segunda-feira, 26 de junho de 2017

A Rosa - A Manhã - A Ternura




A Rosa

 
O amor às escuras tropeça
Sem faro e cego
Percorre caminhos secretos
Sem pétalas
Tacteia na memória e no sonho
Sem adormecer

O amor torna-se longínquo
Sem verão e sem primavera
Abandona-se à intempérie
Sem chuva ou sol
Cravejado de espinhos
Sem sangue ou dor

O amor não tem feridas
É uma rosa que não se vê
Com pétalas que são caminhos
Onde se atravessam espinhos

A menos que este choro
Da minha alma
Seja de dor
E estas lágrimas
No meu peito
Sejam sangue
E a rosa sejas tu.

 

 


A Manhã

 
A manhã parece subir
Mas é engano sem ser feitiço
De facto, desce cada vez mais
Enterrando as trevas sob os seus pés
Empoleirada nos meus ombros
Às cavalitas da minha perplexidade
 
Eu não quero esta manhã!
Nem mais uma manhã!

Para onde vai o meu querer
Tão frágil, todo ele feito de sonhos
Esfumados todas as manhãs
Evaporados no enterro de cada noite
Destruídos por esta manhã
E por todas as que se lhe seguem
 
Eu não quero esta manhã!
Nem mais uma manhã!

E a manhã tomou a forma do rio
Onde não me quero afogar
E desenhou a montanha
Onde não me quero perder
Não quero ter a certeza
De que amanhã haverá outra manhã.

 

  

A Ternura

 
A ternura é desejo que desaba
É solfejo que desafina
Já não procuro nos desencontros
Ternura igual à dos meus sonhos.

Olho as tuas fotografias amarelecidas
Vítimas do tempo sussurradamente eterno
Mostram-me o mundo que me é externo
Castigam-me com a memória do que me é interno
E deixam-me o sabor faminto de cada teu gesto terno.
 
Já não procuro nos desencontros
Ternura igual à dos meus sonhos
Busco antes os sonhos
E não os encontro.



C. Brown, girl on the swing
 

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