quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cães semi-afogados

As folhas das árvores teimam em cair. É o medo de bater num chão que não é acolhedor. O vento fustiga, a chuva continua a cair, mas as folhas recusam-se a atapetar o chão, onde nós nos queremos deitar. Cambaleamos mais e mais, a voz já fraca de tanto protestar contra o mau tempo, que anuncia dilúvio. Começamos a sentir medo do que aí vem. É o medo do escuro que preenche os dias sem sol. É o medo do que nos espera em qualquer das muitas esquinas que nos cercam. Seja a esquina da austeridade, seja a da incompetência, seja a dos novos criminosos do poder global, local. E os orçamentos para 2013 a serem discutidos por delinquentes legalizados. E, e, e,...

Recuamos para a parede mais próxima, toda ela uma ilusão, e continuamos a procurar acolhimento. Resta-nos o chão, agreste, sem folhas para amaciar a queda a que o cansaço conduz.
E agora, a chuva torrencial, o dilúvio, começa a cobrir-nos. A sensação de afogamento invade-nos, os olhos saem-nos das órbitas, espelham terror. Estamos impotentes, sem forças para ficar à tona da água. Sentimo-nos afogar, e os olhos, outra vez os olhos, encaminham-se para o céu. Vislumbram as folhas das árvores e reacende-se um brilho de esperança. Se, ao menos,...




Goya, Perro semihundido

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