terça-feira, 19 de maio de 2020

Saudades de liberdade


Saudades de liberdade. Da liberdade de poder ser só eu. De uma liberdade cada vez mais utópica. Sem o rastreio alheio de quem não nos interessa, Com as limitações assentidas e consentidas de quem nos interessa. Rejeitando a depressão dos desconfinamentos confinados. Em nome do prazer de viver contra a ditadura que nos proíbe de ter prazer.
Saudades dos passeios descontraídos no Upper East Side, com intervalo para saborear as madalenas que Dominique nos faz chegar naqueles sacos de pano, quentinhas, tão leves que comer apenas duas nos envolve em remorsos. Remorsos que nos perseguem Village adentro, mas que se dissipam com a descoberta das montras avant-garde, que a mim só despertam curiosidade e não a luxúria de comprar,,,
Saudades dos passeios em Montmartre, escadaria acima escadaria abaixo...
Saudades dos canais venezianos que nos embalam como ninguém, rumo a uma igreja onde nos espera Tintoretto, ou talvez apenas Ticciano...
Saudades do Sussex, de Arundel, de Rye, e de algum Glyndebourne...
Saudades da Colina Verde, e até, porque não, dos experimentalismos bacocos que pretendem transformar Bayreuth, no farol da modernidade wagneriana.
Saudades do silêncio do Douro...
Saudade de... saudades de...
Hoje, estou triste porque só tenho saudades. Porque as saudades chegam-me quando receio que o seu objecto se vá afastando do meu alcance.

Seurat, une baignade

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