quinta-feira, 19 de abril de 2012

Contrasenso


As pessoas desesperam, nada esperam, nada fazem. Braços em baixo, caídos de descrença, com o sentimento de impotência a devorar-lhes o corpo e a alma, as gentes resignam-se a viver dias amrgos. Entrincheirados numa frágil resiliência, estão, lado a lado, os que não têm emprego e os que não conseguem empreender minimamente. Do outro lado da quase invisível trincheira estão os que trabalhando, vivem para trabalhar, e os que embora trabalhando, trabalham para viver.
É o retrato de uma sociedade falhada, geradora de terríveis efeitos laterais. Com o alargamento da consciência deste panorama, vem o grande contrasenso: as pessoas querem viver mais, mas não têm como; os que não têm pão, porque não conseguem, os que trabalham desejam que o dia passe depressa ansiando por algum descanso no final do dia; no dia seguinte, a mesma coisa, quer-se riscar da vida as horas de trabalho. Quer-se viver mais, vivendo menos. Estamos a deixar, cada vez mais, de viver em vida.