sexta-feira, 19 de maio de 2017

As lágrimas de uma Estátua




As Lágrimas

As minhas lágrimas também são salgadas
E temperam-me cada vez que aparecem
Provocadas pelo arrepiar da carne
Perante o encontro do espírito.

As minhas lágrimas escorregam
Para dentro das cavernas profundas
Onde encontro o meu ser
Brincando com o teu.

As minhas lágrimas fecundam
O deserto em que passeio
Dando vida ao camaleão
Que atravessa
Anónimo
Os pensamentos alheios.

 

 

A Estátua

Vejo-te em qualquer museu.
Incompleta todavia,
Pois, enquanto houver artistas
Ao longo dos tempos,
Nunca serás estátua acabada.

Vejo-te em qualquer museu
E procuro insinuar-me na Razão,
Perigosamente abanando a Vontade
Assente nos alicerces altruístas,
Plantados no chão egoísta.

Vejo-te em qualquer museu,
Deixando-me conduzir pelo prazer
De te comparar.
Quantas estátuas vestidas de seda
Murmuram a sua infelicidade
No falso consolo dos beijos frios!
E tu, estátua de mármore branco,
Derretendo-se, na felicidade luxuosa
De possuir alma.
Irradiando o calor que me atrai
A qualquer museu.


Basquiat, dustheads

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