quarta-feira, 17 de maio de 2017

Como o tempo passa...


Ontem escrevi este poema... Ontem? Não, foi numa época em que tive tempo para me alimentar das minhas palavras. Depois, a absorção dos dias que passam inexoravelmente, e nos transportam, sem que demos por isso, para os dias do fim.


Porquê

Escrevo pelo prazer de falar comigo.
Escrevo também porque tenho fome.
Preciso de me alimentar da sensação de saber
Que alguém me irá ler
Porventura ler bocados de mim.
Corro conscientemente este perigo
De ser dilacerado.
Sem medos.
Quem sabe, quantas cumplicidades adivinhadas
Se escondem nas consequências desta escrita...

Então, escrevo!
Escrevo porque acredito que alguém irá
Nesta escrita
Encontrar-se a si próprio. 
Sem medos.

Escrevo sem armadilhas
Mostrando-me na nudez da minha complexidade.
Evidenciando os bocados que consigo encontrar em mim
Em resultado de um acumular de pesquisas solitárias.

Escrevo agora!
Agora, que sinto prazer em partilhar
Escrevo para que os meus bocados sejam recolhidos
Por alguém
Que possua a arte de os juntar
A si próprio.

 
Mário Cesariny, Dias que voam

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