quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Morrer de amor

Tinham-me informado - de há anos a esta parte - que o livro estava esgotado e não se previa qualquer reedição. Pois acabo de o encontrar em 2ªedição Fenda. E de o ler. Só conhecia algumas partes, e foi com ternura que o li na íntegra. De Ernesto Sampaio para Fernanda Alves, ou antes, de Ernesto+Fernanda para quem os entender. Afinal, morre-se de amor sem que tal conste da certidão de óbito. Eis a sua dor, a sua solidão, a sua ânsia pelo reencontro:
Quando os sonhos não vão longe, correm até à infância e voltam brancos, por grandes alamedas de tristeza e de bruma, a alturas que o olhar não toca, lá onde tu estás e eu não chego... Quando há uma cama demasiado larga,... Quando se ouvem passos e não são os teus passos, quando o silêncio não é a pausa da tua respiração,... é-se como o veado ferido que agoniza em silêncio.
De mim não resta grande coisa... Estou quase a cair, posso desabar a qualquer momento. Não quero que me vejas cair. Já não sinto o meu eu, o meu peso. Perco o equilíbrio, flutuo. Eras tu a gravitação da terra e do céu, e anulaste-as...
A recordação de um só dia contigo torna inúteis o labor e o prazer de todos os dias que me restam viver... Já não há diferença entre o dia e a noite,... entre a vida e a morte. Entre o seu ser e o meu. É como se também eu já não tivesse existência - ou a tivesse apenas para recordar e adorar.
Como na vida , o amor continua a evoluir na morte... Todas as noites estendo os braços para o seu lado do travesseiro e é como se a respirasse, como se ela estivesse presente, difusa nas claridades longínquas e nas trevas cada vez mais cerradas que me vão envolvendo.
Ernesto sobreviveu um ano à morte de Fernanda, definhando até morrer de amor. Conseguiu nesse hiato escrever um livro belíssimo, só dele e dela, mas para todos os ernestos+fernandas.

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