sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Andar atrás do mundo







Não deveria ser assim, mas a verdade é que andamos atrás do mundo. São poucos os que têm poder para fazer o mundo andar atrás deles. Por isso o mundo continua um sítio mal frequentado, catalizador de injustiça, angariador de prémios para os menos escrupulosos.

Cada vez há mais melancolia, mais depressivos, mais egoísmo, menos paixão, os olhos piscam para disfarçar a falta de brilho, o riso só aparece em resposta à maledicência, a ostentação é o contraponto da vida. É raro ser-se feliz. É impossível ser-se livre.
Tornámo-nos aprendizes de feiticeiro.
Esquecemo-nos das estações do ano e elas agora atropelam-se baralhando as suas fronteiras. De povo que adorava o Sol, passámos a povo que ignora o Sol. Esquecemo-nos de admirar o nascer do Sol. Esquecemo-nos de sonhar com o pôr-do-Sol. Tal como nos vamos esquecendo dos múltiplos pormenores que preenchiam a nossa vida. Vida que está cheia de televisão e de solicitações que empurraram para fora de nós aqueles pequenos nadas que eram tanto, mas que nela deixaram de caber.
Vivemos numa sociedade onde tudo é relativo, e é esta relatividade que esconde os males. É o tempo dos eufemismos.
Resta-nos a adaptação a estes tempos, tentando a sobrevivência possível. Tentando viver em vida.

Este pensamento veio a propósito da revisitação que fiz à obra de Roy Lichtenstein, que conheci há vinte anos no Guggenheim de NY. É BD. É retro. Lembro-me da sua presença icónica numa cena derradeira de Lipstick on your collar do incontornável Dennis Potter. É BD. É o faz de conta. E o faz de conta é a alternativa para suportar o mundo.

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