. Conseguiu nesse hiato escrever um livro belíssimo, só dele e dela, mas para todos os ernestos+fernandas.