quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Eu confesso


Ler Jaume foi o prazer de fazer as pazes com a grande literatura.
Mas todas as moedas têm duas faces, e do outro lado espreitava uma face depressiva. A que lembrava a cada dez páginas que existem tantas coisas superiores para serem vividas, mas que a nossa capacidade de as viver está enredada nas limitações do nosso corpo. A triste conclusão de que a vida que temos não nos chega precisa ser combatida. Pensar nas nossas limitações torna-se uma sina insuportável. Escrever é uma forma de esconjuração da depressão.
Vem em socorro a Tabacaria: Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
E Whitman fecha o assunto na Song of Myself: Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself, I am large, I contain multitudes.
E voltamos a Pessoa: Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
A vida não chega? Vai chegando! Grande livro para ser relido, pois então!


Frame de Dying Slowly, Tindersticks

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