sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Os novos Cruzados


Os robertos começam sempre com pezinhos de lã e acabam à traulitada. Esta imagem de infância é a que me ocorre com a avassaladora onda de moralistas que se tem vindo a abater sobre os meios de comunicação, agora incluindo as chamadas redes sociais.

Estes novos Cruzados começaram de mansinho, opinando sobre as touradas, sobre a alimentação saudável, enfim, sobre como ainda somos uns selvagens. Ganharam audiência e prosseguiram, agora num tom mais firme, sobre os homofóbicos, sobre a igualdade de géneros, sobre as minorias, sobre o racismo. Num pulo, sobre os múltiplos fascismos e, por isso, sobre a necessidade de acompanhar a sua condenação com uma injecção de normativos, impondo o que é correcto e recusando liminarmente o que é incorrecto. Sem mais, abolindo o contraditório.

Assiste-se, por todo o lado, a humilhações e a condenações gratuitas infligidas, por estes moralistas, sobre quem demonstra ser politicamente incorrecto. E rapidamente, mas onde menos se poderia esperar fragilidade de pensamento, nas escolas e universidades, são impostas regras de conduta e, mais grave, proibições sobre conteúdos educacionais que propiciem a difusão do incorrecto. Qualquer figura da História da Humanidade que, aos olhos destes moralistas, tenha representado algo incorrecto (por exemplo, estudar Nietzche ou Wagner, pode ajudar a difundir pensamentos incorrectos).

Existe aqui uma fobia de contaminação que está a ser combatida por estes novos Cruzados, tentando reescrever a História, pela eliminação de protagonistas do pensamento politicamente incorrecto. Este crivo censório tem vindo a crescer e a alargar-se a todos os comportamentos sociais. O que é correcto comer, ler, usar, ensinar, dizer, fazer. Uma ditadura nascente, em nome da libertação das minorias pesadamente oprimidas ao longo dos séculos. Em nome de uma igualdade, rasga-se a História, e impõem-se comportamentos. Este Cruzados usam os meios de comunicação para impor pensamento e regras sobre o que deve ser socialmente aceite, vigiando-se uns aos outros, nas purgas e na sua aplicação.

Mas a igualdade conquista-se na evolução da Humanidade, faz parte do nosso avanço cultural. Considerar que a igualdade se impõe, rasgando as páginas da História onde figuram figurões indesejáveis, é ignorar que os contextos passados explicam onde chegámos e como chegámos.
Assiste-se a este retrocesso cultural, que não pode acabar bem, pois ao amputarmos a explicação do que somos hoje, vamo-nos perder na desorientação de um colectivo falaciosamente justo.


Chichorro, roberto

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