terça-feira, 19 de agosto de 2014

A mãe de todas as batalhas


Sonhei que me sentava. À minha frente um quadro ocupava totalmente o meu campo de visão. À minha volta, ninguém. Sala vazia, como se o museu fosse só para mim. Mas eu sabia que havia ali muita gente. Que eu não via. Só o quadro existia. Representava a ala dos namorados na batalha de Aljubarrota. 14 de Agosto de 1385. Foi ao fazer as contas aos anos decorridos que o quadro me inundou, alheando-me de tudo o mais.
Só que eu já não via a cena da batalha. Ela tinha-se transformado num desfile mudo e acelerado. Via agora os meus anos de vida passarem desenfreadamente naquele quadro. A vida é assim tão curta? Seria a minha vida, tal e qual? Talvez uma das minhas possíveis vidas.
Abandonei o corpo na sala do museu e entrei no quadro. Queria ver o futuro, não o meu, mas o que espera as próximas gerações. No fundo, para saber quantos filhos devemos ter. Mais, menos, ou nenhum se o futuro for assim tão mau. Mas não consegui ver nada. Teria de procurar a resposta fora do quadro.
Acordei com o choro de um bébé e vi que estava arrepiado. A batalha para obter resposta estava longe de ter fim.

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