segunda-feira, 12 de junho de 2017

A Lua - Alquimia - Puzzle







A Lua

 
O Menino pulava e esticava os bracitos
Lá em cima, muito alta, a Lua sorria
Iluminando quem a via e quem a ignorava.

E o Menino gritava com alegria ingénua:
Quero a Lua, dêem-me a Lua
E quero um tostão,
Para rebuçados.
Carinhosa, a Mãe explicava-lhe
Um tostão não vale nada
E a Lua está tão longe,
Aqui tens rebuçados.

Sem pestanejar, o Menino insistia
Não Mãe, eu não quero a Lua aqui
Eu quero ir para a Lua
E levar rebuçados de tostão.

A Mãe ria a bom rir, querido Filho
Então deixavas aqui a Mãe
Que nunca mais te via
Nem te dava rebuçados.

De braços tão abertos quanto o seu sorriso
O Menino agarrou-se à Mãe
Derretendo-a com o calor do seu amor.

Ó Mãe, tu derretes-te como um rebuçado
De tostão, tal como eu sempre quis.
Então, não vês que a Lua não existe.

 

 
Alquimia

 
Julgava eu que o desejo
Infinitamente consumidor
Dos nossos dois seres
Era um processo químico.

Completo engano, pois sei agora
De sábia sabedoria
Que é antes alquimia
Nunca, por nunca, acabada.

Aprendemos a correr fora do nosso corpo
Ao encontro um do outro
Construindo a materialização
Que nos justifica, dia após noite.

Viciámo-nos na infindável absorção
Da força da respiração de cada um
Construindo a materialização
Que nos justifica, noite após dia.

 
 

O Puzzle

 
A criança decide brincar
E sem dar por isso,
                                   cresce.

Um dia, decide parar
E observar a sofreguidão
                                   da sua respiração.

Senta-se numa sala sem luz
E começa a ver o filme
                                   da sua vida.

As primeiras imagens, são as mais recentes
E a sua cor cinzenta
                                   desaponta.

Sucede-se uma vertiginosa aceleração
E encontra os fotogramas nas cores vivas
                                   da sua infância.

Agora, sem pressa, concentra-se
E encontra a criança que um dia
                                   decidiu brincar.

A criança que cresceu,
                                   como um puzzle
E que hoje, decidiu parar.

Por ter sentido que faltava
                                   uma peça,
E que essa peça seria o seu nirvana.

Mas que, depois de revisitar a sua vida
E de recordar todas as imagens passadas,

Sentiu o peso insuportável da frustração
E o vazio de uma vida por preencher.

Afinal, não lhe faltava só uma peça.
É que todas as outras estavam erradas.

Recomeçar?
E porque não?
É vital viver,
E para viver há que brincar.
E sonhar.
E rir.
E partilhar.

Assim se constrói o puzzle.


E Hopper, eleven am.

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