quinta-feira, 8 de abril de 2010

O vazio, pelas palavras de outra pessoa



Nós bebemos demais, gastamos sem critério.

Conduzimos depressa demais, ficamos acordados até muito mais tarde,
acordamos muito cansados, lemos muito pouco, vemos televisãodemais e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos os nossos bens, mas reduzimos os nossos valores.

Nós falamos demais, amamos muito raramente, odiamos frequentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver;
adicionamos anos à nossa vida, mas não a vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma;
dominamos o átomo, mas não o nosso preconceito;
escrevemos mais, mas aprendemos menos;

planeamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a apressar-nos mas não sabemos esperar.
Construímos mais computadores para armazenar mais informação,
produzir mais cópias do que nunca,
mas comunicamos cada vez menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta;
do homem grande e de carácter pequeno;
de lucros acentuados e de relações vazias.

Esta é a era dos dois empregos, de vários divórcios, casas chiques e de lares e corações despedaçados.

Esta é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e de muito, muito pouco na despensa.

Uma era que leva esta carta até si, e que lhe permite dividir esta reflexão ou, muito simplesmente, clicar na tecla 'delete'.

Lembre-se de passar algum tempo com as pessoas que ama, pois elas não vão estar aqui para sempre.
Lembre-se de dar um abraço carinhoso aos seus pais ou a um amigo, pois não lhe vai custar sequer um cêntimo.
Lembre-se de dizer 'amo-te' à sua companheira(o) e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, ame...ame muito...Um beijo e um abraço curam a dor, sempre que emanam bem lá de dentro, do fundo de si mesmo.

Por isso, valorize sua familia e as pessoas que estão ao seu lado, sempre!

George Carlin, 1937-2008, rip
Klimt, A Árvore da Vida




quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pascoálias




A Páscoa é Parsifal e nenhuma Páscoa me pode passar sem os sons sagrados. Assim tem sido, desde que me lembro. Em anos de luxo, consigo ouvi-lo na íntegra. Em Páscoas com outras preocupações, apenas excertos. Mas ouvi-o na íntegra no final do ano passado. Sublime, Redentor.

Algo mais me remeteu nesta Páscoa para Wagner: morreu o seu neto Wolfgang. Penso que com ele acabou de morrer uma sensação de ligação física ao Mestre. É normal os netos conhecerem os avós, e depois de Wieland restava apenas Wolfgang, para me fazer sentir uma certa existência de Wagner na Terra. Agora acabou. E não vai ser bom para Bayreuth. Oxalá me engane, mas penso que só o Estado alemão terá capacidade para não permitir que a colina verde se ensombre com as mesquinhices humanas dos herdeiros.

Antes da Páscoa, os Tindersticks estiveram na Catedral de Manchester. Nada mais apropriado. E tocaram Peanuts. E fecharam a igreja com My Oblivion. Aqui ficam as fotos.