quinta-feira, 12 de setembro de 2019

A Gulbenkian - 50 anos


Sou pouco dado a efemérides, ainda por cima quando elas se banalizam à tripa forra. Mas apercebi-me há dias que o complexo da Fundação Gulbenkian teve a sua inauguração em 1969. Na curva descendente do Estado Novo, o que lhe terá facilitado a vida, como farol de uma modernidade e de uma bandeira contra um regime hermético sob diversos pontos de vista.

Este último aspecto bastaria para uma certa nomenclatura balizar a data. Estranhamente ninguém fala destes 50 anos!

Vivencio a Gulbenkian há muitas décadas, tendo-me apercebido progressivamente da discreta magnificência do complexo. Posso dizer que me fui apaixonando por ele. Nunca conheci espaço mais umbilicado com a natureza, tecendo teias entre uma modernidade e um conservadorismo que não tem rival. Sinto-me tanto em casa como num espaço público, ou seja, existe uma dimensão doméstica que não nos esmaga, antes nos acolhe e conforta, e com esta se intersecta uma dimensão de fruição pública que não incomoda, antes, cativa. Desde a biblioteca ao auditório, desde os espaços museológicos aos jardins, tudo foi pensado de forma a não oprimir, antes, a acolher.

Todo o complexo faz parte, desde há cerca de três anos, da lista indicativa a património mundial da Unesco. Talvez alguém se lembre dos 50 anos para o reconhecimento. Mas pouco importa, quando esse reconhecimento está no coração de tantos.

Turner, naufrágio de cargueiro, Fundaão Gulbenkian 

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