quarta-feira, 21 de maio de 2008

As esquinas

Não gosto de esquinas. O mar não as tem e eu não passo sem a proximidade do mar. Os rios não as têm, e são lindos de ver entrelaçando qualquer paisagem. As planícies não as têm, e são o cenário perfeito para a vida sem rédeas. Só as urbes as ostentam. Gosto de muitas urbes, mas nada das suas esquinas. São contornos de prisão. À noite são sítios frequentados por almas que vendem corpos. De dia, são lugares de passagem. Mas também são montra para corpos sem alma. As esquinas ostentam pessoas que a elas se agarram na esperança de que a qualquer momento surja, precisamente ao dobrar da esquina, alguém que lhes traga um sopro de alma.
Tudo isto porque há pouco vi uma mulher à esquina de uma rua elegante. Vestia bem, com cuidado, gosto e alguma ostentação. Mas comia uma tangerina e cospia os caroços para o chão. Sem se dar conta, afastava quem queria virar a esquina.

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