quarta-feira, 28 de março de 2012

Viver sozinho


Vi há pouco estatísticas assustadoras: nos EUA, em 1950, 4 milhões de americanos viviam sozinhos e representavam 9% dos lares; no censo de 2011, eram 33 os milhões de americanos que viviam sozinhos e já representavam a assustadora percentagem de 28% dos lares. Empatados com a mesma percentagem de casais sem filhos.

Se aqueles 28% que escolheram viver sozinhos, nos EUA, um país de pendor conservador, me parecem um sinal forte de que o paradigma da família mudou substancialmente, inflectindo-se o sentido predominante para uma tendência minoritária, o que dizer das percentagens da mesma situação noutros países?
Divido-os em 2 blocos exemplares: Desenvolvidos, como Inglaterra 34%, Itália 29%, Suécia 47%, Rússia 25%, Japão 31%; Em Desenvolvimento, como Brasil 10%, India 3%.

Sinal dos tempos. Mau sinal, má tendência. Estamos perante uma inflexão civilizacional, uma atomização do mundo actual, onde se evidenciam os novos "valores" em que o indivíduo é o centro, a prioridade em detrimento do colectivo: a liberdade individual, a realização pessoal. Os anseios, afinal, da adolescência.

Adicionalmente, penso que viver sozinho é o primeiro passo para viver só, para a pessoa se sentir só (está na hora de reler o livro de António Nobre). Creio que viver sozinho começa por ser a realização do sonho moderno, e até pode contribuir para alguma vitalização social, na medida em que quem vive sozinho tem mais tempo para si, para dispender em múltiplos meios. Mas creio também que o cansaço da rotina de não ter rotina encerra um perigo maior: o isolamento social, a que se seguirá a depressão, enfim, a instalação de uma sociedade de gente doente, de uma sociedade doente. E é o que pode acontecer, de pior, aos doentes que me assusta. De facto, podem curar-se, e encontrar um ponto de equilíbrio entre a preservação da sua individualidade e a dedicação altruísta ao colectivo. Mas também podem morrer. Era isto, também, que eu queria dizer com Dying Slowly.

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