segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Opera inspirada em Filme



A ópera reinventa-se. Para além da sua inserção nas novas corrente musicais, ela abraça agora a inspiração que alguns filmes lhe dão.

O compositor Thomas Adès estreia este ano The Exterminating Angel, inspirado no filme do mesmo nome de Luis Buñuel. Aqui o surrealismo a não facilitar a aparição da banalidade.

Pela sua forma de filmar as emoções, creio que Hitchcock daria um bom "realizador" de ópera. E sei a falta que faz um grande director nas produções operáticas dos dias de hoje (va de retro Castorf). Inspirado no seu Marnie, vai também estrear a ópera homónima de Nico Muhly.

Estamos, então, perante uma nova corrente, em que os libretos se vão inspirar nos filmes. E aqueles exemplos não são os primeiros a marcar esta tendência. Nina Stemme já fez o papel da Ingrid Bergman (outra vez Hitchcock, agora com Notorious) na ópera Notorious de Hans Gefors. Talvez a primeira experiência tenha sido em 2000, com Dead Man Walking, de Jake Heggie, que a repetiu com It´s a Wonderful Life de Frank Capra.

Mas parece que a tendência está agora a acelerar: Este ano já estreou a Autumn Sonata de Sebastian Fagerlund, baseada no filme de Ingmar Bergman; Charles Wuorinen compôs a sua Brokeback Mountain; Olga Neuwirth pegou no Lost Highway de David Lynch; Missy Mazzoli adaptou Breaking the Waves de Lars von Trier (este senhor foi sondado para fazer o Anel em Bayreuth, o que prova que existe uma ligação entre a direcção de um filme e a de uma ópera); Poul Rudders pegou em Dancing in the Dark, também de Triers.

Que se passa então? É só uma corrente natural entre Livro, Filme e Ópera (recordo o Parsifal de Hans Jurgen Syberberg, porque me é muito caro, pois muitas outras óperas passaram a filme).
Mas, não será que existe um explicação mais comezinha para esta tendência? Creio que poderá também existir uma explicação comercial, na medida em que uma ópera de um filme sucesso de bilheteira, atrairá certamente mais público.

E aqui chegados, se assim se provar que as audiências operáticas aumentam com o fluxo Livro-Filme-Ópera, estaremos perante o alargamento dos horizontes hollywoodianos às salas de ópera. Será a fase dois do que o Met de NY nos dá todos os anos ao difundir as suas óperas nas salas de cinema selecionadas pelo mundo fora.

Resta esperar a que a composição musical supere a facilidade com que aquele fluxo pode cair na banalidade, e que o feitiço não se volte contra o feiticeiro.


Zao Wou-Ki

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