quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sociedade low cost



O egoísmo tranformou a sociedade, centrando-a nas conquistas pessoais. O Eu é quem mais ordena, e a consequência é a generalizada obsessão pelo bem-estar pessoal com o imediato atropelo da Família, do Outro, enfim, da Sociedade gregária.
Fomos gregários, construímos uma colmeia, mas a erosão provocada pelo egocentrismo tem transformado a colmeia em multiplos clusters individuais. Mesmo os lobbys servem interesses de apenas alguns indivíduos.
Vive-se uma época de alienação, plasmada em muitos vectores do quotidiano, dos fundamentalismos que querem impôr vontades minoritárias, aos amorfismos que encolhem os ombros a tudo o que creem não beliscar o seu casulo.
A civilização recua perante os avanços das barbáries. A sociedade dissolve-se no ácido do individualismo. Lucrécia raptada, abusada, que movimento te resgatará? Que fazer perante a inépcia dos políticos incapazes de firmar uma geo-estratégia, como se viu com o abandono dos países-muralha, Líbia e Síria, deixando-os como corredores invasores da Europa? Como sempre, a solucção traz guerras globais como purgas.
Como anunciava o Inferno de Dante à entrada: Abandonai toda a esperança, vós que entrais.


Sebastiano Ricci, Lucretia

Eu confesso


Ler Jaume foi o prazer de fazer as pazes com a grande literatura.
Mas todas as moedas têm duas faces, e do outro lado espreitava uma face depressiva. A que lembrava a cada dez páginas que existem tantas coisas superiores para serem vividas, mas que a nossa capacidade de as viver está enredada nas limitações do nosso corpo. A triste conclusão de que a vida que temos não nos chega precisa ser combatida. Pensar nas nossas limitações torna-se uma sina insuportável. Escrever é uma forma de esconjuração da depressão.
Vem em socorro a Tabacaria: Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
E Whitman fecha o assunto na Song of Myself: Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself, I am large, I contain multitudes.
E voltamos a Pessoa: Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
A vida não chega? Vai chegando! Grande livro para ser relido, pois então!


Frame de Dying Slowly, Tindersticks

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Ainda não

Ainda não vai ser este ano.
Fica um sentimento de tempestade valquírica.

Hermann Hedrich, Valkurensturm