terça-feira, 18 de julho de 2017

Foi Deus quem escreveu o Tristão



Recordo Calipso e Ulisses, e o Amor dela por ele. Por amor deixou-o partir. Não há forma mais altruísta de amar que esta, a de deixar ir. Por contraponto à outra forma de amar, a egoísta, onde amar é possuir.

Será interessante olhar um pouco para o Amor em Wagner. É um Amor transfigurado, porque percorre aquelas duas formas até se sublimar no derradeiro sopro de vida.

Nunca como no Tristão o Amor aparece tão superiormente tratado! Do erotismo à posse e entrega, passando pela abnegação de preferir morrer e assim libertar o outro das amarras invisíveis do sentimento, até à recusa de liberdade que esse outro veementemente canta numa transfiguração de morrer de e por amar.

Junto este mar ondulado de sensações e sentimento, à música. Foi Deus quem escreveu o Tristão.

Gerhard Richter, abstraktes bild

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