quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O Artista inocente


Aqui, outro quadro de Ackermann, inocente sobre o tema do texto anterior. Explico a escolha. Escolhi Ackermann porque quando fotografei os seus quadros na Lenbachhaus, me fizeram lembrar o labirinto do poder local, e o quão mal as populações estão entregues a uma classe proliferante de políticos instantâneos.

Política, grau zero


Eleições autárquicas e Portugal. Se dúvidas houvesse, elas rapidamente se dissipam e dão lugar a um constrangedor sentimento de impotência para riscar a grande maioria dos candidatos de qualquer das forças em competição.
Basta olhar para os cartazes mal escritos, com erros mesmo. Depois vem o pior, ouvir os candidatos, o que eles pensam - quando conseguem pensar - e a forma como o dizem.
Como é possível que os dirigentes partidários permitam entregar o País à boçalidade e à falta de ideias e projectos comunitários!
Como pode o País - nós - continuar a permitir a propagação de pessoas tão mal preparadas para elaborar e concretizar projectos para as populações!
De novo embatemos na falta de cultura, de bases educativas, das populações. E assim chegamos aos Governos, cujos ministros pouco ou nada fazem para mudar drasticamente este estado de coisas. Criando, por exemplo, disciplinas de consciência cívica ministradas por professores exigentemente seleccionados, que acordem os jovens, que por sua vez acordem os pais. Que os façam ser exigentes e pedir responsabilidades aos autarcas eleitos.
E assim, progressivamente, Portugal ver-se-á livre do caciquismo referendado eleitoralmente pela inteligência dormente, analfabeta.


Franz Ackermann

Estado compra 6 quadros de Vieira da Silva


Sempre me fascinou a obra de Vieira da Silva, e em particular esta sua Biblioteca.

Foi hoje publicada uma Resolução do Conselho de Ministros que autoriza a compra de 6 obras da pintora por 5,6 milhões de euros.
Sem espalhafato, vejo com agrado investirmos para enriquecer Portugal

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Ainda em modo Bayreuth



Hodgkin, Portrait of the Artist listening to Music

terça-feira, 5 de setembro de 2017

O cavaleiro azul


Foi no início do séc.XX que um punhado de pintores formou um grupo a que chamaram Der Blaue Reiter. A força das cores e a influência do impressionismo conduziram a resultados distintos.
Embora Kandinsky seja o meu favorito, não deixa de ser interessante olhar para as obras destes pintores, e imaginar o seu tempo, as suas discussões, os seus gozos.
Aqui fica uma obra que escandalizou as sensibilidades da época, imagine-se, porque o artista se atreveu a pintar de azul um cavalo. O situacionismo disruptivo sempre foi mal visto pelos que se recusam a sair das suas zonas de conforto.


Franz Marc, Cavalo azul

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Anti-Liebestod



Neste poema de Ruy Bello, a morte sem transfiguração. O anti-liebestod do Tristão. Ou como a antítese ajuda a compreender a tese.

Através da chuva e da névoa

Chovia e vi-te entrar no mar
longe de aqui há muito tempo já
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Mais tarde olhei-te e nem te conhecia
Agora aqui relembro e pergunto:
Qual é a realidade de tudo isto?
Afinal onde é que as coisas continuam
e como continuam se é que continuam?
Apenas deixarei atrás de mim tubos de comprimidos
a casa povoada o nome no registo
uma menção no livro das primeiras letras?
Chovia e vi-te entrar no mar
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Que importa que algures continues?
Tudo morreu: tu eu esse tempo esse lugar
Que posso eu fazer por tudo isso agora?
Talvez dizer apenas
chovia e vi-te entrar no mar
E aceitar a irremediável morte para tudo e todos


Calapez, maiorca

Sem Sheppard


O mundo vai empobrecendo de cada vez que desaparece alguém com valor. Sendo valor, a forma de evolução humana. Há semanas foi Sam Sheppard. O mundo Sem Sheppard e a sua acutilante palavra. Lembrei-me, a propósito do sublime Tristão a que assisti na colina verde. Por causa do Amor. Disse Sheppard que o Amor é a única doença que nos faz sentir melhor.


Pedro Calapez, suave paisagem

Lenbachhaus


Na imperdível Lenbachhaus, a descoberta de Corinne Wasmuht.
Uma pintura pictórica, onde a velocidade da vida que atravessa o nosso tempo aparece desconstruída. As telas de grandes dimensões esmagam o olhar e, é pena que as salas que as acolhem sejam pequenas para a perfeita absorção do todo.



Na sua obra noto um conflito existencial em quem quer enfrentar a vida com todas as suas contrariedades, um conflito íntimo entre a parte de nós que quer pegar o touro pelos cornos e a que hesita e prefere a imobilidade como resposta, e assim correr o risco de ser atropelada pelo touro, ou ter a sorte de ver o touro desenfreado passar por si sem lhe tocar.


O indivíduo acaba isolado. No meio da multidão.