terça-feira, 26 de janeiro de 2010

30 anos


A vida é uma corrida. Por alguma razão, corrida em espanhol é para tourada. A vida pode ser, então, uma tourada. Uma luta e um diálogo. Feitos dia a dia, ao longo dos anos. Fazes 30 anos e continuas bébé. Só que não o sabes, pois eu é que te vejo assim. Mas também te vejo adulta e linda. Sem favor.
Lembro-me quando tu chegaste. Tudo mudou. Gradualmente, claro. O ritmo de vida deu uma cambalhota. A minha maturidade teve de crescer mais depressa para te transmitir o melhor possível, as bases da tua sustentação. Começaste a tomar forma e a tomar conta do meu caminho. Tentei sempre percorrê-lo contigo, por ti também. Fui demasiado exigente com a tua evolução? Nem imaginas o que é sofrer quando eu te castigava e fazia chorar. Ou qundo te via triste, tantas vezes sem saber como te tirar a tristeza de cima. Em pequenita, eram as doenças, as maleitas físicas, o medo que te pudesses partir. Depois vieram as dores de crescimento. Gostaria de ter tido mais tempo para as aliviar. Tantas vezes afogadas nos problemas da vida, que eu vivia para que tu não desses por eles. E nos últimos anos, vieram as dores de amadurecimento. Mais complicadas, porque o nosso pensamento as complica. E não penses que acabaram. Todas elas são dores diferentes, mas a angústia está presente em qualquer uma. Mais persistente nas últimas, eu sei. Mas nunca te esqueças: os touros enfrentam-se sempre de frente.
Hoje, vejo o filme dos últimos 30 anos, ora a cores ora a preto e branco. Sei que gostarias de um dia o ver como eu o vejo. É muito bonito. É a vida. Uma corrida. Uma tourada. Alegria e sofrimento. Um dia, daqui a mais uns trinta e tal anos, terás também oportunidade de ver um filme semelhante, com alguém adulto, mas que será sempre o teu bébé. E não me importava nada de aparecer nalguns episódios.
Para já, um Vintage. Com a tua idade. Vou ver como ele cresceu. À tua saúde.
Francis Bacon, Bullfight

sábado, 23 de janeiro de 2010

Avec le temps, va, tout s´en va




Tenho vindo a ver e ouvir Leo Ferré nos registos que consegui enontrar (thank you ebay Satan). Emocionado! Por muitos motivos. Principalmente porque, em jovem, a atracção pelo libertarismo foi muito grande. Lia Appolinaire, Rimbaud, Verlaine mas só os percebi totalmente quando Leo lhes lavou as palavras com a sua música e declamação. Desejei então ser Leo. Mais, avec le temps...tout va bien. Ser-se libertário é uma prisão mental pior que a física. Ni Dieu ni Maître, é uma enorme solidão neste mundo. La solitude. Avec le temps... on´aime plus.

Fico a ouvir. e a ver, aquele corpo, ora novo, ora velho, cantar La chanson d´Automne. Olho para trás e vejo um tempo que morreu. Um tempo bonito. On n'est pas sérieux quand on a 17 ans. Mais si tu pensais à vingt ans. Qu'on peut vivre de l'air du temps, Ton point de vue n'est plus le même.
Preciso ouvir Reggiani. Je voudrais pas crever... Preciso de o ouvir cantar sentimentos menos dolorosos. Para restabelecer o equilíbrio. Plus belle q´une ondine tu caches ta poitrine...
Assim está melhor.
Ne chantez pas la mort.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lhasa de Sela


Strange to see the sun don't shine today,

But I ain't in a mood for sunshine anyway




Partiu aos 37 anos. Alguém que viveu em vida. Não é justo. O cancro de mama venceu-a em 21 meses. Para quê? Ficam-me os arrepios que a sua voz me transmite ao entoar versos como estes:


El desierto


He venido al desierto pa irme de tu amor

Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa gritar

Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar

He venido al desierto pa irme de tu amor

Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa gritar

Que tú nunca mereciste

He venido yo corriendo olvidándome de ti

Dame un beso pajarillo no te asustes colibrí

He venido encendida al desierto pa quemar

Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

He venido al desierto pa irme de tu amor

Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor

He venido a este centro de la nada pa gritar

Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar

He venido yo corriendo olvidándome de ti

Dame un beso pajarillo y no te asustes colibrí

He venido encendida al desierto pa quemar

Porque el alma prende fuego.