quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Estratégia


A nossa incapacidade em estabelecer uma estratégia de desenvolvimento socio-económico, nem nos deixa saber se seríamos capazes de a executar.
A nossa incapacidade de organização tem sido esquecida e desvalorizada pela nomenclatura medíocre que ostenta uma forma de exercer o poder de curto prazo sem responsabilidades de longo prazo. Pior, uma nomenclatura que não se tem cansado de elogiar a qualidade única dos portugueses, a sua capacidade de improvisar saídas de situações menos boas. O desenrascanço. Uma falsa qualidade: a improvisação é inimiga da organização e, sem esta, não se faz nascer uma estratégia que permita construir um futuro.

Bateu-nos à porta uma catástrofe devastadora do eco-sistema. Depois dos incêndios terem destruído a componente verde daquele, virá a contaminação das águas com as chuvas sujas que arrastarão consigo para os lençóis freáticos as cinzas e outros poluentes.
A água é um bem cada vez mais precioso - uma evidência esquecida, descuidada.
Segue-se a desertificação, que também nos ameaça bater à porta. Planos? Estratégia? para a combater? Para quê, se sabemos desenrascar-nos...

Não temos orientação própria num mundo globalizado, que nos retira progressivamente a independência. Até nem seria mau de todo, esta forma de dependência, caso os dirigentes europeus (e mundiais) não fossem globalmente medíocres ou mesmo maus. Nem por esta via podemos esperar orientações que nos encaminhem para uma alameda de desenvolvimento sustentável. Que nos obrigue a salvaguardar os recursos essenciais, cada vez mais ameaçados pela tropicalização invasora que nos irá secar a garganta, uma vingança natural do despeitado aquecimento global.

Portugal não tem outra via que não seja a protecção dos seus ameaçados e erodidos  recursos naturais, que não seja o investimento em recursos renováveis, para uma independência energética, num cenários real de ser um país com grandes rios que nascem em Espanha, país que também será devastado no avanço da tropicalização do sul da Europa.

Temos tanto Mar!

E temos tão pouco tempo para reagir ao desperdício que a falta de estratégia permitiu.
De cá, da Europa, do Mundo, não se veem estrategas.

No fim, sobram-nos as obras que tantos compositores musicais escreveram: os Requiem.



Hopper, Automat

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Os novos Cruzados


Os robertos começam sempre com pezinhos de lã e acabam à traulitada. Esta imagem de infância é a que me ocorre com a avassaladora onda de moralistas que se tem vindo a abater sobre os meios de comunicação, agora incluindo as chamadas redes sociais.

Estes novos Cruzados começaram de mansinho, opinando sobre as touradas, sobre a alimentação saudável, enfim, sobre como ainda somos uns selvagens. Ganharam audiência e prosseguiram, agora num tom mais firme, sobre os homofóbicos, sobre a igualdade de géneros, sobre as minorias, sobre o racismo. Num pulo, sobre os múltiplos fascismos e, por isso, sobre a necessidade de acompanhar a sua condenação com uma injecção de normativos, impondo o que é correcto e recusando liminarmente o que é incorrecto. Sem mais, abolindo o contraditório.

Assiste-se, por todo o lado, a humilhações e a condenações gratuitas infligidas, por estes moralistas, sobre quem demonstra ser politicamente incorrecto. E rapidamente, mas onde menos se poderia esperar fragilidade de pensamento, nas escolas e universidades, são impostas regras de conduta e, mais grave, proibições sobre conteúdos educacionais que propiciem a difusão do incorrecto. Qualquer figura da História da Humanidade que, aos olhos destes moralistas, tenha representado algo incorrecto (por exemplo, estudar Nietzche ou Wagner, pode ajudar a difundir pensamentos incorrectos).

Existe aqui uma fobia de contaminação que está a ser combatida por estes novos Cruzados, tentando reescrever a História, pela eliminação de protagonistas do pensamento politicamente incorrecto. Este crivo censório tem vindo a crescer e a alargar-se a todos os comportamentos sociais. O que é correcto comer, ler, usar, ensinar, dizer, fazer. Uma ditadura nascente, em nome da libertação das minorias pesadamente oprimidas ao longo dos séculos. Em nome de uma igualdade, rasga-se a História, e impõem-se comportamentos. Este Cruzados usam os meios de comunicação para impor pensamento e regras sobre o que deve ser socialmente aceite, vigiando-se uns aos outros, nas purgas e na sua aplicação.

Mas a igualdade conquista-se na evolução da Humanidade, faz parte do nosso avanço cultural. Considerar que a igualdade se impõe, rasgando as páginas da História onde figuram figurões indesejáveis, é ignorar que os contextos passados explicam onde chegámos e como chegámos.
Assiste-se a este retrocesso cultural, que não pode acabar bem, pois ao amputarmos a explicação do que somos hoje, vamo-nos perder na desorientação de um colectivo falaciosamente justo.


Chichorro, roberto