terça-feira, 21 de março de 2017

Poesia



Esta mania de atribuir comemorações aos dias, acordou em mim, hoje,  a tentação de ir à gaveta e começar a deixar aqui palavras que alinhavei, sem a presunção de lhes chamar poemas, mas apenas luminescências do êxtase sentido com Tristão e Isolda.

Mas, para não desvirtuar o dia, um Poema a sério, e com motivo, pois para mim a Primavera é sublime e sempre a celebro neste dia:

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro, Quando vier a Primavera

 

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