terça-feira, 16 de setembro de 2008

O sistema financeiro em trânsito

A sequência de portas a fechar é notável. Assusta mesmo, a ponto de esta crise estar a destronar a de 1929. Faltam os porquês. E eles estão à nossa frente: ganância, crescer descontroladamente, pintar resultados a tinta dourada com números de plástico, que derretem ao menos aquecimento global. A pressão tem corrido desalmadamente em ruas sem sentido ou em contramão nas de sentido único. A pressão pelo desempenho tem atingido níveis inqualificáveis de exigência e transita naquelas ruas, de accionistas para gestores, destes para empregados, destes para clientes, destes para accionistas, e em outras combinações.
Desde há quase 20 anos que me lembro da progressiva importância nas empresas, em particular nas financeiras, das funções de controlo e compliance. Pois sim, invenções de consultores, passadas para supervisores, passadas para gestores, passadas para accionistas. Outra vez as ruas sem sentido. Não se pode falar só de 2008, desde o Northern Rock, Bear Sterns, Roskilde, Fannie Mae e Freddie Mac, até à Merrill Lynch e agora Lehman Brothers. Vem tudo de trás. Vem do rebentar daquela pressão, vem dos acidentes provocados por andar em contramão, para satisfazer exigências impossíveis de desempenho ou sem orientação estratégica coerente. As finanças transformaram-se num jogo, envolvendo as economias, criando um mundo de faz de conta sob o olhar dos controladores. Que olhavam para os semáforos, sem ver se o trânsito lhes obedecia. Pois é, a seguir vêm as seguradoras, último reduto do faz de conta, arbitrar o caos, engolir o apito e desmaiar por falta de oxigénio. Pescadinha de rabo na boca. A crise veio para ficar durante muitos anos. Porque este é apenas um aspecto da perda de valores que se verifica na sociedade.

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