quinta-feira, 22 de junho de 2017

e-vida - A Armadilha - Rir - O Poço - Bom Dia! - Os Vales



e-vida.com

 
Nova economia me matas
Com tecnologia de hipnose;
Vejo milhões de qualquer coisa
Pessoas, dinheiro, vitórias, frustrações;
Informação não assimilável
Despejada, reinventada;
Porta aberta ao egoísmo partilhado
Porta fechada à cristalização;
Túnel de vento em turbilhão
Presídio por onde passarão
Pessoas em busca de libertação.

 

 
A Armadilha

 
Caí na armadilha do tempo,
Prisioneiro do faz de conta,
Aventureiro do fingir.
 
Busco o meu passado
À luz do meu presente
Para projectar o meu futuro.

Encontro jogos e ficções,
Ornamentos sem substância
Falta-me a alma.

Caí na armadilha do tempo
Como cai qualquer maquinismo,
Sem consciência da perda da alma.

Os sentimentos asfixiados
Procuram uma abertura para respirar
Um buraco no tempo.

Vou possuir este buraco no tempo
Atravessando o hímen da indiferença
Renascendo com a penetração.

Uso-o com um alívio do tamanho do mundo
Vou atravessá-lo rumo à minha alma
Libertar-me desta armadilha.

 
 
Rir

 
O riso é uma tábua de salvação
Que queremos apanhar neste mar de revolta
Espólio do naufrágio lento do nosso íntimo.

O riso convulsivamente desejado
Balança entre a fé e a esperança
Agarrando-se tenazmente à cruz do martírio.

Rir é vomitar heranças do bem e do mal
Num alívio envergonhado e balofo
De felicidade disfarçada.

Rir é também afastar a morte
Dizer não ao cinzentismo
Dizer sim à sensibilidade racional.

Rir pode ser quebrar algemas enferrujadas
Gritar, cantar, falar, murmurar alegria
Acordar da sonolência fatal.

Rir, sem amarras, por amar
É encontrar deus e os anjos
Em conversas de prazer.

 

 
O Poço

 
O poço recebe as rejeições do mundo
Nele caem as carícias indiferentes
Para ele vertem outras indiferenças
Pelas suas paredes escorrem mágoas
No seu interior só entra um outono
Cujas matizes, a pouco e pouco, enegrecem.

De vez em quando, visito o poço
Não por que queira ou seja atraído
Mas porque vou, numa nuvem, atrás de ti
Levo o sol numa mão e a lua na outra
Sopro-te sonhos e risos, até ficares despenteada,
E com uma mão tua no poço, me enviares a outra
                                                                 para mim.

 

 

Bom Dia!

 
Bom Dia!
Dormi, acordado contigo, com
Uma saudade em forma de lágrima,
A saudade que cavalga um desejo
Transparente como uma lágrima.

Acordei, adormecido contigo, com
Um prazer de soltar lágrimas
Há demasiado tempo retidas
Bom Dia!
Diz-me... não, não me digas
Quanto tempo leva uma lágrima a secar.

As minhas mãos abraçam-se nas tuas
Os meus olhos brincam com os teus;
Bom Dia!
Sim, tenho os olhos brilhantes
É da tua luminosidade.
Dentro de mim as lágrimas não secam.

 

 
 
Os Vales

 
Os meus olhos passeiam pelo rio
Mas perdem-se nas paisagens da tua carne;
Os meus ouvidos recebem o silêncio destes vales
Mas não perdem a doce sonoridade da tua respiração.

De noite a tua boca engole-me
Com a planície por testemunha;
O amor sobrevive à noite
E adormecemos à sombra como pássaros.

Vou-te confessar este segredo
Tão secreto que só tu o conheces
Regresso vezes sem conta aos vales
Só para te ouvir respirar.

 

FL Wright

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