quinta-feira, 18 de maio de 2017

Quando escrevo


quando escrevo, visito-me solenemente
F Pessoa in Livro do Desassossego


A almofada

Às vezes durmo agarrado à minha almofada
Na esperança
De que ela seja uma tábua de salvação, e,
No silêncio frio
Das águas geladas
Das minhas ansiedades,
Ela me arraste para longe do desespero
Para bem perto de um sol
Capaz de derreter o gelo que me enclausura.

Às vezes durmo agarrado à minha almofada
Na procura incansável
De um sol
Que provoque a fusão
Entre o sonho e a realidade.
 
Não posso cansar-me.
Senão,  asfixio na minha almofada.
 


O silêncio

 
Sei e
sinto
Que estás sempre comigo.
E contudo, faz muito tempo que não te vejo.
Fisicamente.
Excepto quando fecho os olhos
E o universo todo pára.
 
Acontece o silêncio absoluto
E é nele que eu, de olhos fechados, te vejo
Fisicamente.
Então, embalado  pelo sereno desespero
Deste abençoado sofrimento
Deixo-me adormecer
No teu cheiro.
 

 

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