quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Gesamtkunstwerke, é pessoal e intransmissível







Tenho assistido a discussões sobre as múltiplas encenações das obras de Wagner. Como ponto de partida para legitimar toda e qualquer "versão", está a incentivação que o Mestre fez antes de morrer para que quem pegasse nas suas obras fosse criativo.
Mas, ser criativo dentro do conceito de obra de arte total.
E o que se tem verificado ultimamente é a usurpação, pelos pândegos da regietheatre, das obras, travestindo-as com a mediocridade das suas visões. Banalizando a genialidade com as suas provocações. Salvo algumas excepções, ou alguns momentos de inspiração, os resultados têm conseguido desequilibrar o balanço requerido para se assistir a uma "obra de arte total". Total e não parcial, com versões dominadas pela teatralização, ofuscando a música e o texto com os devaneios provocadores de quem quer conquistar notoriedade à custa da genialidade do criador. Ao ponto de se falar do Anel de Fulano, do Parsifal de Sicrano...
Chegados a este desvario, tomo para mim que a melhor produção (depois do minimalismo de Wieland Wagner) é a versão concerto com interpretação teatral dos solistas, a qual permite ao espectador ouvir a música e as palavras e a forma como são ditas, e assim imaginar o contexto da teatralização. Fazendo mentalmente a sua própria produção. Pessoal e intransmissível.



Turner, The parting of Hero and Leander


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